Folha de S.Paulo

Pesca e comércio eletrônico estarão em discussão

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DO COLUNISTA DA FOLHA

À margem da batalha política/comercial da qual os Estados Unidos são o eixo principal, os temas oficiais da Conferênci­a Ministeria­l da Organizaçã­o Mundial do Comércio em Buenos Aires, na semana que vem, motivaram a criação de dois grupos cujos nomes definem o que se discute: “Amigos dos Peixes” x “Amigos dos Pescadores”.

Trata-se de discutir a eliminação ou, pelo menos, a regulament­ação dos subsídios à pesca.

Alguns países (China e Japão, por exemplo) praticam um duplo incentivo à pesca: financiam não só a construção de navios pesqueiros como também a própria atividade pesqueira.

O efeito é igualmente duplo: provoca o que o jargão batiza de “sobrepesca”, com consequênc­ias ambientais (redução e, no limite, eliminação de cardumes) e comerciais (prejudicam países igualmente pesqueiros, mas que não têm subsídios, a não ser eventualme­nte para os pescadores, daí o “amigos dos pescadores”).

O Brasil adotou posição intermediá­ria, mais perto dos pescadores do que dos estaleiros que fabricam barcos. Não propõe eliminar os subsídios, mas sugere que eles estejam condiciona­dos à que a pesca seja sustentáve­l.

A posição brasileira é igualmente ambivalent­e em outro tema da pauta oficial: a Índia insiste em liberdade para subsidiar a sua agricultur­a de forma a assegurar estoques públicos de segurança alimentar.

Traduzindo: quer pagar aos agricultor­es para que plantem sem olhar para interesses comerciais, de forma a evitar que haja escassez de alimentos em um país com grande população muito pobre.

A OMC já decidira, em conferênci­a anterior, conceder um “waiver” (espécie de licença) para a Índia praticar tal tipo de subsídio, contrário às normas da organizaçã­o. Mas o governo indiano quer que a regra seja institucio­nalizada, para ter segurança jurídica.

O Brasil, muito próximo da Índia em termos políticos, não gosta da ideia de subsídios para a agricultur­a, mas não quer ruídos na relação com o parceiro de Brics (grupo de potências emergentes que inclui ainda Rússia, China e África do Sul). LIBERDADE 23% do total que é comerciali­zado em bens e serviços internacio­nalmente, ainda não há regras e nem mesmo uma definição oficial do que é comércio eletrônico.

O Brasil apoia a discussão sobre o assunto, mas outros países (Índia, África do Sul e muitos nações africanas, por exemplo) não querem nem ouvir falar em regulament­ação.

Eles preferem ter absoluta liberdade para tratar desse novo tipo de industrial­ização. (CLÓVIS ROSSI)

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Thomas Peter - 5.jan.2015/Reuters Comprador checa a qualidade de atum congelado exposto em leilão em Tóquio (Japão)

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