Assessores trabalhavam para mãe de Geddel
Três servidores da Câmara disseram à Polícia Federal que cumpriam expediente na casa de Marluce Vieira Lima
Advogado da família disse que não teve acesso aos depoimentos; assessores não quiseram se manifestar
Com salário pago pela Câmara dos Deputados e lotada no gabinete do deputado federal Lúcio Vieira Lima (PDMB), a secretária parlamentar Milene Pena afirmou em depoimento à Polícia Federal que trabalhava no apartamento da mãe do deputado, Marluce Vieira Lima, 79, e cumpria tarefas como fazer compras em shoppings.
Além de Milene Pena, outros dois secretários parlamentares lotados no gabinete do deputado Lúcio Vieira Lima —Job Brandão Ribeiro e Roberto Suzarte— afirmaram à PF que cumpriram expediente no apartamento de Marluce, em Salvador.
Juntos, os assessores têm salário mensal de R$ 29.578,08 —R$ 14.334,28 de Ribeiro, R$ 13.200 de Suzarte e R$ 2.043,80 de Pena.
Mãe de Lúcio e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), Marluce foi denunciada pela Procuradoria-Geral da República junto com os dois filhos por associação criminosa e lavagem de dinhei- ro. A acusação é referente ao bunker de R$ 51 milhões, descoberto pela Polícia Federal no início de setembro.
Na última sexta (1º), Marluce se manteve em silêncio ao prestar depoimento sobre os R$ 51 milhões à Polícia Federal em Salvador.
A mãe dos peemedebistas disse que não responderia a nenhuma pergunta por orientação de seus advogados.
A procuradora-geral, Raquel Dodge, pediu ao STF prisão domiciliar de Marluce e solicitou que ela fique proibida de “manter contato, receber em casa ou usar para fins pessoais secretários parlamentares do filho deputado”.
Segundo a Procuradoria, Marluce tinha papel ativo no esquema e teria ordenado a destruição de provas que pudessem comprometer os negócios da família.
O primeiro a admitir que trabalhava na casa da mãe de Geddel foi o assessor Job Ribeiro Brandão, colocado em prisão domiciliar após a Polícia Federal identificar suas digitais em notas do dinheiro encontrado em Salvador. Ele foi demitido após a prisão.
Nos depoimentos, Job Ribeiro, Milene Pena e Roberto Suzarte disseram nunca terem ido ao Congresso Nacional e dizem ter tomado posse do cargo por meio de procuração. Nenhum deles possui endereço eletrônico nem telefones funcionais pertencentes à Câmara.
Pelo regimento interno da Câmara, secretários parlamentares devem trabalhar no gabinete do deputado em Brasília ou no escritório de representação do mandato do parlamentar em seu Estado. Lúcio não tem escritório em Salvador e costumava despachar na sede do PMDB.
Em seu depoimento, Milene Pena afirmou que trabalha em cargos por indicação da família Vieira Lima há pelo menos 20 anos.
Foi assessora parlamentar de três deputados estaduais do PMDB da Bahia: Pedro Tavares, Marizete Pereira e Michel Hage.
Depois, passou a ser assessora parlamentar de Lúcio Vieira Lima, mas sempre cumprindo expediente na casa da mãe do deputado em um edifício de luxo no bairro do Apipema, em Salvador.
Ela afirma que “atua como secretária parlamentar, a despeito de exercer suas funções em escritório situado na residência da mãe do deputado Lúcio e de, às vezes, atender demandas da mesma”.
Roberto Suzarte, por sua vez, afirmou que atua como motorista do deputado Lúcio Veira Lima em Salvador, mas que dirige carros pertencentes à família do deputado.
Suzarte negou que realizasse serviços pessoais para a família, mas admitiu ter ido a bancosrealizarpagamentospara o deputado Lúcio Vieira Lima.
Job Brandão afirmou que atuava como secretário particular da família, e ajudou nos cuidados de Afrísio Vieira Lima, pai de Geddel e Lúcio, morto em 2016. OUTRO LADO Os assessores Milene Pena e Roberto Suzarte afirmaram que não dariam entrevista por não ter nada a acrescentar em relação ao que relataram em depoimento à Polícia Federal. O ex-assessor Job Brandão Ribeiro estava com o celular desligado.
O advogado de Lúcio e Marluce Vieira Lima, Gamil Föppel, afirmou que ainda não teve acesso aos depoimentos.