Vozes femininas se somam em programa que leva o teatro à TV
‘Palavras em Série’ registra contato inicial entre atrizes e textos
O roteirista e diretor Alberto Renault pediu para que as atrizes Andrea Beltrão, Monica Iozzi, Lilia Cabral, Camila Pitanga e Regina Casé aparecessem no estúdio levando, de seus próprios guarda-roupas, peças brancas e pretas.
Seriam as cores que elas usariam na criação do programa “Palavras em Séries”, que passa a ser exibido neste sábado (2) no canal GNT.
A série de cinco episódios parte de uma ideia simples como essa escolha cromática: as câmeras registram o processo de leitura de mesa e de encenação de um texto escolhido previamente, na temperatura do primeiro contato.
O diretor considera o projeto mais próximo do que é o processo de criação teatral. Para o experimento, Renault trouxe obras de Adélia Prado, Tati Bernardi (colunista da Folha), Ana Cássia Rebelo, Hilda Hilst e Clarice Lispector.
Cada atriz ficou a cargo de uma das autoras —as associações podem ser feitas segundo a ordem em que são citadas neste texto. Lilia Cabral, por exemplo, ficou com Ana Cássia, autora que retratou a própria depressão no blog “Ana de Amsterdam”, mais tarde transformado em livro.
Cabral inicia o processo questionando: “Como vou contar essa história? Não posso contar como a Ana Cássia, porque não sou ela. Ao mesmo tempo, não posso relatar. Também não quero dramatizar. É melhor fazer o público entender o que significa a depressão, a insatisfação, do que representar a depressão”.
Para a atriz, “as palavras é que criam modulações”. “Tem coisa que nem precisa fazer esforço. Se fizer esforço você vai errar”, explica.
Surge então a cena, e a personagem diz que embirra com psiquiatras, prevendo sempre que terá, na sessão médica, de “resumir a tristeza e a solidão em frases contidas.”
Lilia faz uma interpretação pessoal do trecho: “A sensação que da é que todos os dias são os mesmos e para que seja mudado é preciso ter iniciativa. Mas ela não tem vontade e não se sente capaz de mudar aquela situação. Isso você vê nas mulher do Brasil, da América do Sul, do Norte, da Europa. É tão universal”.
Com o trabalho, o diretor considera que compôs um mosaico de escolhas pessoais e subjetivas. “A partir do meu gosto e do meu interesse, vislumbro a cena a partir dessas falas, procurando sentir potência cênica nesses textos que, em princípio, não são dramaturgia”, detalha Renault.
Nada contra o feminismo, ressalta, mas o projeto tem outra natureza, “mais estética”, com “uma afinação orquestral”. Renault considera uma segunda temporada do projeto, só com homens. NA TV Palavras em Série sáb., às 23h15, no GNT