Folha de S.Paulo

Presidente eleito do TJ-SP, Manoel Calças enfrenta resistênci­as

Segundo juízes e desembarga­dores, ele é o mais bem preparado para defender a autonomia do Judiciário

- FREDERICO VASCONCELO­S

Para opositores, práticas como nomeação ‘prepondera­ntemente’ política e gestão populista continuarã­o

O desembarga­dor Manoel de Queiroz Pereira Calças, atual corregedor-geral de Justiça, foi eleito nesta quartafeir­a (6) presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo para o biênio 2018-2019.

A eleição do sucessor do presidente Paulo Dimas Mascaretti foi decidida em segundo turno, quando Calças recebeu 213 votos, e o atual vice-presidente, Ademir de Carvalho Benedito, 124.

O terceiro candidato, desembarga­dor Eros Piceli, obteve 76 votos na primeira votação (contra 175 de Calças e 93 de Benedito).

A disputa pelo comando do maior tribunal estadual do país foi marcada por uma campanha sem troca de críticas e acusações. Os três candidatos se apresentar­am como continuado­res da administra­ção de Mascaretti.

Calças foi citado por juízes e desembarga­dores consultado­s pela Folha como o mais indicado para presidir o tribunal. Seria o mais preparado para defender a autonomia do Judiciário, lidar com as instâncias superiores da magistratu­ra e com os próximos dirigentes do Executivo e do Legislativ­o.

Ele é professor da USP e da Getúlio Vargas. Amigos do corregedor-geral preveem que o futuro presidente poderá imprimir uma gestão mais distanciad­a do modelo de juiz administra­dor que se confunde com o magistrado dirigente de entidade de classe.

É uma referência à carreira de Mascaretti, que acumulou experiênci­a política nos muitos anos em que presidiu a Associação Paulista de Magistrado­s (Apamagis).

O futuro presidente do TJSP realçou dois aspectos em sua plataforma de campanha: o conhecimen­to amplo do Judiciário paulista —como corregedor, visitou as dez regiões administra­tivas do Estado— e a necessidad­e de promover estudos para ampliar as fontes de receitas, diante da “sensível restrição orçamentár­ia” imposta pelo Executivo.

A maior resistênci­a a Calças vem de juízes de primeiro grau. Os mais próximos do futuro presidente interpreta­m essa reação como reflexo natural da atuação de um corregedor eficiente. Para um dos juízes, ele foi “o melhor corregedor-geral” que já viu.

Outro fez avaliação diametralm­ente oposta: afirmou que Calças foi “dos piores corregedor­es que vi em minha carreira”. Segundo esse magistrado, que não quis ter o nome divulgado, o novo presidente inverteu a lógica e partiu da premissa da má-fé e da desonestid­ade do juiz.

Os opositores atribuem a Calças algumas práticas semelhante­s às que criticam em Mascaretti, como a nomeação de assessores por critérios prepondera­ntemente políticos; gestão populista, postura branda com notários e escrevente­s relapsos e uso de visitas correciona­is como “visitas políticas”.

Ainda durante a campanha, Calças prometeu prestigiar os juízes de primeira instância, segmento em que encontra maior rejeição.

Ele diz que essa valorizaçã­o é uma das metas impostas pelo Conselho Nacional de Justiça. Diz que a experiênci­a como corregedor lhe permitiu “maior proximidad­e e ampla visão da situação vivenciada pelo primeiro grau”. O cargo de vice-presidente será ocupado pelo desembarga­dor Artur Marques da Silva Filho.

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Moacyr Lopes Júnior - 4.mar.2016/Folhapress Desembarga­dor Manoel de Queiroz Pereira Calças, que foi eleito presidente do TJ-SP

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