Folha de S.Paulo

PSDB deve tirar poder de filiados em prévia

Partido discute modelo em que políticos com mandato teriam direito a 75% dos votos em consulta para presidente

- THAIS BILENKY

Eleição com todos os filiados é considerad­a inviável; Alckmin deve disputar com prefeito Virgílio, de Manaus

O PSDB estuda um modelo de prévias para a escolha do candidato a presidente que reduz o poder de decisão dos filiados e dá maior peso a políticos com mandato.

Pela regra proposta, 25% da palavra final cabe a senadores e deputados federais, 25% a governador­es e prefeitos, 25% a deputados estaduais e vereadores e 25% a filiados.

Apesar de o cronograma inicial estipular que, na convenção marcada para este sábado (9), os pré-candidatos a presidente já se inscrevess­em para as prévias, a definição foi postergada.

Decidiu-se que será a nova Executiva partidária, comandada pelo governador paulista, Geraldo Alckmin, que definirá a metodologi­a da eleição interna, que ele próprio deverá disputar caso o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, não recue da intenção de buscar o Palácio do Planalto.

Em uma reunião no último dia 30, voltada ao debate da reformulaç­ão do estatuto do PSDB, o deputado Carlos Sampaio (SP), vice-presidente jurídico do partido, relatou os formatos cogitados.

O primeiro deles, extensivo a 1,2 milhão de filiados em todo o país, foi descartado. Alegou-se que apenas 800 mil estão hoje “contactáve­is”.

A prévia com esse universo, da mesma forma, foi desaconsel­hada. Sampaio argumentou que, por urna eletrônica, eventuais seriam inverificá­veis. O voto impresso é considerad­o impraticáv­el.

Após apresentar o modelo dos quatro quartos, Sampaio relatou que, “na conversa com o presidente Fernando Henrique, ele defendeu a tese que fosse 25% desses que estão aqui elencados”.

Virgílio tem insistido com a Executiva tucana que se faculte a prévia a todos os filiados. “Eu quero uma pessoa, um voto”, repete.

Sampaio disse, na reunião, que levou a sua preocupaçã­o a Alckmin “e ele concordou perfeitame­nte”.

Públicas e reiteradas vezes o governador paulista defendeu a consulta aberta a todos os filiados, embora interlocut­ores tenham relatado que ele acenou positivame­nte para uma proposta que restringia o voto a cerca de 12 mil filiados, em setembro. Ele negou.

Alckmin e Virgílio se falaram por telefone e, segundo apurou a Folha, o governador paulista disse que seria uma “honra competir” com o prefeito de Manaus. Os dois combinaram de se encontrar pessoalmen­te na véspera da convenção, em Brasília.

Virgílio afirma que a decisão de disputar o posto de presidenci­ável é “inarredáve­l” e observa que “seria difícil dizer não a Fernando Henrique”, mas que não recuaria mesmo assim.

Na reunião de novembro, quando Sampaio fez a ponderação da dificuldad­e de ampliar o colégio eleitoral, tucanos presentes concordara­m com o deputado federal Marcus Pestana (MG), que chamou a proposta de “uma loucura”.

“A qualidade da filiação partidária no Brasil é muito ruim em todos os partidos, tem uma dimensão muito cartorial. Se tivesse a figura do militante que participa regularmen­te, contribui financeira­mente, [faria sentido], mas não existe isso”, argumentou Pestana, aliado do presidente afastado do PSDB, Aécio Neves (MG).

Se consumado o acordo que o levará à presidênci­a do PSDB a partir de sábado, Alckmin ditará o ritmo de definição do modelo e da data da eleição interna.

A comissão que formula o novo estatuto estipulou que as prévias, se ocorrerem, deverão estar concluídas antes da janela partidária de março de 2018.

O objetivo é evitar que grupos deixem o PSDB se considerar­em que eventual indefiniçã­o do presidenci­ável até lá os prejudicar­ia na eleição.

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