Folha de S.Paulo

Flip terá Hilda Hilst como homenagead­a da edição de 2018

Escolha marca processo de populariza­ção da autora, que terá maior parte de sua obra publicada até o evento

- MAURÍCIO MEIRELES

Escritora, que tem biografia prevista para 2020, terá lançamento de prosa completa, teatro, cartas e crônicas FOLHA

A autora homenagead­a da Flip (Festa Literária Internacio­nal de Paraty) em 2018 será Hilda Hilst (1930-2004), anunciou a organizaçã­o do evento na tarde desta terça-feira (5).

A escolha vem em um momento de maior difusão de sua obra —algo que Hilda não viu em vida, por ser considerad­a dona de uma literatura difícil. Ela chegava a brincar com a afirmação de que sua obra fosse uma “tábua etrusca”.

Para que se tenha uma ideia, entre 2015 e 2016 as vendas de sua obra —à época na Globo Livros— saltaram 200%. Os detentores dos direitos também dizem dar autorizaçã­o para duas montagens de peças da autora paulista por mês.

Sua obra hoje está na Companhia das Letras, que lançou neste ano sua poesia completa e prepara um volume da prosa para 2018. A casa também assinou contrato com a editora Ana Lima Cecílio para uma biografia.

“A Hilda é autora de uma obra densa, que inclui poesia, prosa, teatro. Como pessoa pública, tinha muitas ideias e não era nem um pouco banal ou óbvia”, diz Joselia Aguiar, curadora pela segunda vez da festa literária. NO BONDE E NO SALÃO Além do que está previsto para 2018 pela Companhia das Letras, Daniel Fuentes, herdeiro da autora, negocia com outras casas novos livros.

“Quando fechamos [contrato] com a Companhia das Letras, deixamos alguns itens de fora, como o teatro, crônicas e cartas. Devemos chegar à Flip também com outras obras publicadas”, diz ele.

“A Hilda ia estar muito contente. Ela dizia que seu sonho era ter a obra lida nos bondes, nos salões de beleza, nas ruas —acho que está chegando essa hora.”

Ao lado de Lima Barreto, celebrado pela Flip neste ano, Hilda era havia vários anos um dos nomes que circulavam como uma possível homenagead­a do evento.

Autora de livros como “Cantares de Perda e Predileção” e “Fluxo-Floema”, além de uma obra marcada pelo erotismo, como em “O Caderno Rosa de Lory Lamby”, Hilda é considerad­a um dos grandes nomes da literatura brasileira.

Embora leitora de Carlos Drummond de Andrade e João Cabral de Melo Neto —duas linhas de força da poesia brasileira—, na poesia alinhase muito mais a portuguese­s, com uma obra que trata do amor, da morte e da transcendê­ncia, entre outros temas.

Em 1996, isolou-se na Casa do Sol, uma chácara em Campinas, para se dedicar à literatura. Lá, funciona o instituto que leva seu nome.

A curadora da Flip lembra que, enquanto Lima Barreto estava ligado a questões sociais, Hilda se relaciona mais a temas existencia­is, que devem pautar o evento literário.

Com o anúncio, a festa também abre o seu Programa de Patronos para 2018. Pessoas físicas podem ajudar a financiar a festa por meio de mecenato, recebendo benefícios como ingressos. Oswald de Andrade Carlos Drummond de Andrade Graciliano Ramos Millôr Fernandes Mário de Andrade Ana Cristina Cesar Lima Barreto Hilda Hilst

A poeta, romancista e dramaturga Hilda Hilst posa para foto, em janeiro de 1958

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Acervo UH/Folhapress

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