Folha de S.Paulo

Empresas buscam seguro contra assédio

Sucessão de escândalos nos EUA movimenta mercado, com companhias gastando US$ 2,2 bilhões em apólices

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Organizaçõ­es de defesa da mulher e advogados afirmam que adoção da prática pode ajudar a perpetuar abusos

As empresas americanas estão elevando dramaticam­ente sua cobertura de seguros contra queixas por assédio sexual, nos últimos anos, após uma sucessão de escândalos notórios (o do produtor de cinema Harvey Weinstein é um exemplo), como parte de seus esforços contra o risco crescente de delitos de conduta no lugar de trabalho.

Os seguros contra responsabi­lidade judicial por práticas de emprego (EPLI, na sigla em inglês), que cobrem companhias em caso de acusações por assédio sexual, discrimina­ção racial ou demissão indevida, vêm avançando rapidament­e nos últimos dez anos.

Mas advogados e algumas organizaçõ­es de defesa da mulher dizem que essas apólices, que cobrem empresas e executivos contra processos judiciais que podem acarretar altos gastos e perda de reputação, também podem ajudar a perpetuar os abusos, ao permitir que as empresas evitem confrontar seus problemas de forma direta.

“Os pagamentos de indenizaçã­o podem oferecer alguma assistênci­a financeira e paz de espírito, para as pessoas envolvidas, mas criam uma cultura de silêncio ainda mais forte”, diz Kim Churches, presidente-executiva da Associação Americana de Mulheres Universitá­rias.

“Os acordos não só proíbem que as vítimas se pronunciem como significam que não encorajemo­s colegas a reagir a linguagem sexista ou assédio, denunciand­o essas coisas na hora”.

No ano passado, companhias americanas gastaram US$ 2,2 bilhões com apólices de seguro que cobrem as consequênc­ias jurídicas de assédio sexual, discrimina­ção racial e demissão indevida. O mercado deve crescer a US$ 2,7 bilhões em 2019, segundo a consultori­a MarketStan­ce.

Isso é uma fração do que empresas gastam com seguros contra imperícia médica, mas especialis­tas do setor dizem que os seguros EPLI estão ganhando cada vez mais atenção e que seu maior cresciment­o acontece nas pequenas e médias empresas, hoje.

Cerca de 41% das empresas com mais de mil trabalhado­res reportaram contar com alguma forma de seguro para casos de assédio sexual e discrimina­ção, de acordo com a MarketStan­ce.

Cerca de um terço das empresas com ao menos 500 funcionári­os conta com cobertura desse tipo, disse Yohn, ainda que essa forma de seguro continue a ser pouco comum nas start-ups. Só 3% das empresas com menos de 50 funcionári­os dispõem desse tipo de cobertura.

Não se sabe quantas queixas são resolvidas por meio do seguro a cada ano ou a escala de indenizaçã­o às mulheres vítimas de assédio sexual. Quase todos os acordos vêm acompanhad­os por cláusulas de confidenci­alidade, dizem os advogados. PAULO MIGLIACCI

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