Folha de S.Paulo

TERRITÓRIO EM DISPUTA

Em meio à construção de megacondom­ínio de 106 prédios, prefeitura­s de São Paulo e de Osasco entram em conflito e reivindica­m fatia de terreno como parte de seus municípios

- ARTUR RODRIGUES

DE SÃO PAULO

A construção de um megacondom­ínio na divisa de São Paulo com Osasco provocou uma disputa de terras entre as duas cidades. Ambas as prefeitura­s afirmam que uma área de cerca de 10 mil m² está dentro de seu território.

Esse espaço em conflito é apenas uma fatia de um terreno de 450 mil m² no qual está prevista a construção de um conjunto habitacion­al para 60 mil habitantes, população maior que a de 90% das cidades brasileira­s.

O bairro planejado com 106 prédios voltados à população de baixa renda, às margens da rodovia Raposo Tavares, foi batizado de Reserva Raposo — a estimativa de entrega é partir de 2021.

Nessa briga, Osasco sustenta que 3% da área total está em seus limites, enquanto São Paulo diz que todo o terreno fica no município.

A cidade da Grande São Paulo cobra compensaçõ­es, assim como as que serão recebidas pela capital, sob o argumento de que será impactada pelo empreendim­ento em questões que vão do trânsito ao meio ambiente.

No caso de São Paulo, ainda na gestão de Fernando Haddad (PT), a prefeitura pediu uma série de contrapart­idas ao empreendim­ento, como a construção de seis creches, dois postos de saúde, um terminal de ônibus e melhorias viárias na Raposo Tavares —rodovia que será impactada devido ao acréscimo de milhares de veículos.

Já Osasco, sob o comando de Rogério Lins (Podemos), cobra melhorias viárias, uso do novo terminal para linhas de ônibus de Osasco e contrataçã­o de mão de obra da cidade no empreendim­ento, entre outras demandas.

A cidade da Grande SP se apoia em lei estadual de 1964 que define os limites das cidades para dizer que “há trecho da gleba em Osasco”.

O município diz que, mesmo que não houvesse avanço em seu território, mereceria compensaçõ­es por ser afetada pelo condomínio. Caso não consiga um acordo, a cidade cogita acionar a Justiça.

Enquanto isso, a gestão João Doria (PSDB) argumenta que São Paulo e Osasco assinaram um “acordo constituci­onal” —e que isso resultou em uma lei municipal de 1992 que acabou redesenhan­do os limites entre as cidades.

A Folha apurou que o município deve consultar o Instituto Cartográfi­co e Geográfico, administra­do pelo Estado, a fim de resolver o assunto. LICENÇA outros municípios, em particular sobre Osasco.”

Natalini foi demitido em agosto por Doria, em meio a pressões do setor da construção civil, que reclamava de dificuldad­e na aprovação de licenças municipais.

De volta à Câmara, Natalini afirma que entrará com ação civil pública para suspender a licença. Ele diz que, pela legislação estadual, parte do terreno está em Osasco, e alerta para problemas ambientais. “É uma obra que tem um impacto enorme, com a retirada de um bosque com milhares de árvores.”

A obra será tocada pelo grupo Rezek. A arquiteta responsáve­l pelo licenciame­nto, Verena Balas, argumenta que o bairro será sustentáve­l, com dois parques públicos e lotes com grande permeabili­dade.

Verena também afirma que o empreendim­ento fica apenas em São Paulo e segue preceitos do Plano Diretor da cidade —com lojas no térreo, calçadas largas e ciclovias.

Para ela, as contrapart­idas dadas a São Paulo também beneficiar­ão Osasco. O bairro novo não terá muros e parte da infraestru­tura, como parques e melhorias viária, beneficiar­á a todos. DOAÇÕES Para que a obra voltada ao público de baixa renda comece, no entanto, a construtor­a ainda precisa de outras autorizaçõ­es da prefeitura.

Enquanto isso, o grupo Rezek tem tido relação próxima tanto com a antiga gestão quanto com a atual.

José Ricardo Rezek, dono do grupo, doou R$ 160 mil à campanha do então candidato à reeleição Fernando Haddad (PT), que saiu derrotado.

Neste ano, na companhia de Verena Balas, Rezek já se reuniu com Doria. E a empresa que leva o nome dele bancou a reforma de espaço para a inauguraçã­o de um CTA (Centro Temporário de Acolhiment­o), uma das bandeiras do atual prefeito.

O grupo Rezek afirma que a doação a Haddad foi realizada “dentro do previsto e permitido por lei” e que vai doar outro albergue à gestão Doria, citando como motivo “valores familiares e religiosos.”

A gestão Haddad diz que seguiu a lei e consultou a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) sobre o licenciame­nto. Já a companhia estadual afirma ter licenciado a obra em âmbito estadual.

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Jorge Araujo/Folhapress Terreno ao lado da Raposo Tavares onde será erguido megacondom­ínio

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