Folha de S.Paulo

Militância da literatura pop defende fórmulas, diz editor

Declaração foi dada no seminário Livros em Revista, que acabou na quinta

- MAURÍCIO MEIRELES

Encontro reuniu Paulo Roberto Pires, Damián Tabarovsky e Pedro Mexia, entre outros editores e críticos FOLHA

O debate que reuniu os críticos, editores e escritores Paulo Roberto Pires e Damián Tabarovsky, na tarde desta quinta (30), último dia do seminário Livros em Revista, foi uma discussão sobre a experiment­ação da forma na ficção contemporâ­nea —bem como seus atritos com as demandas de mercado.

O seminário teve a curadoria da revista “Quatro Cinco Um” e do Sesc-SP.

O argentino Tabarovsky, que lança no Brasil o livro “Literatura de Esquerda” (Relicário), em que critica os escritores que se submetem às convenções do mercado e da academia, explicou o conceito que dá título ao livro.

“A literatura de esquerda põe a sintaxe no centro de preocupaçõ­es. Ao escrever uma frase, [pensa] que palavras usamos. Como uma palavra se segue a outra e forma uma frase e como uma frase dá sequência à outra”, afirmou.

Em dado momento, respondend­o a uma pergunta da plateia, os dois discutiram a concepção —defendida por alguns críticos— de que a busca constante por experiment­ar com a linguagem tenha tornado a literatura tão difícil a ponto de afastar os leitores. Para Pires, esse é um tema que tem rondado o debate literário no país.

“Dizem que a literatura não tem êxito de mercado porque é cabeça, experiment­al demais. Há pessoas que militam por uma literatura popular. Mas a literatura popular pela qual se milita é a favor de uma repetição de fórmulas à brasileira”, afirmou.

“É de uma cretinice mortal. É uma discussão anti-intelectua­lista que só faz mal ao debate literário.” REPRESENTA­TIVIDADE A mesa inaugural, na quarta (29), reuniu os editores das principais publicaçõe­s literárias e culturais do país.

Além dos modelos de negócios e linhas editoriais, o principal tema da mesa foi a representa­tividade de minorias em veículos do tipo.

“Recuso-me a publicar algum texto pelo gênero ou pela cor da pessoa. Nunca publiquei nenhum texto por a pessoa ser homem ou mulher ou branca ou negra ou cigana”, disse Bárbara Bulhosa, editora da Tinta da China.

Ela e Rogério Pereira, do jornal “Rascunho”, ficaram no campo oposto dos demais participan­tes. Schneider Carpeggian­i, do “Suplemento Pernambuco”, afirmou não ver tais questões como temas extraliter­ários, enfatizand­o a necessidad­e de buscar novas vozes e promover uma investigaç­ão do presente.

PAULO ROBERTO PIRES

crítico e editor DAMIÁN TABAROVSKY crítico literário

Há pessoas que militam por uma literatura popular. Mas a literatura popular pela qual se milita é a favor de uma repetição de fórmulas à brasileira “

A literatura de esquerda põe a sintaxe no centro de preocupaçõ­es. Ao escrever uma frase, [pensa] que palavras usamos. Como uma palavra se segue a outra e forma uma frase e como uma frase dá sequência à outra “

Recuso-me a publicar algum texto pelo gênero ou cor da pessoa. Nunca publiquei nenhum texto por a pessoa ser homem ou mulher

BÁRBARA BULHOSA

editora

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Fotos Loiro Cunha/Divulgação
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Carol Quintanilh­a/Divulgação
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