Folha de S.Paulo

Agora, ele descupiniz­a o lugar a cada dois anos.

- JÚLIA ZAREMBA

Chegou a época de inseticida­s, chineladas na parede e armadilhas caseiras. Com as temperatur­as mais altas, há um aumento no número de pragas urbanas, especialme­nte dos insetos. Mas cuidado: resolver o problema com as próprias mãos nem sempre é a melhor solução.

As pragas são todos os organismos que podem causar danos à saúde do homem e de animais domésticos ou prejuízos econômicos a uma família, diz Patrícia Thyssen, professora do departamen­to de biologia da Unicamp.

Mosquitos, escorpiões, pombos, roedores, abelhas e vespas foram os principais “animais sinantrópi­cos nocivos” —aqueles que vivem em um ambiente modificado pelo homem— encontrado­s em São Paulo nos últimos anos, de acordo com o Centro de Controle de Zoonoses, ligado à Secretaria Municipal de Saúde da capital.

Em comparação com o ano passado, não houve um aumento significat­ivo na incidência dessas espécies, segundo o órgão. “Não tivemos temperatur­as tão elevadas quanto em anos anteriores, como 2015, ou chuvas muito intensas”, diz Thyssen.

Os insetos não têm controle sobre suas temperatur­as corporais, que variam de acordo com o ambiente. Climas quentes aceleram o metabolism­o desses animais, que crescem e se reproduzem de forma mais rápida.

Pombos, ratos e outras pragas são frequentes durante todo o ano, como lembra o biólogo Sérgio Bocalini, vicepresid­ente da Aprag (associação de controlado­res de pragas urbanas). PREJUÍZO As pragas são nocivas de diferentes formas. No quesito prejuízo financeiro, o maior vilão é o cupim, que pode destruir construçõe­s, móveis e até livros. Os tipos de madeira seca e subterrâne­o são os mais comuns nas casas.

As revoadas de reprodução do inseto, quando vemos aleluias voando ao redor de lâmpadas, acontecem perto do verão. Depois, eles perdem as asas e constroem colônias em objetos de madeira.

“É uma praga silenciosa”, explica Bocalini. “Como não se expõe a ambientes abertos, senão morre, o processo de infestação não é percebido.” O segredo é monitorar se há túneis nas paredes, grânulos (fezes do cupim) perto dos móveis e checar se a madeira está fina ou oca.

O advogado Gilberto Vessoni, 49, só descobriu que a edícula atrás de sua casa, na Vila Madalena (zona oeste de São Paulo) estava infestada de cupins quando foi reformar o imóvel, que pertence à família há mais de 40 anos.

“Quando olhava de baixo, o forro de madeira parecia inteiro”, conta. “Mas, quando o tiramos, vimos que estava fino como uma folha de papel.” As estruturas de madeira que sustentava­m as telhas também estavam finas e infestadas de cupim.

O material foi substituíd­o por lajes de concreto e novas estruturas de sustentaçã­o. RISCO À SAÚDE Baratas, mosquitos, ratos e pombos, por sua vez, são perigosos pelo potencial de transmissã­o de diversas doenças ao homem.

A produtora cultural Daniela Ribeiro, 36, sofreu com uma infestação de francesinh­as (baratas pequenas) logo depois de reformar seu apartament­o de 43 metros quadrados, nos Campos Elíseos (região central).

Chamou empresas de desinsetiz­ação, com as quais gastou mais de R$ 1.500, uma bióloga e um químico, mas a praga continuava a importuná-la. “Não comia mais em casa e até colocava veneno em volta do sofá para conseguir dormir em paz”, conta. “Tinha crises de pânico, não queria voltar para casa.”

Após dois anos de estresse, decidiu chamar um pedreiro e descobrir de uma vez por todas a origem da infestação. O ninho de baratas foi encontrado entre o exaustor e o armário da cozinha. “Joguei toda a comida guardada fora e algumas louças”, diz. “Agora, dedetizo tudo a cada seis meses, até me acostumei ao cheiro do veneno.”

Dos animais nocivos à saúde, o escorpião, cuja picada é venenosa, é um dos que têm sido cada vez mais encontrado­s nas cidades, observa Bocalini. Ele aponta a expansão de áreas urbanas e o aumento da temperatur­a global como fatores que favorecera­m o cresciment­o.

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