Folha de S.Paulo

Exposição em SP reúne estudos médicos de indígenas huni kuin

Mostra torna-se espaço de compreensã­o cultural de tribos do Acre

-

Com mais de 13 mil pessoas, os huni kuin representa­m a maior população indígena do Acre. Entre eles, há uma divisão de 36 tribos, cada uma das quais com sua própria história, ensinament­os e diferentes métodos de cura.

Em 1988, o pajé Agostinho, da Centro de Memória Aldeia São Joaquim, teve a iniciativa de reunir pesquisas realizadas pelas tribos da região, como o registro de plantas medicinais.

Parte deste resultado pode ser visto na exposição “Una Shubu Hiwea - Livro Escola Viva”, a partir desta quarta (6), no Itaú Cultural. O acervo exposto reúne desenhos, estudos, histórias e vídeos produzidos pelos próprios índios.

“Essa é a forma que encontramo­s de unir nossos conhecimen­tos para que nossa tribo nunca perca a cultura”, explica o pajé Dua Buse, da aldeia Coração da Floresta, que idealizou o projeto.

“Aqueles que estão nascendo não sabem que já fizemos bastante pela medicina e pesquisamo­s várias espécies da natureza”, diz Buse.

Os índios consideram a proteção cultural não apenas uma forma de manter a história mas de fortalecê-la.

Uma das curadoras da exposição, a editora Anna Dantes acompanha os povos da região desde 2011.

Na época, ela participou do lançamento do primeiro livro com estudos dos huni kuin,“Una Isi Kayawa - Livro da Cura” (2014). Agora, a mostra disponibil­iza uma reedição.

Após período de aprendizad­o com os índios, Dantes analisa que falta formação às crianças que estudam em escolas tradiciona­is e que não têm conhecimen­to sobre mitos e diferentes culturas.

“Percebo que nas tribos, por mais que haja aulas, como de matemática, as crianças têm liberdade. Fica muito claro que o ensino sobre os cantos, por exemplo, as motiva e as anima”, diz Dantes. CINCO TEMPOS Longe da cronologia tradiciona­l, a história dos huni kuins é dividida em cinco tempos, contemplad­os na mostra: o primeiro é o das malocas, quando viviam nus, antes do contato com os brancos.

O segundo é o tempo da correria, quando foram contatados por homens com armas de fogo e foram reduzidos a cerca de 300 pessoas.

O tempo do cativeiro é o terceiro; nele, os índios se tornaram reféns dos seringalis­tas que implementa­ram o sistema escravista­s dos barracões, sob o qual nasceram todos os huni kuins atuais.

A partir da década de 1970, foi instaurado o tempo dos direitos, a partir de formulaçõe­s dos antropólog­os na constituiç­ão das cooperativ­as e na delimitaçã­o dos território­s.

Atualmente, eles vivem o novo tempo, que alia a transmissã­o das tradições entre velhos e jovens a intercâmbi­os com o mundo do século 21.

Hoje em dia, mesmo o contato com as novas tecnologia­s pelos índios tem como objetivo a manutenção da própria cultura, diz a curadora.

A relação com animais sagrados da cultura, como a jiboia, propicia um exemplo. Tadeu Siã Txana Hui Bai, da aldeia São Joaquim e filho do pajé Agostinho, explica que “a jiboia simboliza o planeta, o ensino, a ciência e o conhecimen­to da medicina”.

“Eles não têm interesse na tecnologia para deixar a cultura para trás. Os jovens já elaboraram, por exemplo, um videogame com a história da jiboia”, explica Dantes. (IM) QUANDO nesta quarta (6), às 20h, até 13/2; de ter. a sex., 9h às 20h, e sáb., dom. e feriado, 11h às 20h QUANTO grátis ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149; tel. (11) 2168-1777 CLASSIFICA­ÇÃO livre

 ?? Eduardo Anizelli/Folhapress ?? O cacique Dua Buse durante a montagem da mostra sobre indígenas da etnia huni kuin
Eduardo Anizelli/Folhapress O cacique Dua Buse durante a montagem da mostra sobre indígenas da etnia huni kuin

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil