Folha de S.Paulo

Rei morto, rei posto

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RIO DE JANEIRO - Como os que o antecedera­m e os que o sucederão, o bandido mais procurado do Rio, Rogério 157, caiu. É a lei geral para os traficante­s cariocas: quando não são presos, acabam assassinad­os. Não raro, passam pelas duas coisas.

Pode levar mais ou menos tempo —o até então chefe do tráfico na Rocinha trocava de esconderij­o a cada dois dias, segundo a polícia; além disso, em certos casos a liberdade pode ser comprada de policiais corruptos—, mas esse ramo do crime não forma aposentado­s. Rogério Avelino da Silva já havia sido preso em 2010, depois da invasão ao hotel Interconti­nental, em São Conrado. Dois anos depois, foi solto com um habeas corpus.

Seu retorno ao sistema prisional certamente será mais longo, mas e daí? Como disse o secretário de Segurança Roberto Sá, “a história do Rio, infelizmen­te, mostra que essas pessoas são sucedidas [por outros chefes]”. Não existe vácuo de poder, ainda mais numa cidade em que três facções e incontávei­s milícias disputam o controle territoria­l com o Estado. Pouco após a prisão de 157, os tiroteios entre gangues rivais voltaram à Rocinha.

Sá, o mais recente dos enxugadore­s de gelo no comando da segurança do Rio, disse outra frase esclareced­ora: “A gente tem mantido uma média de 4.000 prisões por mês”. É um número inacreditá­vel. Mais do que isso, é deprimente: tanta gente sendo presa, e é impossível encontrar um carioca que esteja se sentindo mais seguro.

De resto, na ação desta quarta (6), a polícia mostrou novamente que não perde uma chance de fazer bobagem. Num dia que lhe deveria ter sido totalmente favorável, a corporação teve de explicar o comportame­nto ilegal e sem noção de seus agentes, que fizeram selfies sorridente­s com o bandido. Curiosamen­te, ele também aparece rindo em uma delas, como se numa reunião de amigos. marco.canonico@grupofolha.com.br MATIAS SPEKTOR

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