ENTREVISTA PSDB vive síndrome por abstinência de poder
OSTRACISMO ELEITORAL DESARTICULOU PARTIDO NA DEFESA DE SUAS BANDEIRAS, COMO A REFORMA DA PREVIDÊNCIA, AFIRMA ECONOMISTA
“essa reforma [da Previdência] para ser a marca do governo Temer. Mas, se fizer apenas um pedaço agora, tudo bem. Completa lá na frente. Se não fizer, volta à pauta num momento até mais correto Para os partidos, vale a analogia da escola de samba. Dez minutos antes de entrar na avenida, é uma zorra. Tem um chutando, outro bebendo. Quando vem aquele apito, todo mundo se arruma e entra na avenida. Sabe que, se não tiver disciplina, não vai para a frente. Vai ser assim com o PSDB na próxima eleição
o partido e levá-lo a disputar aeleição,trabalharumaagenda. Se vai ser aceito pelo eleitorado, lá na frente, veremos. FernandoHenriqueenfrentou um teste de liderança parecido e conseguiu passar nele com o Plano Real [em 1994]. Alckmin já adotou discurso ambíguo em relação a reformas e privatizações na pressão da campanha eleitoral. Isso pode se repetir?
Isso foi lá atrás. Vai rever esse discurso e vai rever porque a sociedade mudou. A maioria é pró-privatização, quer Estado mínimo. As pessoas entendem que é preciso reconstruirasbasesdaeconomia em premissas muito diferentes das adotadas pelo PT. E a economia vai ser o tema dapróximaeleição.Nossoministro da Fazenda [Henrique Meirelles] sabe disso. Dizem que onde vai, fala em eleição. Há quem critique ministro da Fazenda em campanha, com o argumento de que pode atrair oposição à candidatura e comprometer a aprovação de medidas importantes para a recuperação das contas públicas. Qual a sua opinião?
Nãotemproblemanenhum fazer campanha em mandato. Fernando Henrique fez isso. É legítimo. A melhora que vemos nos índices de confiança reflete como Meirelles é visto. As pessoas confiam nele porque tem uma boa equipe econômica. O que precisar ser feito ela fará até onde for possível.MasMeirellesvaidepender de como a recuperação andar lá na frente. Essa recuperação, por ser cíclica, tem características próprias. O que é recuperação cíclica?
É a recuperação que vem depois da uma recessão como a que vimos: a economia cai tanto que, chega uma hora, sobe de qualquer jeito. Mas essa recuperação tem força para ir até um certo ponto. Depois, serão necessárias medidas que resolvam o estrutural, como a Previdência. Na sua opinião, a reforma tem condições de ser aprovada?
Neste ano? Não sei. Ninguémsabe.Normalmente,não sefazumamudançadessasem fim de mandato, ainda mais em um mandato curto. Uma reforma dessas exige energia política que só um presidente recém-eleitotem.Eumareforma da Previdência não é homogênea. Dá para construir em blocos. Fizeram um diagnóstico fabuloso da Previdência. Todo o mundo sabe o que tem lá. Você pode escolher o menudemudançaspelaforça políticaquetemnoCongresso. O mercado tem reagido mal à possibilidade de não aprovação agora. Isso não preocupa?
Agenteprecisasepararfato de ruído. A Bolsa cai. O dólar sobe. Essa reação é normal. É ruído. Depois se ajeita. Colocaram essa reforma para ser a marcadogovernoTemer.Mas, se fizer apenas um pedaço agora, tudo bem. Completa lá na frente. Se não fizer, volta à pautanummomentoatémais correto. O importante daqui para a frente é garantir a eleição de um presidente que seja comprometido com essa e outras reformas. Campanhas têm inauguração de obras, promessas de gastos. Como vai ser o palanque com o Estado sem dinheiro?
Esta vai ser a campanha da responsabilidadedagestãoda economia. O Brasil é um país comummercadoconsumidor grande,umadinâmicaeconômica forte. Mas não pode ser administrado da forma irresponsável, como fez a Dilma. Eu acho que esse é o discurso, e ele é comum. Vai prevalecer. Abriu-seespaçoparaodiscurso de centro-direita, de responsabilidade, diferente do discurso irresponsável da maioria da esquerda. Por que irresponsável?
Exatamente por não considerar as questões de ordem prática da economia. Acham que tudo é possível. Não entendem que a economia vive de ciclos. Quando o ciclo é positivo, é hora de poupar. A esquerda aproveita esses momentos para gastar mais. Quando vem o período de vacas magras, não só não guardou nada como empenhou o que poderia ter no futuro. Isso é clássico da esquerda. Como o sr. vê, então, a liderança de Lula nas pesquisas?
É uma vantagem. Lula monopoliza o eleitorado de esquerda. Ninguém sabe como vai se desenrolar a candidatura dele, se vai concorrer. Mas, enquantoestiveraí,nãonasce grama de esquerda embaixo.
Jair Bolsonaro faz o mesmo com a direita. A nossa tese é que ele não resiste. Tem se encontrado com vários grupo e decepcionado. Não tem preparo. Não tem estrutura partidária. Agora não faz diferença, mas na campanha faz. Bolsonaro não resiste a um ano de exposição pública. A única coisa que preocupa nele é a atração que exerce sobre os jovens. Isso acontece porque os jovens não viveram a ditadura. Não sabem o que é a extrema direita. Mas a presença de Lula e Bolsonaro na disputa tira muita gente dos extremos e abre espaço para ocrescimentodeumcandidato de centro. Há quanto tempo o sr. é filiado ao PSDB?
Seilá.Maisde20anos.Cheguei a ir para a executiva do partido, mas não fiquei nem quatro meses. Me colocaram para fora porque sou assim, falo o que penso. Mas convivi com muita gente que entende a política, e uma coisa eu aprendi: para os partidos, valeaanalogiadaescoladesamba. Dez minutos antes de entrar na avenida, é uma zorra. Tem um chutando, outro bebendo. Quando vem aquele apito,todoomundosearruma e entra na avenida. Sabe que, se não tiver disciplina, não vai para a frente. Vai ser assim com o PSDB na próxima eleição.Agoraeletemexpectativa de poder para se reorganizar. E Alckmin está com o apito.