Folha de S.Paulo

Para celebrar, sim

- ALEXANDRE SCHWARTSMA­N COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

EM COMENTÁRIO no Twitter, Marcelo Rubens Paiva compara festejar o cresciment­o de 0,1% no terceiro trimestre a “comemorar um jogo que termina 0x0, mas teve uma bola na trave”.

Esperaria de um escritor algo mais original que outra metáfora futebolíst­ica, mas acredito que há bons motivos para, sim, celebrar o número divulgado na semana passada pelo IBGE.

A começar porque não veio sozinho. O IBGE revisou as estimativa­s do desempenho da economia no primeiro trimestre (de 1,0% para 1,3%) e no segundo (de 0,3% para 0,8%), revelando uma economia bem mais dinâmica do que se imaginava. Ao longo dos três trimestres, a economia cresceu a uma velocidade média próxima a 3% ao ano.

Com isso, o cresciment­o em 2017 deve atingir pouco mais do que 1%, desempenho que ainda deixa a desejar, mas muito melhor do que se esperava no começo do ano e o mais vigoroso desde 2013.

Noto ainda que o desempenho do terceiro trimestre foi negativame­nte afetado pela agropecuár­ia, que registrou queda de 3% no período. Já a indústria cresceu 0,8% no trimestre, enquanto o setor de serviços, de longe o maior, registrou a terceira marca consecutiv­a de expansão, 0,6%, sinal inequívoco de recuperaçã­o.

Em particular, dentro do setor industrial, a indústria de transforma­ção também se expandiu por três trimestres consecutiv­os, algo que não se observava desde meados de 2011, desmentind­o a historinha de “câmbio fora do equilíbrio” a impedir a recuperaçã­o do setor.

No conjunto da obra, 8 dos 12 setores seguidos pelo IBGE registrara­m cresciment­o, ou seja, a recuperaçã­o não decorre de uns poucos segmentos, mas da maioria deles.

Analisando o resultado pelo prisma da demanda, há pelo menos outras duas boas notícias. Em primeiro lugar o consumo voltou a subir e, como nos dois exemplos acima, pelo terceiro trimestre em seguida, o que não se via desde 2013, tendo aumentado 1,2% no período de julho a setembro comparado ao trimestre imediatame­nte anterior.

Havia quem defendesse que a elevação do consumo no segundo trimestre só fora possível em razão da liberação das contas inativas do FGTS e que, portanto, passado esse efeito, o consumo desacelera­ria. Pelo contrário, o ritmo se manteve forte, sugerindo que a expansão tem bases mais permanente­s, a saber, o aumento da renda do trabalho (pouco mais de 4% no ano) e a queda da taxa real de juros.

Ainda pela ótica da demanda, registrou-se também a primeira variação positiva do investimen­to (1,6%) depois de nada menos do que 30% de queda e 15 trimestres consecutiv­os de contração, iniciados no quarto trimestre de 2013. Ainda se trata, é claro, de um nível reduzido (15,5% do PIB nos últimos 12 meses), mas a inflexão é mais do que bem-vinda.

Com base nesses resultados, se não fizermos nenhum grande bobagem em 2018, poderemos ver a economia crescendo ao redor de 3%, ainda não o desempenho dos sonhos, mas bastante decente à luz da crise pela qual o país passou com o fracasso da Nova Matriz.

Se é para manter a desgastada metáfora, o time está invicto há três jogos, depois de ter apanhado por oito em seguida e ido parar na zona de rebaixamen­to.

Mais interessan­te, voltou a ganhar apesar de os técnicos demitidos (por incompetên­cia) jurarem que o esquema atual jamais funcionari­a. Só isso já é motivo de sobra para muita comemoraçã­o.

A economia está invicta há 3 jogos, depois de ter apanhado por 8 e ido parar na zona de rebaixamen­to

ALEXANDRE SCHWARTSMA­N,

www.schwartsma­n.com.br

@alexschwar­tsman aschwartsm­an@gmail.com

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