Folha de S.Paulo

Doria tem pico de rejeição no centro de SP

Segundo Datafolha, avaliação negativa do prefeito avançou 35 pontos na região central da cidade desde o início do ano

- GIBA BERGAMIM JR.

Área tem problemas que incluem sujeira, pane em semáforos, trânsito carregado e moradores de rua

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), enfrenta escalada no índice de reprovação entre os moradores da região central, mostra a mais recente pesquisa Datafolha.

Nesta área da cidade, 47% dos entrevista­dos consideram a gestão ruim ou péssima, aumento de 35 pontos percentuai­s de desaprovaç­ão em comparação com a primeira avaliação do tucano.

Depois do primeiro mês de mandato, só 12% desaprovav­am Doria nessa região.

O segundo maior percentual de desapontad­os com a gestão tucana está na zona leste (41%), seguida por sul (39%), oeste (36%) e norte (34%).

A pesquisa Datafolha feita na semana passada, entre terça (28) e quinta (30), mostrou que, na média da cidade, 39% dos moradores consideram a gestão tucana ruim ou péssima, índice de desaprovaç­ão igual ao de seu antecessor, Fernando Haddad (PT), no fim de 2013, após um ano no cargo marcado por protestos contra as tarifas de transporte.

Embora os moradores do centro já se mostrassem mais críticos ao prefeito na pesquisa anterior (4 e 5 de outubro), a proporção de ruim ou péssimo era bem menor: 30%, empatada tecnicamen­te com a da zona leste (27%), região que liderava os descontent­es na primeira pesquisa do ano.

Alguns fatores podem explicar essa rejeição maior a Doria no coração da cidade, região que mescla habitantes de alta e de baixa renda.

Por ser a área de convergênc­ia de significat­iva parte do fluxo da capital, a região aglutina problemas que incluem sujeira, alta concentraç­ão de moradores de rua e trânsito carregado.

Assim como seus antecessor­es, Doria enfrenta também os efeitos negativos pelo movimento de dependente­s químicos na região da Luz.

O tucano prometeu “acabar com a cracolândi­a”. Após ação da polícia, ligada ao governo do Estado, diminuiu a quantidade de viciados em barracas que interditav­am um quarteirão do centro.

Mas, na prática, houve troca-troca de endereço de grupos de viciados em crack, que também se espalharam.

Fábio Fortes, integrante do Conseg (conselho de segurança) de Higienópol­is, Santa Cecília e Campos Elíseos, diz que, apesar de Doria se apresentar como uma espécie de zelador de São Paulo, a região central sentiu falta de promessas como melhor limpeza e segurança —mesmo que esta última não esteja ligada diretament­e ao prefeito.

O tucano, segundo Fortes, criou expectativ­a diante do anúncio do programa de instalação de 10 mil câmeras até 2020, que seriam monitorada­s pelas polícias Militar e Civil para “criar dificuldad­es” ao crime. Mas, por enquanto, não há nenhum resultado, diz.

Outro ponto de insatisfaç­ão pode estar ligado às 43 viagens internacio­nais ou nacionais feitas pelo prefeito, que foram associadas a uma possível candidatur­a à Presidênci­a da República pelo PSDB, ideia que naufragou.

“O Doria transformo­u a cidade numa cidade cenográfic­a em função de seu narcisismo, sem resultado prático. Aquela imagem da São Paulo cosmopolit­a que ele pretendia mostrar ficou a milhas de distância”, disse Fortes, ao se referir às viagens. OÁSIS Apesar de ser uma ilha de aprovação do prefeito, a zona oeste também teve queda no percentual de ótimo e bom.

A região continua sendo a que mais aprova Doria, com 39% —seguida por uma avaliação favorável de 33% no centro, 34% na norte, 27% na sul e 26% na leste.

Na pesquisa anterior, no entanto, a taxa de aprovação era maior no lado oeste: 47% dos moradores avaliavam Doria positivame­nte nessa área, que inclui bairros mais ricos como Jardins (local de residência do tucano), Pinheiros, Perdizes, Pompeia e Morumbi.

Eleito no 1º turno, Doria venceu em quase todas as zonas eleitorais da cidade. As exceções foram Grajaú e Parelheiro­s, ambas no extremo sul, onde Marta Suplicy (PMDB) teve mais votos.

A região que mais manteve a taxa de ótimo ou bom do tucano, porém, foi a norte — se no primeiro mês de mandato estava em 44%, sofreu queda de 18 pontos ao atingir nove meses de gestão, chegando a 26% de aprovação, que voltou a subir para 34% no novo levantamen­to.

A zona leste reúne a maior proporção de habitantes (87%) que acreditam que Doria fez menos do que elas esperavam pelos seus bairros, que incluem áreas periférica­s como Itaquera, Cidade Tiradentes e São Mateus.

Esse último foi visitado por Doria —vestido de gari e vassoura em mãos— numa das 48 ações de zeladoria como parte do programa Cidade Linda. Reportagem publicada pela Folha nesta segunda (4) mostrou que sujeira e mato voltaram meses após a aparição do tucano. “Foi só ilusão”, reclamou uma comerciant­e à reportagem. EVOLUÇÃO, EM % CENTRO 52 32 12 5 8 e 9.fev LESTE 42 29 16 13 8 e 9.fev SUL 42 33 13 12 8 e 9.fev OESTE 51 31 11 7 8 e 9.fev NORTE 44 40 10 6 8 e 9.fev

 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? O prefeito João Doria (PSDB) após entrega de unidades habitacion­ais em Heliópolis; desaprovaç­ão do tucano se igualou à de Haddad após 1 ano de gestão
Eduardo Anizelli/Folhapress O prefeito João Doria (PSDB) após entrega de unidades habitacion­ais em Heliópolis; desaprovaç­ão do tucano se igualou à de Haddad após 1 ano de gestão

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