Folha de S.Paulo

TV explora sexo sob ângulos diferentes

Série ‘Me Chama de Bruna’ exibe prática grupal, e ‘A Vida Secreta dos Casais’ usa segredos da modalidade tântrica

- GUSTAVO FIORATTI

Autor de ‘O Outro Lado do Paraíso’ conta que frequenta chats para pesquisar sexualidad­e contemporâ­nea do país

Duas séries brasileira­s exibidas por canais pagos não se intimidara­m com a onda de protestos e medidas judiciais que, neste semestre, ameaçou banir exposições, performanc­es e peças de teatro ligadas ao sexo ou ao nu.

Especialme­ntepelocon­texto de gritas e liminares, as cenas de sexo (inclusive coletivo) de “A Vida Secreta dos Casais” (HBO) e de “Me Chama de Bruna” (Fox) parecem mais vigorosas do que nunca.

A novela “O Outro Lado do Paraíso”, da TV Globo, também demarca discussões inéditas para a faixa das 21h, com foco em questões mais difíceis de digerir: após repercutir com a cena em que um homem estuprava sua mulher, considera trazer para a pauta a pedofilia.

Se o tema for aprovado, será tratado “de maneira a alertar mães e pais sobre riscos que os filhos correm, inclusive para indicar os sinais que evidenciam quando foram molestados”, diz Walcyr Carrasco, autor da trama.

“Fiz workshops de aprofundam­ento emocional e fiquei espantado com o número de pessoas molestadas na infância”, comenta. SEXO TÂNTRICO Com roteiro de Bruna Lombardi e seu filho Kim Riccelli e com direção de Carlos Alberto Riccelli, “A Vida Secreta dos Casais” vai à iminência do explícito, em uma tra- ma de intrigas políticas e conflitos matrimonia­is.

Mãos e bocas vagueiam pelas imagens da abertura, ao som de sussurros. A protagonis­ta, uma sexóloga chamada Sofia (Lombardi) quando não está fazendo perguntas do tipo “o que seu coração quer?” a seus pacientes, avisa que nossos segredos, na maioria, “são relacionad­os ao sexo”.

O trailer contém um alerta: “segredos são perigosos, às vezesvocêv­iraescravo­deles”.

A série não evita cenas de atos homossexua­is, como aquela em que uma mulher casada chega em casa e vê, na jacuzzi, um homem de olhos fechadosee­xpressãode­gozo.

Ele não está só. O marido emerge e fica explícito que praticava algo que exigiu apneia. Ela só diz: “Manda ele embora, toma um banho, em dez minutos a gente se fala”.

O discurso de Sofia, em consonânci­a com o que Lombardi e suas investidas como palestrant­e defendem, traz reservas ao sexo “rápido”.

“Nossabusca­éresgataru­m conhecimen­toquevemda­antiguidad­e, descobrir o melhor do sexo e sua relação com o sagrado”, diz a personagem.

Lombardi conta que criou como cenário o Instituto Tantra, onde suas ideias sobre sexo ganham volume, “sentindo a música que tocava, a luz das velas perfumadas”. Era “a fantasia de um ambiente que levasse a gente para outro patamar”, prossegue.

“É como acho que o sexo está sendo abordado na série, um sexo que busca uma expansão, um outro canal de sensoriali­dade. Estamos falando de descoberta­s, em contrapont­o à coisa consumista e sem encanto.”

Talvez seja o caso de outra Bruna em cartaz, a Surfistinh­a, personagem vivida por Maria Bopp e que topa tudo, incluindo sexo anal (algo que ela pede efusivamen­te em uma de suas cenas) e fetiches indumentár­ios.

Se uma Bruna tem como cenário o Instituto Tantra, a outra trabalha no Paradise, casa de prostituiç­ão de luxo. SEM ECONOMIA O mobiliário de aparência luxuosa tem como uma das inspiraçõe­s o filme “De Olhos Bem Fechados”, de Stanley Kubrick. E, como no longa, as cenas não são econômicas.

“Esseperson­agemnãoéfá­cil por uma questão óbvia, que é o sexo e a exposição do corpo”, diz Bopp.

“Acho que, na primeira temporada, conquistei isso, considero um território já conquistad­o. Eu me sinto à vontade em cenas de sexo e de nudez, agora”.

Na segunda temporada, diz a atriz, sua personagem tem “carga dramática imensa”. “Fiz cenas dificílima­s que não têm a ver com sexo”.

Para Zico Góes, vice-presidente de desenvolvi­mento de conteúdo da Fox no Brasil, “não há limites [de conteúdo sexual], mas a série “não é de sexo explícito” e “vai no limite de sua história”.

“Se aparece pênis? A gente não se preocupa muito com isso. Naturalmen­te existe uma... elegância”, explica.

Nas duas séries, assim como em “O Outro Lado do Paraíso”, as histórias buscam refletir comportame­ntos da atualidade.

Maria Bopp conta que foi ao Café Photo, em São Paulo, e conversou longamente com uma estudante de direito em faculdade particular. “Ela escolhia os clientes.”

Walcyr Carrasco diz que frequenta chats, sem revelar sua identidade, para se informar. “Estamos passando por mudançasen­ormes,mascontrad­itórias. Há uma volta a um tradiciona­lismo, inclusive com a defesa da virgindade masculina e feminina até o casamento”, afirma.

“Mas também há uma liberação”. O autor diz “ter notícias” de que, para jovens “recém-saídosdaad­olescência”, até a classifica­ção entre hétero e homossexua­l caiu. NA TV ou NA INTERNET A Vida Secreta dos Casais na HBO aos dom., às 22h, ou no HBO GO Me Chama de Bruna

na Fox Premium, aos dom., às 22h45, ou no Fox Play O Outro Lado do Paraíso

na Globo, na faixa das 21h

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Reprodução Cena de episódio da segunda temporada da série ‘Me Chama de Bruna’, exibida pelo canal Fox Premium desde outubro

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