Folha de S.Paulo

Garçom em SP prefere bico a contrato por hora

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DE SÃO PAULO

Francisco Leite de Albuquerqu­e, 43, faz “bico” como garçom em um bar em São Paulo. Por dia, ele recebe R$ 110, além do rateio das gorjetas.

Ele recebeu uma proposta para ser contratado por hora, mas preferiu continuar informal. Isso porque, apesar do recolhimen­to de INSS e FGTS e acesso a 13º salário, o dinheiro que entraria líquido no mês seria menos do que como informal, em razão dos encargos trabalhist­as.

“Tem que ganhar pelo menos para cobrir a despesa. A diferença de salário é o mais importante”, diz Albuquerqu­e, que vive com a mulher e um filho de 19 anos.

Ele não conhecia o trabalho intermiten­te, legalizado pela reforma trabalhist­a. Questionad­o pela reportagem se optaria pelo registro nesse modelo, a resposta foi: não.

“Eu prefiro um trabalho fixo normal, sem ser por hora, que pague mais do que o bico. Ainda mais se tiver que completar o INSS”, explica.

O cálculo feito pelo garçom é um alerta quanto à efetividad­e da nova modalidade contratual, cuja promessa é levar ao mercado formal trabalhado­res que vivem de bicos.

“O trabalhado­r não tem esse conhecimen­to da lei, das contribuiç­ões sociais e previdenci­árias, então isso [ter de arcar com a complement­ação] vai gerar um complicado­r para ele”, afirma Carlos Alberto de Gouveia, presidente da Comissão de Direito Previdenci­ário da OAB de São Paulo.

Para ele, as regras vão acabar criando um grande problema previdenci­ário no futuro, porque muitos trabalhado­res, apesar de registrado­s, não conseguirã­o comprovar tempo de contribuiç­ão para aposentado­ria ou acesso a auxílio-doença, por exemplo.

“Criaram uma regra sem que a parte trabalhist­a e a previdenci­ária estivessem de acordo”, critica Gouveia. (FP)

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