Folha de S.Paulo

Nem os videntes sabem

- TOSTÃO

NO BRASIL e em todo o mundo, de vez em quando, um time inferior ou pequeno ou da segunda divisão ganha um torneio com jogos mata-mata. Por que isso nunca ocorreu em uma Copa do Mundo? Uma das razões seria que as seleções mais fortes levam o Mundial muito a sério e escalam os melhores jogadores. Os craques querem atuar e brilhar. A Copa é a competição de futebol mais vista em todo o mundo.

O Mundial desperta também sentimento­s nacionalis­tas, ufanistas, mais na América do Sul que na Europa. Ao mesmo tempo em que o ser humano sonha com a liberdade de viver sem fronteiras e em ser um cidadão do mundo, tem orgulho e alegria de pertencer a seu bairro, cidade, Estado, país. Na Copa, até corruptos que roubam o dinheiro público choram abraçados à bandeira nacional, após a conquista do taça.

Pela qualidade das seleções, eu dividiria os 32 participan­tes em quatro grupos. No primeiro, os favoritos (Alemanha, Brasil, França e Espanha). No segundo, seleções que não são favoritas, mas que não seria surpresa se fossem campeãs (Bélgica, Argentina, Portugal e Inglaterra), já que a diferença técnica com as quatro primeiras não é grande.

O terceiro grupo seria o das outras seleções europeias e sul-americanas, além do México. Seriam zebras se levassem o título. No quarto grupo, as restantes, que seriam muito mais do que zebras. Elas sonham em passar da primeira fase.

Pelo sorteio, não há grupo da morte. Ele só é possível quando três seleções de nível técnico parecido disputam duas vagas. Foi o que ocorreu na Copa de 1966, quando o Brasil enfrentou Hungria e Portugal, duas fortes seleções, que, naquele momento, eram superiores. O Brasil perdeu para as duas e foi eliminado. Não houve zebra.

O Brasil ficou em um grupo fácil. Vai enfrentar Suíça, Costa Rica e Sérvia. Apesar de a Costa Rica ter surpreendi­do no Mundial anterior, o time caiu de produção. A Suíça é um pouco melhor que a Sérvia. A Suíça, por ser um país de muitos imigrantes, tem um time com vários descendent­es, o que melhora sua qualidade. É um futebol em ascensão.

O pôster oficial da Copa homenageia o goleiro russo Yashin, considerad­o por muitos o maior da história. Joguei em sua despedida, em Milão, por uma seleção de jogadores de todo o mundo. No dia seguinte, almocei no Milan, junto com atletas, comissão técnica e dirigentes. O clube italiano queria me contratar, mas dependia do fim da proibição de ter jogadores estrangeir­os. Isso só ocorreu muitos anos depois. Quase mudei de país e de vida.

Por muitos quases, instantes fugazes, acasos, uma bola perdida, traiçoeira, muda-se a história de uma seleção, de uma Copa. Tudo é incerto. O ser humano possui uma grande deficiênci­a, a de ver só com os olhos. Alguns poucos, craques e artistas, enxergam também com a imaginação. Mas isso também não basta. Nem os videntes sabem o que vai acontecer no Mundial.

Alemanha e Brasil, que caiu em grupo fácil, farão tudo para serem primeiros e não se enfrentare­m nas oitavas

CAMPEÃO Parabéns ao Grêmio, o melhor time da América do Sul. Luan e Arthur mostraram, mais uma vez, que deveriam estar na seleção, nos lugares de Diego e Giuliano.

Roger e Renato foram importante­s na maneira de jogar do time, compacta e de muita troca de passes, mas isso só é possível porque há dois jogadores de talento (Luan e Arthur), com essas caracterís­ticas.

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