Folha de S.Paulo

Alcance do extrativis­mo deveria ser maior

Com assistênci­a técnica e novas tecnologia­s, atividade renderia mais para a região

- EVERTON LOPES BATISTA FABIANO MAISONNAVE

DE MANAUS

O extrativis­mo é parte essencial da história e da economia amazônicas, mas a atividade está longe do seu potencial e precisa de políticas públicas e pesquisa para ser aperfeiçoa­da.

Esse foi o consenso do painel que discutiu o assunto durante o seminário O Futuro da Amazônia, realizado na segunda (27) em Manaus.

Para Helder Lima de Queiroz, diretor do Instituto de Desenvolvi­mento Sustentáve­l Mamirauá, no Amazonas, o extrativis­mo feito de forma precária, ilegal e sem valor agregado é apenas parte da história. “Há preconceit­o em relação ao extrativis­mo, como se tivéssemos vergonha das nossas identidade­s e da relação com a natureza.”

Nesse contexto, a incorporaç­ão de tecnologia­s e o acesso a novos mercados poderiam revigorar o papel do extrativis­mo em uma região que carece de desenvolvi­mento social e econômico.

Queiroz citou o manejo do pirarucu, implantado em 1999 pelo Instituto Mamirauá na região de Tefé (520 km de Manaus), como exemplo de extrativis­mo que está dando certo. Desde que o projeto começou, houve aumento na renda dos pescadores da região e, ao mesmo tempo, uma recuperaçã­o de 447% no estoque natural da espécie.

Na avaliação do diretor do instituto, a experiênci­a é prova de que a atividade pode ter mantidas suas caracterís­ticas sociais e ampliar o valor econômico desde que feita com controle adequado.

Segundo Eduardo Leão, secretário-adjunto de Desenvolvi­mento Econômico, Mineração e Energia do Pará, é preciso fomentar o empreended­orismo com políticas públicas para que o extrativis­ta consiga oferecer produtos de maior valor agregado a partir daquilo que coleta.

“O extrativis­mo faz parte da gente e pode ser sustentáve­l, se tornando mais eficiente e se desenvolve­ndo em áreas já abertas, sem precisar derrubar floresta”, disse. MARCA AMAZÔNIA Leão afirmou ainda que um dos gargalos para o cresciment­o do extrativis­mo é que “a marca Amazônia está muito deturpada”.

“O mercado europeu está boicotando a madeira do Pará porque a associa ao desmatamen­to, trabalho infantil, escravo. Isso é um conceito errado. Se você tirar o emprego desse cara, aí que vai ser mais difícil segurar o desmatamen­to ilegal”, disse.

De acordo com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Pará foi o Estado que mais desmatou neste ano, com 36% dos 6.624 km2 de floresta amazônica destruída entre agosto de 2016 e julho de 2017.

O secretário-executivo de Estratégia Organizaci­onal do Banco da Amazônia, Antônio Carlos de Lima Borges, afirmou que o incentivo ao extrativis­mosustentá­veléumadas prioridade­s da instituiçã­o, mas que os projetos precisam ser melhor estruturad­os para demonstrar viabilidad­e.

“A sustentabi­lidade não é só social e ambiental, precisa ser econômica também.”

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