Folha de S.Paulo

Recorrênci­a de ataques em Londres estimula paranoia

Paisagem da capital do Reino Unido também foi alterada após atentados

- DANIEL BUARQUE

‘Os londrinos estão um pouco mais alertas. Se isso é coisa boa ou ruim depende do seu ponto de vista’, diz psiquiatra FOLHA,

As imagens aéreas pareciam tiradas de um filme de ficção: em plena Black Friday, no último dia 24, um dos principais­cruzamento­sdocomérci­o de rua de Londres estava vazio, cercado pela polícia.

Relatos de um tiroteio, possível ataque terrorista, geraram pânico e correria na região de Oxford Circus. Um mês antes, um acidente de trânsito em frente ao Museu de História Natural também gerou alertas de possível ataque. Nos dois casos, a preocupaçã­o acabou se revelando exagerada, e não houve confirmaçã­o de atentado.

Durante um ano em que o Reino Unido foi alvo de cinco grandes ataques terrorista­s, com ao menos 35 mortos, Londres vive um clima de preocupaçã­o e alerta que em alguns momentos parece beirar a paranoia.

Boatos de possíveis ataques agora têm potencial de gerar correria e medo, numa cidade que se orgulhava da frieza e da capacidade de continuar a vida normal apesar de ameaças. A segurança se tornou mais ostensiva em Londres, uma realidade completame­nte diferente da que havia na cidade até poucos anos antes.

A sensação de ansiedade agora é visível por todos os lados. Policiais armados com metralhado­ras, uma cena rara até alguns meses atrás, podem ser vistos em estações de trem ou mesmo nas ruas.

Entradas de shows agora têm revista cuidadosa, e algumas casas de espetáculo, como a O2, em Greenwich, não permitem a entrada de mochilas. No Alexandra Palace, que recebe apresentaç­ões de bandas de rock, seguranças escolhiam pessoas do público para passar por revista mais detalhada.

Até mesmo a Winter Wonderland, feira de Natal do Hyde Park que antes era completame­nte aberta, agora tem entradas controlada­s e revista de bolsas dos visitantes. NOVA PAISAGEM A preocupaçã­o também mudou a paisagem londrina. Barreiras de metal e concreto foram instaladas em pontes e entradas de parques e locais com aglomeraçã­o de público —uma tentativa de evitar ataques com veículos, como os registrado­s em Nice, Berlim e Barcelona.

Segundo o psiquiatra Neil Greenberg,entretanto,aideia de que o Reino Unido vive um momento de “medo do terror” é exagero, e o alerta que está ligado pode ser saudável para evitar ataques.

“Os londrinos estão um pouco mais alertas e menos propensos a ignorar suspeitas do que teriam sido há um ano. Se isso é uma coisa boa ou ruim depende do seu ponto de vista”, afirmou à Folha o psiquiatra.

Professor de saúde mental no King’s College de Londres, Greenberg é especializ­ado em temas ligados a trauma e segurança relacionad­os a questões militares e de defesa.

Para ele, é importante distinguir entre uma vigilância elevada, natural após os recentes incidentes como os registrado­s neste ano, e o que ele chama de “medo, hipersensi­bilidade ou ansiedade potencialm­entepatoló­gicos”.

Ele diz acreditar que Londres não está nesse nível preocupant­e. “As pessoas estão indo trabalhar, vão a shows e eventos esportivos, vão às compras”, afirma.

A ressalva do pesquisado­r é um reconhecim­ento de que há uma diferença entre o alerta da população, que continua vivendo normalment­e, e aquele do governo e dos sistemas de segurança do Reino Unido, agindo de forma preventiva para evitar novos ataques terrorista­s.

É o alerta oficial que se percebe na vigilância ostensiva e no esvaziamen­to de locais suspeitos de serem alvos de ataques. A população reage com medo a essas situações, mas no geral continua vivendo normalment­e.

Segundo Greenberg, o melhor caminho para controlar a ansiedade é deixar o tempo passar sem que maiores incidentes voltem a acontecer. Ele ressalta, entretanto, que um certo grau de ansiedade, desde que não seja incapacita­nte, pode não ser uma coisa ruim.

“Os londrinos devem estar vigilantes, pois podem ajudar a prevenir futuros incidentes ou, pelo menos, limitar o impacto deles.”

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Daniel Leal-Olivas - 24.nov.2017/AFP Policiais isolam área após suspeita de ataque em Londres

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