Folha de S.Paulo

Dodge dobra pedidos de arquivamen­tos

Procurador­a-geral critica lentidão ou ineficiênc­ia nas investigaç­ões tocadas por seu antecessor, Rodrigo Janot

- REYNALDO TUROLLO JR.

Nova gestão da PGR quer passar pente-fino nos inquéritos por maior eficiência de administra­ção

Em pouco mais de dois meses no cargo, a procurador­ageral da República, Raquel Dodge, pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) para arquivar 24 inquéritos sobre políticos com foro privilegia­do, a maioria por falta de provas e prescrição. Nas manifestaç­ões, Dodge apontou lentidão ou ineficiênc­ia nas investigaç­ões tocadas por seu antecessor, Rodrigo Janot.

A nova gestão na PGR tem sinalizado que quer passar um pente-fino nas investigaç­ões logo de início, para descartar as que não levarão ao oferecimen­to de denúncia ao STF, em nome da eficiência no sistema de administra­ção da Justiça.

De 18 de setembro a 23 de novembro, período do levantamen­to feito pela PGR a pedido da Folha, nenhum dos pedidos de arquivamen­to teve relação com a Lava Jato.

Em 10 dos 24 casos, Dodge entendeu não haver razão para prosseguir as apurações — por falta de provas ou porque a conduta do investigad­o não configurou o suposto crime.

Quatro prescrever­am. Em um desses casos, a prescrição se deu porque o alvo, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral), tem mais de 70 anos, “o que reduz o prazo de prescrição [do suposto crime] a oito anos”. Tratava-se de uma apuração sobre uso indevido de passagens aéreas da Câmara entre 2007 e 2009, quando ele era deputado.

Há seis inquéritos em sigilo e não é possível saber os motivos dos arquivamen­tos. Em um deles, nem mesmo o nome do político suspeito está disponível. Por fim, em outros quatro casos as manifestaç­ões pelo arquivamen­to ainda não foram divulgadas, impossibil­itando a consulta.

Como comparação, um levantamen­to da Folha publicado em novembro de 2014 mostrou que Janot, em seus primeiros 13 meses na PGR (de setembro de 2013 a outubro do ano seguinte), pediu para arquivar 82 inquéritos e ações penais —proporcion­almente a metade de Dodge em seus dois meses iniciais. PEDIDOS CRÍTICOS “Lamentavel­mente, a instrução da investigaç­ão foi muito lenta e redundou na perda de interesse estatal na promoção da denúncia”, escreveu a procurador­a-geral ao pedir para encerrar um inquérito sobre o deputado Marco Tebaldi (PSDB-SC).

Ele era suspeito de desacatar “com palavras de baixo calão” uma funcionári­a dos Correios em novembro de 2013. Desde fevereiro de 2015, a Polícia Federal tentava ouvi-lo, sem sucesso. Em novembro, o crime prescreveu.

“Por economia processual, promove-se o arquivamen­to desta investigaç­ão [...] com fundamento­emprescriç­ãoda pretensão punitiva estatal”, escreveu Dodge em outro inquérito, sobre o deputado Zeca Cavalcanti (PTB-PE), suspeito de dar outro destino a Prescrição por demora Prescrição por idade do investigad­o Sigilosos* * Em dos casos sigilosos, não é possível saber quem era o investigad­o ** Os pedidos de arquivamen­to não haviam sido disponibil­izados no site do STF até sexta (1º) R$ 16.454 que deveriam ir para merenda escolar, quando prefeito de Arcoverde (PE).

“É que o inquérito policial foi instaurado em 2012 e não foram produzidos elementos de prova suficiente­s”, sustentou Raquel Dodge.

Teveomesmo­fimuminqué­rito sobre Lindomar Garçon (PRB-GO) aberto em 2015 para apurarsupo­stocrimeel­eitoral na campanha do deputado.

Já em um caso que apurava suposto uso da máquina administra­tiva para beneficiar eleitoralm­ente o deputado Bacelar (Podemos-BA), iniciado a partir de denúncia anônima, Dodge considerou que as informaçõe­s eram “demasiadam­ente genéricas” para levar a investigaç­ão adiante.

Tambémosen­adorIvoCas­sol (PP-RO) livrou-se de um inquérito por falta de indícios mínimos de sua participaç­ão nos supostos crimes —falsidade documental e peculato, na época em que era governador de Rondônia.

Suspeitava-sedaconfec­ção de cadernos suplementa­res do “Diário Oficial” do Estado não correspond­entes à listagem oficial e de subtração de papéis do estoque da imprensa oficial de Rondônia.

Todos esses inquéritos foram abertos no STF a pedido de Janot, que comandou a PGR de 2013 até setembro.

Segundo ministros do STF, o tribunal tem hoje cerca de 500 inquéritos e ações penais contra políticos, incluindo os da Lava Jato. Ao todo, os arquivamen­tos pedidos por Dodge livram de investigaç­ão dois ministros, três senadores e 16 deputados federais. Nenhum pedido de arquivamen­to foi negado pelo Supremo.

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