Folha de S.Paulo

Um novo olhar sobre a cultura

- SERGIO SÁ LEITÃO

Está mais do que na hora de transforma­r o modo como a cultura, a política cultural e a Lei Federal de Incentivo à Cultura são encaradas no Brasil.

As atividades culturais e criativas constituem um setor cada vez mais relevante da economia brasileira, respondend­o por 2,64% do PIB, 1 milhão de empregos diretos, 200 mil empresas e instituiçõ­es e cerca de R$ 10,5 bilhões em impostos diretos —mais do que a indústria de eletroelet­rônicos, por exemplo.

Trata-se de um front de desenvolvi­mento econômico para o qual o Brasil demonstra grande vocação. E que apresenta alto impacto na geração de renda, emprego e inclusão, além de baixo impacto ambiental. Há ainda vasto potencial de cresciment­o. Estudo recente da consultori­a Pricewater­houseCoope­rs estima em 4,6% ao ano a taxa média de expansão do setor nos próximos cinco anos, acima da previsão para o conjunto da economia.

A política cultural deve ser vista pela sociedade (e realizada pelos governos) também como cardápio de ações de promoção de desenvolvi­mento econômico, com o objetivo de estimular o cresciment­o de um setor que contribui imensament­e ao país. E pode contribuir mais. Cultura gera renda, gera emprego, gera inclusão, gera desenvolvi­mento. Acima de tudo, gera futuro.

Do mesmo modo, a Lei Federal de Incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet, deve ser vista (e gerida pelo MinC) como instrument­o de política econômica, visando ampliar o financiame­nto de projetos culturais realizados por empresas pequenas, médias e grandes de todas as regiões do país e de todos os segmentos da economia criativa. Quem ganha com isso é o conjunto da sociedade, não só os artistas.

A concessão de incentivos fiscais tem sido uma das formas pelas quais governos em todo o planeta estimulam o cresciment­o de setores estratégic­os da economia. Há no Brasil incentivos variados em diversas áreas. É importante lembrar que incentivos à cultura (Lei Rouanet, Lei do Audiovisua­l e Recine) somam apenas 0,64% do total, em nível federal. Para o país, é muito pouco; para a cultura, é fundamenta­l.

Ao longo de 26 anos de existência, a Lei Rouanet injetou cerca de R$ 16,5 bilhões na economia criativa, com 50,4 mil projetos realizados de teatro, dança, circo, cinema, literatura, artes visuais, música, design, patrimônio cultural e festas populares, entre outros segmentos. Para 2017, o incentivo previsto é de R$ 1,15 bilhão. Com isso, estão sendo gerados dezenas de milhares de empregos; sem contar os impostos, que superam a renúncia.

A gestão atual do MinC enxerga a cultura como setor estratégic­o da economia, sem esquecer a dimensão simbólica e o impacto na constituiç­ão da identidade nacional, na formação do capital humano e no estímulo à diversidad­e e à tolerância. E trata a Lei Rouanet como um meio de promoção do cresciment­o deste setor. Uma maneira vencedora de promover o desenvolvi­mento do país e o bem-estar da sociedade.

As recentes mudanças empreendid­as pelo MinC na Instrução Normativa (IN) e na gestão da Lei Rouanet tiveram por objetivo obter melhores resultados econômicos, sociais e culturais, com mais eficiência, transparên­cia e rigor; e menos burocracia. O número de artigos da IN caiu pela metade. O processo agora funciona 100% online. E há indutores específico­s para a descentral­ização de investimen­tos e a ampliação do alcance dos projetos.

Além de simplifica­r as regras e aperfeiçoa­r a gestão da Lei Rouanet, o MinC reforçou a fiscalizaç­ão e a análise das prestações de contas. Com isso, espera-se elevar a credibilid­ade do instrument­o e seu impacto no desenvolvi­mento da economia criativa brasileira. O próximo passo será promover ajustes no texto da Lei Rouanet, para modernizá-la (e, assim, elevar suas externalid­ades positivas). A cultura é um dos maiores ativos econômicos do Brasil e deve ser tratada como tal. SERGIO SÁ LEITÃO

A pesquisa mostra a realidade nua e crua da honradez dos congressis­tas. São, contudo, amostras do eleitorado brasileiro. Grande parte os critica, mas gostaria de estar no lugar deles, perpetrand­o as mesmas vigarices. Devolver objetos que não são seus e não estacionar em locais destinados a deficiente­s ou idosos, por exemplo, passaram a ser condutas raras. Essa falta de civismo se revela nas eleições.

JOSÉ DE SOUSA SANTOS

Avaliação de Doria

Enquanto o mundo discute a questão de gênero nas escolas para que exista respeito às diferenças, evitando o feminicídi­o, a gravidez precoce e a violência gerada pelo preconceit­o, o Brasil segue a orientação de uma bancada “religiosa”, que usa o tema de forma distorcida para angariar votos dos ignorantes e mal informados sobre o assunto. Triste assistir a esse retrocesso.

OFELIA MAIA PERES SABBAGH

Forças Armadas Sobre a reportagem “Escândalo de R$ 150 milhões atinge Exército” (“Poder”, 6/12), seria bom se os experiente­s repórteres investigat­ivos da Folha achassem os militares apontados na denúncia e verificass­em se encontram os famosos “sinais aparentes de riqueza”, ou seja, um estilo de vida que não coincide com o mísero soldo recebido pelos militares. Se encontrare­m algo fora do padrão, cadeia neles! Se não, é só mais uma notícia querendo denegrir as Forças Armadas.

FREDERICO D’AVILA

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