Folha de S.Paulo

Francesa leva Itambé e quer virar líder em produto lácteo

- RAQUEL LANDIM

A Lactalis comprou o laticínio mineiro Itambé, que pertencia à Cooperativ­a Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais (CCPR), que até recentemen­te era sócia dos irmãos Joesley e Wesley Batista no empreendim­ento.

A companhia francesa passou na frente dos mexicanos da Lala, que também tentavam comprar a Itambé. A Lala adquiriu recentemen­te a Vigor, que pertencia à J&F, holding de Joesley e Wesley Batista, e tentou incluir a empresa mineira no pacote.

Desde de 2013, a J&F era sócia da Itambé com 50% de participaç­ão e dividia o controle com a CCPR. A cooperativ­a, no entanto, preferiu exercer seu direito de preferênci­a e recomprar a fatia dos Batista a fechar negócio com os mexicanos.

O valor da transação não foi divulgado, mas pessoas que acompanhar­am o processo dizem que a Lactalis pagou ágio em relação ao R$ 1,4 bilhão oferecido pela Lala.

Pela primeira vez desde sua fundação, em 1948, a Itambé não estará nas mãos dos produtores rurais.

O negócio ainda está pendente de aprovação pela Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica), mas, nesta terça-feira (6), Patrick Sauvageot, presidente-executivo da Lactalis para América Latina, esteve na Itambé para se apresentar à equipe. A operação deve ser concluída no primeiro semestre de 2018.

O negócio também inclui um acordo de fornecimen­to de leite de longo prazo entre a CCPR e a Lactalis. Em comunicado enviado aos colaborado­res, a Lactalis informa que o objetivo da “parceria estratégic­a” é “criar o líder nacional de produtos lácteos”.

Com a aquisição da Itambé, a Lactalis se firma como a maior compradora de leite do Brasil, ultrapassa­ndo a suíça Nestlé. No ano passado, a Nestlé captou 1,69 bilhão de litros, seguida pela Lactalis, com 1,62 bilhão, e pela CCPR/ Itambé, com 1,1 bilhão, conforme ranking elaborado pela Associação Leite Brasil.

A Lactalis chegou ao país após adquirir os ativos que pertenciam à BRF, quando a companhia decidiu deixar de atuar em lácteos. Foram compradas marcas como Batavo e Elegê, além das fábricas.

Os franceses são competitiv­os no Brasil em leite longa vida e queijo, mas perdem para Nestlé e Danone em produtos de maior valor agregado, como iogurte. Com a Itambé, ganharão força também em leite em pó e leite condensado. PODER DE BARGANHA Após a conclusão venda, a CCPR, que já teve problemas com alto endividame­nto, ganhará expressiva disponibil­idade de caixa. Mas os produtores podem perder poder de barganha na venda do leite.

Quando os Batista venderam a Vigor, a CCPR pediu apoio de Codemig (Companhia de Desenvolvi­mento de Minas Gerais) e BNDES para exercer o direito de preferênci­a e evitar o negócio com a Lala.

A Codemig chegou a aprovar uma injeção de R$ 587 milhões na CCPR, mas o empréstimo nunca foi feito.

A nova diretoria da CCPR preferiu fechar o negócio com a Lactalis. CCPR, Itambé e Lactalis não foram localizado­s pela reportagem para comentar a transação.

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Divulgação Fábrica de lácteos da Itambé; empresa foi adquirida agora pelos franceses da Lactalis

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