Lula, Bolsonaro e o PIB
Eleitor, segundo o Datafolha, ainda não sente impacto da recuperação econômica, que se acelerada tende a favorecer nomes ao centro em 2018
Os sinais cada vez mais consistentes de que a economia voltou a crescer ainda parecem insuficientes para convencer os eleitores de que a dolorosa recessão atravessadapelopaísficoumesmoparatrás.
O pessimismo segue dominante na opinião pública, de acordo com o novo levantamento do Datafolha. Para 61% da população, a situação econômica do país continuou piorando nos últimos meses. Somente 27% apostam em alguma melhora daqui para a frente.
Os números ajudam a entender a impopularidade do governo Michel Temer (PMDB) e a força eleitoral exibida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que se mantém na liderança da corrida presidencial, com vantagem significativasobreseusprincipaisrivais.
Comodesempregoaindaempatamares elevados e sem conseguir enxergar razões para otimismo, é natural que muitos eleitores se lembrem com generosidade do petista, associando-o ao crescimento acelerado que marcou os últimos anos de seu governo, e não ao desastre que sobreveio quando esse ritmo se revelou insustentável.
Lula aparece à frente dos adversários em todos os cenários considerados pelo Datafolha para a disputaeleitoraldopróximoano,com pelo menos 36% das intenções de voto. Seu favoritismo se mantém nas várias simulações de segundo turno, apesar do enorme desgaste causado pelos processos que ele enfrenta na Justiça —e que ameaçam impedi-lo de se candidatar.
O deputado Jair Bolsonaro (PSCRJ), que hoje aparece como segundo colocado na corrida, alcança seus melhores índices justamente em estratos do eleitorado que foram mais atingidos pela recessão, como os jovens de 16 a 24 anos. Nos cenários em que Lula está fora da disputa, Bolsonaro soma 33% das intenções de voto nessa faixa.
Parece provável que a recuperação da economia no próximo ano dê impulso a candidaturas de perfil mais moderado. Mas não há sinais, ao menos até agora, de uma retomada vigorosa a ponto de conferir favoritismo a uma chapa que ocupe o centro do espectro político e se distancie do discurso populista favorecido até agora.
Como indicam as dificuldades enfrentadaspelogovernoparaconvencer seus aliados no Congresso a aprovar a reforma da Previdência Social, será complexo apresentar ao eleitorado uma plataforma de ajustes orçamentários.
Mas a incerteza sobre a economia —que tende a crescer se o desequilíbrionascontaspúblicasnão for corrigido— também alimentará pressões para que os candidatos se afastem do caminho fácil da demagogiaeofereçamalternativas que inspirem confiança em empresários e consumidores. BRASÍLIA