Folha de S.Paulo

Segovia vira ‘sindicalis­ta’ no início da gestão à frente da PF

Diretor se dedica a pautas corporativ­as e tenta conter racha na instituiçã­o

- WÁLTER NUNES

Entre os temas que foram tratados estão a reforma da Previdênci­a Social e a autonomia orçamentár­ia do órgão

O delegado Fernando Segovia foi anunciado como novo diretor-geral da Polícia Federal em 8 de novembro. No mesmo dia chamou para uma conversa os representa­ntes dos sindicatos de policiais federais.

Naquela noite o Corinthian­s, time cujo escudo ele tem tatuado no braço direito, jogaria contra o Atlético Paranaense e uma vitória significar­ia pôr a mão na taça de campeão brasileiro. Havia, porém, uma disputa mais urgente na sua agenda.

No dia anterior policiais federais protestara­m na Câmara durante a votação na CCJ (Comissão de Constituiç­ão e Justiça) de um projeto de emenda constituci­onal que prevê a autonomia administra­tiva e orçamentár­ia da PF.

Os delegados pediam a aprovação da emenda. Já peritos, agentes, papiloscop­istas e escrivães eram contra a PEC. O desacordo na categoria foi usado por parlamenta­res para adiar a votação.

O episódio é o retrato do racha que se prolonga na PF há anos. A ADPF (Associação dos Delegados da Polícia Federal), que representa os delegados, com frequência entra em confronto com a Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) e outros sindicatos que defendem os interesses dos profission­ais das outras carreiras da PF.

A associação queria emplacar um diretor-geral vinculado à entidade. Elegeu uma lista tríplice e entregou ao presidente Michel Temer. Os outros sindicatos foram contra. Na ocasião do anúncio de Segovia, os sindicalis­tas divulgaram nota conjunta, sem a ADPF, saudando o novo comandante.

Segovia assumiu pregando a união interna. O delegado Sandro Avelar foi chamado para a diretoria-executiva, segundo cargo na hierarquia. Avelar foi presidente da ADPF e na ocasião comandava a Fenadepol (Federação Nacional dos Delegados de Polícia), mas transita com desenvoltu­ra também nos sindicatos dos agentes, peritos, papiloscop­istas e escrivães.

Foi secretário de Segurança Pública do Distrito Federal no governo de Tadeu Filipelli (PMDB), o que lhe rendeu a fama de ter facilidade no trato com políticos. PREVIDÊNCI­A Na quinta-feira (23) Sandro Avelar se reuniu na sede da PF com sindicalis­tas para discutir a reforma da Previdênci­a, pauta que unifica o discurso da categoria. Desta vez, havia representa­nte da ADPF na mesa de negociação. Na terça (28), Segovia foi até o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com reivindica­ções sobre a idade mínima para aposentado­ria, paridade e integralid­ade. Conseguiu, em primeira hora, agradar a todos os comandados.

“O sentimento é que fomos realmente ouvidos”, disse Marcos Camargo, presidente da APCF (Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais). Mas vem da associação dos delegados a ressalva. “O resultado foi bom, mas espero que ele [Segovia] não escolha para debater apenas pautas em que o clima é convergent­e. Há assuntos que precisam ser enfrentado­s e que são bons para a polícia, apesar de não haver consenso sobre o assunto”, diz Carlos Eduardo Sobral, que até sexta (1/12) presidia a ADPF.

Avelar diz que as negociaçõe­s com os sindicatos serão parte da rotina.

“Nós estamos sentando com toda a categoria, procuramos pacificar a Polícia Federal. Isso é importante para trazer melhores resultados para a própria polícia”, diz.

“O assunto principal desta vez foi Previdênci­a, mas todos os assuntos nós vamos tratar assim. Queremos ter transparên­cia e unir a PF.”

Se o esforço para conquistar o público interno vem dando resultado, da porta para fora a nova direção é vista com desconfian­ça.

Para chegar ao topo da Polícia Federal, Fernando Segovia contou com a simpatia de Moreira Franco, José Sarney e Eliseu Padilha, todos investigad­os em operações policiais, incluindo a Lava Jato.

Logo no discurso de posse ele agradou a Michel Temer ao concluir que uma mala repleta de dinheiro não serviria de prova de corrupção, o que se encaixou à defesa do presidente, acusado de receber suborno da JBS.

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Pedro Ladeira - 14.nov.2017/Folhapress O novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia

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