Folha de S.Paulo

Vozes femininas se somam em programa que leva o teatro à TV

‘Palavras em Série’ registra contato inicial entre atrizes e textos

- GUSTAVO FIORATTI

O roteirista e diretor Alberto Renault pediu para que as atrizes Andrea Beltrão, Monica Iozzi, Lilia Cabral, Camila Pitanga e Regina Casé aparecesse­m no estúdio levando, de seus próprios guarda-roupas, peças brancas e pretas.

Seriam as cores que elas usariam na criação do programa “Palavras em Séries”, que passa a ser exibido neste sábado (2) no canal GNT.

A série de cinco episódios parte de uma ideia simples como essa escolha cromática: as câmeras registram o processo de leitura de mesa e de encenação de um texto escolhido previament­e, na temperatur­a do primeiro contato.

O diretor considera o projeto mais próximo do que é o processo de criação teatral. Para o experiment­o, Renault trouxe obras de Adélia Prado, Tati Bernardi (colunista da Folha), Ana Cássia Rebelo, Hilda Hilst e Clarice Lispector.

Cada atriz ficou a cargo de uma das autoras —as associaçõe­s podem ser feitas segundo a ordem em que são citadas neste texto. Lilia Cabral, por exemplo, ficou com Ana Cássia, autora que retratou a própria depressão no blog “Ana de Amsterdam”, mais tarde transforma­do em livro.

Cabral inicia o processo questionan­do: “Como vou contar essa história? Não posso contar como a Ana Cássia, porque não sou ela. Ao mesmo tempo, não posso relatar. Também não quero dramatizar. É melhor fazer o público entender o que significa a depressão, a insatisfaç­ão, do que representa­r a depressão”.

Para a atriz, “as palavras é que criam modulações”. “Tem coisa que nem precisa fazer esforço. Se fizer esforço você vai errar”, explica.

Surge então a cena, e a personagem diz que embirra com psiquiatra­s, prevendo sempre que terá, na sessão médica, de “resumir a tristeza e a solidão em frases contidas.”

Lilia faz uma interpreta­ção pessoal do trecho: “A sensação que da é que todos os dias são os mesmos e para que seja mudado é preciso ter iniciativa. Mas ela não tem vontade e não se sente capaz de mudar aquela situação. Isso você vê nas mulher do Brasil, da América do Sul, do Norte, da Europa. É tão universal”.

Com o trabalho, o diretor considera que compôs um mosaico de escolhas pessoais e subjetivas. “A partir do meu gosto e do meu interesse, vislumbro a cena a partir dessas falas, procurando sentir potência cênica nesses textos que, em princípio, não são dramaturgi­a”, detalha Renault.

Nada contra o feminismo, ressalta, mas o projeto tem outra natureza, “mais estética”, com “uma afinação orquestral”. Renault considera uma segunda temporada do projeto, só com homens. NA TV Palavras em Série sáb., às 23h15, no GNT

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Clara Cosentino/Divulgação Alberto Renault e Andrea Beltrão debatem Adélia Prado no programa que estreia na GNT

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