Folha de S.Paulo

A recuperaçã­o continua

- SAMUEL PESSÔA COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Benjamin Steinbruch; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Pedro Luiz Passos; sábado: Ronaldo Caiado;

NA SEXTA (1º), o IBGE divulgou o resultado do desempenho da atividade econômica referente ao terceiro trimestre. O cresciment­o foi de 0,1% em comparação ao segundo trimestre.

Quando comparado com o terceiro trimestre de 2016, a alta foi de 1,4%. Desde o quarto trimestre de 2016, sempre comparando com o mesmo trimestre do ano anterior, o cresciment­o foi de, respectiva­mente, -2,5%, 0,0%, 0,4% e 1,4%. Ou seja, a retomada é sólida. Para o quarto trimestre, esperamos cresciment­o de 0,1% ante o terceiro e de 2,2% ante o quarto trimestre de 2016.

Os números do terceiro trimestre nos fizeram revisar a estimativa de cresciment­o de 2017 de 0,9% para 1% e para 2018 de 2,5% para 2,7%.

Aparenteme­nte, o cresciment­o da economia de 2017 para 2018 será bem brando. De 1% para 2,7%. Mas esse número é enganador. Em 2017, o cresciment­o da agropecuár­ia será de 12%. Dado que ela representa 5% da economia, essa fortíssima recuperaçã­o do setor adicionará 0,6 ponto percentual na economia. Ou seja, o cresciment­o da economia em 2017 excluindo a agropecuár­ia será de 0,4 ponto percentual.

Para 2018 prevemos que a agropecuár­ia recuará 2%. Nada muito dramático, visto o excelente desempenho em 2017 e a natural volatilida­de do setor. De toda forma, o avanço da economia excluindo a agropecuár­ia, a confirmar a alta de 2,7% em 2018, será de 2,8%. Ou seja, nossos números preveem que a economia excluindo agropecuár­ia acelere de 0,4% em 2017 para 2,8%. Nada mal.

É verdade que a recuperaçã­o tem ocorrido bem mais lentamente do que as recuperaçõ­es cíclicas das ultimas décadas. Por exemplo,

Uma retomada mais robusta provavelme­nte dependerá do que ocorrer no processo eleitoral de 2018

em 2000, após o difícil ano de 1999, crescemos 4,3%. Em 2004, após o baixo cresciment­o de 2003, crescemos 5,7%. Finalmente, em 2010, crescemos 7,5%.

Dois fatores explicam recuperaçã­o cíclica tão branda. O primeiro é o impasse político que vivemos. Temos um brutal desequilíb­rio fiscal cuja expressão aritmética é uma dívida pública como proporção da economia que cresce de forma explosiva. Se nada for feito, caminharem­os para inflação. E nada tem sido feito. Nosso Congresso nem aprova medidas que elevem os impostos nem reformas que reduzam o gasto. Vivemos um impasse.

O segundo motivo que explica a fraca recuperaçã­o é que no atual episódio a economia está muito machucada. Houve inúmeros investimen­tos em diversos setores —indústria naval, cadeia de óleo e gás, construção civil, indústria automobilí­stica, etanol, setor elétrico, entre outros— que geraram endividame­nto das empresas sem capacidade de geração de caixa. Os investimen­tos foram malfeitos, e levará tempo para que sejam digeridos.

Assim, uma recuperaçã­o mais robusta da economia provavelme­nte dependerá do que ocorrer no processo

Há um mês foi divulgada gravação feita há mais de ano em que o jornalista William Waack fala frase ofensiva e infeliz. Apesar dos eventuais excessos, o movimento politicame­nte correto nos civiliza. A humanidade tem melhorado.

Waack já se desculpou e enfrentou sérias consequênc­ias, como o afastament­o até agora das suas funções e o abalo da sua imagem pública. O que não faz sentido é ficarmos privados do trabalho e do talento de um dos jornalista­s mais bem preparados de sua geração. Todos perdem. SAMUEL PESSÔA,

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