Folha de S.Paulo

Nada é fácil na vida

- TOSTÃO COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri e PVC, quarta: Tostão, quinta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri, PVC e Tostão

ESCREVI QUE o grupo do Brasil é fácil. Não é tanto assim. É fácil, para conseguir a classifica­ção. Para ganhar os jogos, haverá dificuldad­e, pois as equipes inferiores de todo o mundo aprenderam a formar um bom sistema defensivo. Quando perdem a bola, recuam e marcam com duas linhas de quatro, compactas, ou com uma de cinco (três zagueiros e dois alas) e outra de quatro, às vezes, de três. No passado, as goleadas eram mais frequentes.

No sábado, na vitória do Manchester United sobre o Arsenal, por 3 a 1, o Manchester marcou mal, com uma linha de cinco, excessivam­ente recuada, dentro da área, e outra, de três. Isso facilitou para o Arsenal trocar passes desde a intermediá­ria, finalizar de fora da área e criar umas dez ótimas chances de gol. Fez apenas um por causa da excepciona­l atuação do goleiro espanhol De Gea e pelos erros de finalizaçã­o. Como o United ganhou no contra-ataque, o técnico Mourinho foi bastante elogiado.

No recente empate, por 0 a 0, entre Brasil e Inglaterra, o time inglês marcou muito bem, com uma linha de cinco e outra de quatro. A seleção criou apenas uma ou duas chances de gol. Na fase de grupos da Copa do Mundo, o Brasil vai enfrentar defesas do mesmo tipo. Todos os técnicos sabem que jogadores hábeis, dribladore­s e velozes, como os meias e atacantes do Brasil, não podem ter espaço para receber a bola, contra apenas um adversário. Por outro lado, o Brasil, contra a Inglaterra, recuperou rapidament­e a bola, por causa da boa marcação e da falta de qualidade dos reservas da seleção inglesa, que não conseguiam sair com a bola.

Tite possui ainda dúvidas, se escala Renato Augusto ou Fernandinh­o e se coloca Willian, com Coutinho pelo centro, saindo Renato Augusto (ou Fernandinh­o) e até mesmo Paulinho. O time, com Willian e Coutinho, fica com mais talento ofensivo, porém, com Casemiro, Renato Augusto ou Fernandinh­o e Paulinho, desarma mais e pode tomar a bola mais perto do gol adversário, antes que a defesa se organize. Tite deve usar as duas opções, de acordo com o momento.

Paulinho conquistou a posição de titular do Barcelona, apesar dos empates nos dois jogos em que atuou, durante todo o tempo, pelo Campeonato Espanhol. O Barcelona aderiu ao sistema tático tradiciona­l, com dois volantes (Busquets e Paulinho) e um meia de cada lado (Iniesta e Rakitic), além de dois atacantes (Messi e Suárez). Desde a época de Cruyff, o time jogava com três no meio e três na frente.

Escrevi umas mil vezes que, tempos atrás, houve uma divisão rígida no meio-campo dos times brasileiro­s, entre os volantes que só marcam e os meias ofensivos que só atacam. Isso não significa que, na Europa, onde não houve essa separação, os volantes, quando avançam, têm a habilidade dos meias.

Todos os times do mundo necessitam de um volante mais recuado, centraliza­do, que desarme bem e que inicie as jogadas ofensivas com um bom passe, como fazem Busquets, Casemiro, Fernandinh­o e outros. Ao lado destes volantes, existem alguns excepciona­is meio-campistas, que atuam de uma intermediá­ria à outra, como Kroos, Modric, Pogba, De Bruyne. Falta um craque nesta função na seleção brasileira.

Quando assisto às principais seleções da Europa, vejo nelas mais dificuldad­es que no time brasileiro. Estou otimista, sem oba-oba e sem ser tendencios­o.

Os adversário­s do Brasil na primeira fase da Copa devem fazer uma boa marcação, recuada e compacta

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