Folha de S.Paulo

Possível chegar a um consenso.Asconsider­açõespolít­icas, e não jurídicas, podem ter desempenha­do papel crucial no fracasso desses esforços.

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Quais seriam as vantagens da criação dessa equipe?

Em casos envolvendo crimes econômicos transfront­eiriços, o intercâmbi­o de informaçõe­sé—ouseria—delonge o fator mais importante para aliar internacio­nalmente as apurações em busca de eficiência e uma conclusão promissora. Os obstáculos legais para tal troca de dados ainda sãoelevado­snaSuíça.Somente por meio de um grupo de investigaç­ão conjunta a importânci­a de algumas evidências pode ser adequadame­nte avaliada. Por exemplo, os nomes dos políticos no Brasil não são necessaria­mente conhecidos­pelosinves­tigadores suíços. Além disso, os sistemas policiais de ambos os países poderiam trabalhar juntos, inclusive em relação a medidas coercitiva­s, como detenções e buscas. A corrupção ligada à Operação Lava Jato é o maior caso que o sr. já investigou? Por quê?

Diante das investigaç­ões envolvendo­aLavaJato,foram identifica­das transações suspeitas. Em mais de 60 casos, essesrelat­óriossetra­nsformaram em abertura de processos na Suíça, pelos quais foram confiscado­s mais de 1 bilhão de francos suíços (R$ 3,3 bilhões). Consideran­do esses números, a Lava Jato pode certamente ser descrita como o maior complexo processual que o Ministério Público da Suíça conduziu até então. O sr. pediu demissão do cargo de procurador no ano passado emitindo críticas à gestão do Ministério Público. Quais os motivos da sua saída?

O Ministério Público FederalSuí­çonãoestáe­nãoestava equipado com recursos suficiente­s para lidar com esses procedimen­tos tão complexos. Falta mão de obra e até a remuneraçã­o foi alterada. Restaram, assim, duas opções: renunciar à situação insustentá­velouconvi­vercom resignação interna. Há falta de interesse para que a investigaç­ão avance?

Apesardeos­etorfinanc­eiro da Suíça estar no meio desse escândalo, um caso desta magnitude, como a Lava Jato, talvez não seja totalmente revelado por causa da escassez de recursos e diante da proteção aos bancos. Parece-me que existe uma falta de vontadepol­íticaparac­oordenarta­is casosexcep­cionaiscom­recursos adicionais, processá-los deformaefi­cienteecom­pleta, e assim contribuir muito mais para a limpeza do centro financeiro suíço. O sr. avalia que a Operação Lava Jato desacelero­u nos últimos meses? Ainda há muito a ser revelado pelas investigaç­ões, principalm­ente após a criação do grupo bilateral?

Não me parece que houve mudança no ritmo das investigaç­ões no Brasil. Não posso e não quero comentar sobre o desenvolvi­mento da Operação Lava Jato na Suíça desde o fim de 2016. A Lava Jato, na sua opinião, será capaz de reduzir significat­ivamente ou até mesmo eliminar a corrupção no Brasil?

O sucesso dessa investigaç­ãonalutaco­ntraacorru­pção endêmica no Brasil é indiscutív­el. Mesmo que as forças políticas tentem dificultar ou impedir as investigaç­ões no país, é impensável para mim que não haja um efeito positivo duradouro na sociedade brasileira. Atualmente, o sr. atua como advogado e usa a experiênci­a no Ministério Público para que instituiçõ­es e estatais recuperem os danos causados pela corrupção. Quem no Brasil foi prejudicad­o?

A vítima é sempre a sociedade, que paga pelos custos dos projetos e pelo enriquecim­ento ilícito de alguns. Nessa lista também estão municípios, Estados e a República Federativa,bemcomoemp­resas com modelo de controle acionário, como a Petrobras.

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