Folha de S.Paulo

Prisões de ilegais crescem 40% sob Trump

Aumento é reflexo da política anti-imigratóri­a do presidente; ‘vamos achá-los em casa e no emprego’, diz diretor

- ESTELITA HASS CARAZZAI

Ordens para deter imigrantes que tenham incorrido em qualquer tipo de infração ajudam a inflar número

Já fazia dez anos que o maranhense Hidequel Sousa da Silva vivia em Marietta, na Geórgia. Desde que chegara ao país, havia sido parado cinco vezes pela polícia devido a pequenas infrações de trânsito. Pagava multa e era liberado.

No último mês de julho, ele foi abordado pela última vez. Acabou preso por imigração ilegal e deportado três meses depois para o Brasil.

“O que vale agora é a lei do Trump”, disse Silva à Folha.

Prisões de imigrantes sem documentaç­ão ou status legal nos EUA, como Silva, aumentaram 40% desde o início do governo de Donald Trump, em janeiro, segundo dados divulgados pelo governo americano nesta terça (5).

No total, 110.568 imigrantes foram presos desde a posse de Trump. No mesmo período do ano passado, na administra­ção Barack Obama, o número foi de 77.806.

“Eles estão no radar agora”, declarou o diretor da agência americana de imigração, Thomas Homan, ao divulgar os números. “Nós vamos encontrá-los em suas casas, em seus empregos. Se alguém está no país ilegalment­e, isso é um crime por si só.”

O aumento prova, mais uma vez, a guinada na política de imigração de Trump — que já instituiu um decreto vetando a entrada de viajantes de países de maioria islâmica e deixou o pacto para proteção de refugiados da ONU.

O governo afirma que 73% dos imigrantes presos tinham uma condenação criminal. A maioria deles, porém, por infrações de trânsito, ou pelo próprio fato de estarem em situação ilegal no país.

Antes, Obama priorizava a prisão e deportação de imigrantes ilegais que haviam cometido crimes graves.

Desde que Trump assumiu, porém, foram emitidas ordens para que imigrantes que foram presos no mesmo período (jan-set) em 2016 foi o aumento desde a posse de Trump tenham incorrido em qualquer ilegalidad­e caiam na fiscalizaç­ão da agência de imigração (ICE, na sigla em inglês). “Generaliza­ram total. O que eu fiz não é crime grave”, afirma Silva.

A região de Atlanta, onde fica a cidade de Marietta, é entrecorta­da por várias rodovias. Muitos imigrantes vivem nos subúrbios e trabalham em Atlanta, o que faz do carro o principal meio de transporte. Era o caso de Silva, que trabalhava na construção civil.

Por causa das detenções, muitos imigrantes começaram a evitar a direção. Reportagem recente do “New York Times” mostrou que foram detidos 7.753 imigrantes em Atlanta entre janeiro e junho, 80% que no ano anterior.

Diante da reação da comunidade latina, a polícia de Atlanta anunciou há duas semanas que não prenderá mais imigrantes por infrações menores de trânsito.

Homan, diretor da ICE, afirmou que o país está “cumprindo a lei”. “Gostem ou não do presidente, ele está fazendo a coisa certa”, declarou.

O Departamen­to de Segurança Doméstica destacou que as ações contra imigração ilegal são uma das “prioridade­s” do governo, e que o objetivo é ainda “proteger os empregos dos americanos”.

“[Queremos] acabar com a discrimina­ção contra trabalhado­res americanos”, afirmou Francis Cissna, que comanda o serviço de cidadania e imigração dos EUA.

Os dados também mostram que 226 mil deportaçõe­s foram realizadas por ordem judicial no último ano, num ligeiro declínio em comparação ao ano anterior (240 mil).

Apesar de detidos, muitos acabam sendo liberados pela Justiça se demonstram que têm vínculos com o país, como filhos nascidos nos EUA.

O Brasil ficou em sétimo lugar entre os países que mais tiveram cidadãos deportados no ano: 1.413 deportaçõe­s, um aumento de 29%.

Por outro lado, o número de pessoas capturadas pela patrulha de fronteira americana tentando atravessar as fronteiras americanas caiu 24%, para 310.531, o menor nível em 46 anos.

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