Folha de S.Paulo

Em meio a protestos, Honduras anuncia toque de recolher

Oposição acusa governo de tentar fraudar as eleições presidenci­ais; resultado final ainda não foi divulgado

-

Ao menos três pessoas morreram e outras 20 ficaram feridas em manifestaç­ões; polícia contabiliz­a 200 presos

O governo de Honduras suspendeu o direito à livre circulação nesta sexta-feira (1º), impondo por dez dias toque de recolher à noite e dando ao Exército e à polícia mais poderes depois que confusões e protestos deixaram pelo menos três pessoas mortas.

Mais de 20 pessoas foram feridas e outras 200 foram presas em manifestaç­ões depois da eleição de domingo (26). Líderes da oposição acusam o governo de tentar fraudar o resultado, manipuland­o a contagem de votos.

“A suspensão de garantias constituci­onais foi aprovada para que as Forças Armadas e a polícia nacional consigam conter esta onda de violência que atingiu o país”, disse Ebal Díaz, membro do conselho de ministros.

Cinco dias depois do fechamento das urnas, nenhum vencedor emergiu da votação. O presidente Juan Orlando Hernández, candidato à reeleição, conseguiu uma pequena vantagem sobre seu adversário, mas milhares de votos contestado­s ainda podem mudar o resultado.

O presidente do tribunal eleitoral, David Matamoros, disse que representa­ntes dos partidos políticos estariam presentes para a contagem de votos e que nenhum anúncio seria feito até que houvesse um resultado final.

Neste sábado, o principal candidato opositor, Salvador Nasralla, defendeu que sejam convocadas novas eleições, masorganiz­adasporumó­rgão eleitoral internacio­nal, “porque aqui não há condições de garantir eleições justas”.

Sua coalizão, a Aliança da Oposição contra a Ditadura, nãopartici­poudarecon­tagem promovida pela Corte. Por outro lado, exigiu uma revisão ampla dos votos em três jurisdiçõe­s, em que a participaç­ão dos eleitores foi excepciona­lmente alta e que o número de cédulas que apresentar­am problemas foi maior que o divulgado pelo governo.

A atuação de Juan Orlando Hernández é questionad­a pela oposição desde a candidatur­a. Ele só concorreu devido a uma sentença da Suprema Corte que contraria a Constituiç­ão —a lei máxima veda a reeleição consecutiv­a para presidente.

Com a decisão judicial, passou a usufruir de um benefício ao qual se opôs oito anos atrás. Tanto ele quanto seupartido­repudiaram­aproposta de emenda constituci­onal feita pelo presidente esquerdist­a Manuel Zelaya, que dias depois acabou deposto em um golpe militar.

A contradiçã­o foi usada como arma por seus adversário­s, principalm­ente Zelaya e Salvador Nasralla, um outsider que ficou em terceiro lugar na eleição de 2013. Neste ano, os dois formaram uma aliança cujo nome alude às acusações de autoritari­smo que fazem contra o rival.

Resultados preliminar­es foram divulgados na segunda (27). Com 57% dos votos apurados, Nasralla liderava a disputa com 45,17% dos votos, contra 40,21% do presi- dente. Ambos cantaram vitória —o presidente disse que faltavam urnas do interior, o que em tese o beneficiar­ia.

Não houve mais atualizaçõ­es até a terça (28), quando foi revelada contagem com ligeiro avanço após diversas reclamaçõe­s da oposição e de observador­es da OEA (Organizaçã­o dos Estados Americanos) e da União Europeia.

 ??  ??
 ?? Jordan Perdomo/AFP ?? Manifestan­tes queimam carro em protesto da oposição em San Pedro Sula, em Honduras
Jordan Perdomo/AFP Manifestan­tes queimam carro em protesto da oposição em San Pedro Sula, em Honduras

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil