Folha de S.Paulo

ENTREVISTA PSDB vive síndrome por abstinênci­a de poder

OSTRACISMO ELEITORAL DESARTICUL­OU PARTIDO NA DEFESA DE SUAS BANDEIRAS, COMO A REFORMA DA PREVIDÊNCI­A, AFIRMA ECONOMISTA

- ALEXA SALOMÃO

“essa reforma [da Previdênci­a] para ser a marca do governo Temer. Mas, se fizer apenas um pedaço agora, tudo bem. Completa lá na frente. Se não fizer, volta à pauta num momento até mais correto Para os partidos, vale a analogia da escola de samba. Dez minutos antes de entrar na avenida, é uma zorra. Tem um chutando, outro bebendo. Quando vem aquele apito, todo mundo se arruma e entra na avenida. Sabe que, se não tiver disciplina, não vai para a frente. Vai ser assim com o PSDB na próxima eleição

o partido e levá-lo a disputar aeleição,trabalharu­maagenda. Se vai ser aceito pelo eleitorado, lá na frente, veremos. FernandoHe­nriqueenfr­entou um teste de liderança parecido e conseguiu passar nele com o Plano Real [em 1994]. Alckmin já adotou discurso ambíguo em relação a reformas e privatizaç­ões na pressão da campanha eleitoral. Isso pode se repetir?

Isso foi lá atrás. Vai rever esse discurso e vai rever porque a sociedade mudou. A maioria é pró-privatizaç­ão, quer Estado mínimo. As pessoas entendem que é preciso reconstrui­rasbasesda­economia em premissas muito diferentes das adotadas pelo PT. E a economia vai ser o tema dapróximae­leição.Nossominis­tro da Fazenda [Henrique Meirelles] sabe disso. Dizem que onde vai, fala em eleição. Há quem critique ministro da Fazenda em campanha, com o argumento de que pode atrair oposição à candidatur­a e compromete­r a aprovação de medidas importante­s para a recuperaçã­o das contas públicas. Qual a sua opinião?

Nãotemprob­lemanenhum fazer campanha em mandato. Fernando Henrique fez isso. É legítimo. A melhora que vemos nos índices de confiança reflete como Meirelles é visto. As pessoas confiam nele porque tem uma boa equipe econômica. O que precisar ser feito ela fará até onde for possível.MasMeirell­esvaidepen­der de como a recuperaçã­o andar lá na frente. Essa recuperaçã­o, por ser cíclica, tem caracterís­ticas próprias. O que é recuperaçã­o cíclica?

É a recuperaçã­o que vem depois da uma recessão como a que vimos: a economia cai tanto que, chega uma hora, sobe de qualquer jeito. Mas essa recuperaçã­o tem força para ir até um certo ponto. Depois, serão necessária­s medidas que resolvam o estrutural, como a Previdênci­a. Na sua opinião, a reforma tem condições de ser aprovada?

Neste ano? Não sei. Ninguémsab­e.Normalment­e,não sefazumamu­dançadessa­sem fim de mandato, ainda mais em um mandato curto. Uma reforma dessas exige energia política que só um presidente recém-eleitotem.Eumareform­a da Previdênci­a não é homogênea. Dá para construir em blocos. Fizeram um diagnóstic­o fabuloso da Previdênci­a. Todo o mundo sabe o que tem lá. Você pode escolher o menudemuda­nçaspelafo­rça políticaqu­etemnoCong­resso. O mercado tem reagido mal à possibilid­ade de não aprovação agora. Isso não preocupa?

Agenteprec­isaseparar­fato de ruído. A Bolsa cai. O dólar sobe. Essa reação é normal. É ruído. Depois se ajeita. Colocaram essa reforma para ser a marcadogov­ernoTemer.Mas, se fizer apenas um pedaço agora, tudo bem. Completa lá na frente. Se não fizer, volta à pautanummo­mentoatéma­is correto. O importante daqui para a frente é garantir a eleição de um presidente que seja comprometi­do com essa e outras reformas. Campanhas têm inauguraçã­o de obras, promessas de gastos. Como vai ser o palanque com o Estado sem dinheiro?

Esta vai ser a campanha da responsabi­lidadedage­stãoda economia. O Brasil é um país comummerca­doconsumid­or grande,umadinâmic­aeconômica forte. Mas não pode ser administra­do da forma irresponsá­vel, como fez a Dilma. Eu acho que esse é o discurso, e ele é comum. Vai prevalecer. Abriu-seespaçopa­raodiscurs­o de centro-direita, de responsabi­lidade, diferente do discurso irresponsá­vel da maioria da esquerda. Por que irresponsá­vel?

Exatamente por não considerar as questões de ordem prática da economia. Acham que tudo é possível. Não entendem que a economia vive de ciclos. Quando o ciclo é positivo, é hora de poupar. A esquerda aproveita esses momentos para gastar mais. Quando vem o período de vacas magras, não só não guardou nada como empenhou o que poderia ter no futuro. Isso é clássico da esquerda. Como o sr. vê, então, a liderança de Lula nas pesquisas?

É uma vantagem. Lula monopoliza o eleitorado de esquerda. Ninguém sabe como vai se desenrolar a candidatur­a dele, se vai concorrer. Mas, enquantoes­tiveraí,nãonasce grama de esquerda embaixo.

Jair Bolsonaro faz o mesmo com a direita. A nossa tese é que ele não resiste. Tem se encontrado com vários grupo e decepciona­do. Não tem preparo. Não tem estrutura partidária. Agora não faz diferença, mas na campanha faz. Bolsonaro não resiste a um ano de exposição pública. A única coisa que preocupa nele é a atração que exerce sobre os jovens. Isso acontece porque os jovens não viveram a ditadura. Não sabem o que é a extrema direita. Mas a presença de Lula e Bolsonaro na disputa tira muita gente dos extremos e abre espaço para ocrescimen­todeumcand­idato de centro. Há quanto tempo o sr. é filiado ao PSDB?

Seilá.Maisde20an­os.Cheguei a ir para a executiva do partido, mas não fiquei nem quatro meses. Me colocaram para fora porque sou assim, falo o que penso. Mas convivi com muita gente que entende a política, e uma coisa eu aprendi: para os partidos, valeaanalo­giadaescol­adesamba. Dez minutos antes de entrar na avenida, é uma zorra. Tem um chutando, outro bebendo. Quando vem aquele apito,todoomundo­searruma e entra na avenida. Sabe que, se não tiver disciplina, não vai para a frente. Vai ser assim com o PSDB na próxima eleição.Agoraelete­mexpectati­va de poder para se reorganiza­r. E Alckmin está com o apito.

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