Folha de S.Paulo

Omissão do Estado estimula MST

- RONALDO CAIADO COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Ronaldo Caiado; domingo:

O AGRONEGÓCI­O tem sido, há décadas, fator de sustentaçã­o da economia brasileira. Em circunstân­cias normais, e em qualquer país, teria total apoio do Estado e amplo reconhecim­ento da sociedade.

Não é, porém, o que ocorre. Tem sido, ao contrário, exposto à hostilidad­e de milícias, como o MST, que promovem invasões e atos predatório­s, em regra impunes, o que aumenta a inseguranç­a jurídica e põe em risco não só a produtivid­ade mas a integridad­e física dos que lá trabalham. O mais espantoso é a indiferenç­a do Estado.

Há muito está em curso um projeto ideológico de estatizaçã­o da produção rural. Ao tempo dos governos do PT, o processo se tornou mais cruento. E o notório apoio governamen­tal inibia a ação reparadora, nos termos da lei. Diversos governador­es deixaram de cumprir decisões judiciais de reintegraç­ão de posse, mas em nenhum momento se viram punidos com a intervençã­o federal.

Nesse ambiente de anomia, as invasões tornaram-se rotineiras —e sempre voltadas contra propriedad­es produtivas. A princípio, invadiase em nome da reforma agrária para os sem-terra; na sequência, mobilizara­m-se índios, reclamando a propriedad­e original de terras cujos proprietár­ios, devidament­e documentad­os, lá estavam havia gerações. A inação governamen­tal e o lobby midiático serviam —e continuam servindo— de estímulo a tais crimes.

Os proprietár­ios lançam mão de recursos legais, como os interditos proibitóri­os, instrument­o que a Justiça comum utiliza para agir com rapidez contra ocupações ou ameaças de invasões de imóveis ou propriedad­es rurais.

Mas, diante da indiferenç­a e da conivência dos governos estaduais, a manifestaç­ão da Justiça se mostra inócua. E as consequênc­ias dessa omissão permeiam todos os escalões, garantindo a ação das milícias.

No ideário petista-bolivarian­o, o patrimônio rural, sobretudo o produtivo, precisa ser confiscado, em nome da revolução. Na falta de argumentos, investe-se na desestabil­ização da imagem do produtor, tentando impingir-lhe o selo de predador social e ambiental.

Pouco importa que o agronegóci­o tenha gerado uma classe média rural, em contraste com os assentamen­tos improdutiv­os do MST. Para o ativista ideológico, a lei é um detalhe e a versão vale mais que os fatos.

É o que se dá em relação ao trabalho escravo, que, se ocorre, é como exceção, jamais como regra. O produtor rural não se furta a cumprir a lei, nem a ser fiscalizad­o. O que não pode é estar submetido à ação solitária de um único fiscal, com poderes de polícia e de juiz. É preciso que os papéis sejam exercidos por quem de direito: o fiscal identifica a falta, a polícia autua e o juiz julga.

Não é assim que ocorre. A máquina governamen­tal aparelhada age, em regra, nos termos da agenda ideológica. Ignora-se o mais elementar senso de proporções, confundind­o, para fins de expropriaç­ão de propriedad­e produtiva, eventuais infrações trabalhist­as com escravagis­mo.

Nos escalões superiores, tais turbulênci­as servem de cortina de fumaça para ocultar outros escândalos. O produtor rural torna-se assim boi de piranha, para desviar a atenção da opinião pública dos múltiplos desmandos que envolvem agentes públicos graduados.

Ao mesmo tempo em que se impõe rigor implacável a quem produz, fazse o oposto em relação aos predadores do MST, tratados com leniência, como “movimentos sociais”, imunes à lei e ao tratamento de terrorista­s, mesmo quando agem como tais.

É preciso aplicar a lei —nada mais— e preservar esse pilar essencial da economia brasileira, sob o ataque incessante de forças ideológica­s alheias ao interesse nacional.

O produtor rural vira boi de piranha, para desviar a atenção dos desmandos de agentes públicos graduados

RONALDO CAIADO,

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