Folha de S.Paulo

Castello Branco contestou os resultados sociais alcançados. Ele lembrou que Manaus

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Apesar de ter tido seus benefícios estendidos pelo Congresso até 2073, a Zona Franca de Manaus, criada há 50 anos, é questionad­a por algunsecon­omistas,queenxerga­m pouco retorno para o Brasil e para a região.

Relatório divulgado pelo Banco Mundial em novembro avalia que o projeto implica grandes gastos do governo federal e precisa ser reformulad­o para obter maior eficiência com menos custos.

Em 2016, os incentivos à zona de tributação especial do Norte representa­ram 9,8% dos custos tributário­s (cerca de R$ 26,7 bilhões) e 0,42% do PIB do Brasil, a segunda maior fonte de gastos em tributos para o governo federal. No mesmo ano, o governo recolheu R$ 13,2 bilhões em impostos do Amazonas.

Com a recessão, o Polo Industrial de Manaus também vem sofrendo com a diminuição da produção e o aumento do desemprego.

O economista da FGV Roberto Castello Branco recebeu vaias da plateia de Manaus na segunda-feira (27) ao dizer que os 50 anos da ZF foram um desperdíci­o de dinheiro.

“Os custos são muito elevados para benefícios questionáv­eis. O polo industrial produz bens duráveis, sujeitos aos ciclos econômicos”, disse no seminário O Futuro da Amazônia, realizado pela Folha, no Teatro Manauara. O evento foi patrocinad­o pela Manaus Ambiental e pela Manaus Luz e teve apoio do Banco da Amazônia.

O economista afirmou também que há isenção de IPTU para as empresas instaladas na Zona Franca. A informação foi questionad­a por um integrante da plateia. Segundo a Suframa (Superinten­dência da ZF), houve isenção do imposto apenas até 1977. Hoje as indústrias da região pagam IPTU integralme­nte. IMPACTOS REGIONAIS é o 24º município em renda per capita dentre as 27 capitais brasileira­s, segundo o IBGE. Em comparação com todas as cidades do país —de um total de 5.566—, a capital do Amazonas ocupa a 859ª posição no Índice de Desenvolvi­mento Humano.

Seus argumentos foram contestado­s pelos outros debatedore­s, que defenderam os retornos ambientais e sociais trazidos à região. O superinten­dente da Zona Franca, Appio da Silva, disse que a manutenção de reservas indígenas, da biodiversi­dade e a redução da desigualda­de social na região foram benefícios alcançados pelo programa, criado para impulsiona­r o desenvolvi­mento econômico da Amazônia.

“Isso ocorre hoje graças ao modelo de cresciment­o econômico e desenvolvi­mento ambiental que é a Zona Franca de Manaus”, afirmou.

Segundo o prefeito da cidade, Arthur Virgílio (PSDB), os recursos da ZF ajudaram a manter os 98% da floresta nativa existentes no Estado. O prefeito lembrou ainda que o Amazonas é o Estado do Norte que rende maior contribuiç­ão tributária ao governo.

Arthur Virgílio e Castello Branco concordara­m em um ponto: o Polo Industrial precisa exportar mais. Em 2016, o ganho com exportaçõe­s represento­u 9% da verba gasta com insumos do exterior.

Para o economista da FGV, as indústrias não têm incentivos para competir. Ele defende uma diminuição gradual dos benefícios fiscais nos próximos dez anos. Com o tempo, eles seriam substituíd­os por investimen­to direto de recursos públicos e parcerias privadas, de forma que as empresas precisasse­m se mostrar competitiv­as.

Já o prefeito Arthur Virgílio diz que é essencial criar um projeto nacional de inovação tecnológic­a, formar mão de obra qualificad­a e diversific­ar a produção. “É necessário investir na telefonia celular, na infraestru­tura de internet da região e em hidrovias, que baratearia­m o custo do transporte no Estado.”

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