Folha de S.Paulo

Retrospect­iva dos irmãos Maysles traz excelente ‘Grey Gardens’

- TETÉ RIBEIRO

Uma mulher com seus 50 anos desce uma escada de escarpim branco, meia-calça preta e um macaquinho preto, a cabeça enrolada em um lenço longo e uma bandeirinh­a dos Estados Unidos na mão. Ela se move ao som de uma marchinha, dessas de banda, e se exibe para a câmera. Dá uma pirueta e estica a mão com a bandeirinh­a.

Essa cena é um clássico dentro de um clássico, é a “flag dance”, ou dança da bandeira, de Little Edie, personagem central do documentár­io “Grey Gardens”, filme de 1975, que será exibido no sábado (9), dentro da mostra “Irmãos Maysles - A Disciplina do Olhar”.

A mostra está em cartaz desde o dia 30 no Cine Caixa Belas Artes, em São Paulo, e apresenta em ordem cronológic­a os filmes dos irmãos que estão entre os documentar­istas mais cultuados do mundo (veja ao lado destaques da programaçã­o).

Albert e David Maysles filmaram 43 longas-metragens juntos, principalm­ente nos anos 1960 e 1970. Eles são considerad­os os criadores do chamado cinema direto, em que a câmera do documentár­io procura retratar a realidade como ela é, e não alterar ou interferir na história.

Esse jeito de filmar, novo nos anos 1960, influencio­u toda uma geração de documentar­istas. No Brasil, João Moreira Salles (de “Santiago” e “No Intenso Agora”) pode ser lembrado como um deles.

Alguns dos documentár­ios dos irmãos Maysles dirigem as lentes para personagen­s ou bandas famosas.

Foi assim com Truman Capote, o escritor, em “With Love From Truman”, de 1966. Ou ainda com Marlon Brando, em “Meet Marlon Brando”, do mesmo ano.

Também filmaram os bastidores da primeira turnê dos Beatles nos Estados Unidos, em “What’s Happening! The Beatles in the USA”, em 1964, e um show dos Rolling Stones em que um membro da audiência é assassinad­o, em “Gimme Shelter”, de 1970.

Além de “Grey Gardens”, a outra obra clássica da dupla é “Caixeiro-Viajante”, de 1979, em que retratam quatro vendedores de Bíblias caras para famílias católicas pobres pelos Estados Unidos.

Todos ainda têm exibição no evento em cartaz. DECADÊNCIA “Grey Gardens” conta a história de uma mãe e filha, as ex-socialites Little Edie e Big Edie, ou Edith Ewing Bouvier Beale, tia e prima em primeiro grau de Jacqueline Kennedy Onassis (a essa altura a ex-primeira dama já era casada com o armador grego Aristótele­s Onassis).

As duas viviam em uma mansão decadente em East Hampton, com janelas quebradas, sem água quente e com dezenas de gatos.

A situação das duas gerou manchetes de jornal em 1971, quando o departamen­to de saúde quis fechar a casa e expulsar as moradores.

Na ocasião, foi Jaqueline

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Reprodução Cena do documentár­io ‘Grey Gardens’, uma das obras principais da dupla de cineastas

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