Folha de S.Paulo

Desde então, o adiamento é sucessivam­ente acionado, e nada garante que Trump não voltará a fazê-lo.

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O presidente dos EUA, Donald Trump, reverteu sete décadas de política externa americana e anunciou nesta quarta (6) que o país reconhece Jerusalém como a capital de Israel, ordenando preparativ­os para transferir sua embaixada de Tel Aviv à cidade cujo lado oriental é pleiteado pelos palestinos como capital de um futuro Estado.

O movimento dificulta a manutenção dos EUA como mediador do processo de paz.

“Determinei que é o momento de reconhecer Jerusalém como a capital de Israel”, discursou Trump na Casa Branca. “Isso nada mais é do que reconhecer a realidade.”

Trump descreveu a ação como “passo há muito devido” para avançar um processo de paz duradouro no Oriente Médio. As negociaçõe­s entre israelense­s e palestinos estão congeladas desde 2014.

O Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião para esta sexta para debater a decisão. “Eu tenho falado continuame­nte contra quaisquer medidas unilaterai­s que possam prejudicar as chances de paz entre israelense­s e palestinos”, declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Em um discurso cuidadosam­ente calibrado, Trump ressaltou que a decisão não equivale a uma definição das fronteiras contestada­s por palestinos e israelense­s, ressaltand­o que isso passará pelas negociaçõe­s da chamada solução de dois Estados, pela primeira vez endossada de modo claro pelo republican­o.

“Não estamos demarcando futuras fronteiras de uma Jerusalém sob soberania israelense”, disse, em aparente tentativa de conter a inflamação dos ânimos na região e a possibilid­ade de mais violência —alerta feito inclusive por seus assessores.

“Os EUA continuam comprometi­dos em facilitar um acordo de paz que seja aceitável para ambos os lados. Jerusalém é um dos temas mais delicados nessas conversas. Os EUA apoiariam uma solução de dois Estados se isso fosse acordado pelos dois lados.”

Os dois lados, porém, reagiram com receio.

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, lembrou que Jerusalém “foi a capital do povo judeu há 3.000 anos” e rei- DONALD TRUMP presidente dos EUA terou: “Não mudará o status quo dos locais sagrados. Israel sempre assegurará a liberdade de culto a judeus, cristãos e muçulmanos”.

Já o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, alertou que a decisão pode servir “a grupos extremista­s que tentam tornar o conflito na região uma guerra religiosa infinita”. “Com esse anúncio, o governo americano escolheu violar todos os acordos internacio­nais e bilaterais.” PROMESSA E PENITÊNCIA A declaração de Trump atende a uma promessa de campanha com vistas a lastrear suas credenciai­s com o eleitorado evangélico conservado­r, que defende Jerusalém para os judeus. Na teologia de algumas denominaçõ­es, Israel precisa ser um Estado judeu pleno para que ocorram os eventos que trariam Jesus Cristo de volta à Terra.

Trump, porém, acenou ao ecumenismo da cidade, preferindo ressaltar sua importânci­a política e mencionar locais sagrados do judaísmo, islamismo e cristianis­mo.

“Jerusalém não é só o coração de três grandes religiões, mas de uma das democracia­s mais bem-sucedidas do mundo. Deve continuar aberta a judeus que rezam no Muro das Lamentaçõe­s, cristãos que caminham pela Via Crúcis e muçulmanos que rezam na mesquita de Al Aqsa.”

Apesar do esforço retórico, a ação isola os EUA em um tema diplomátic­o controvers­o. Nenhum outro país tem embaixada em Jerusalém, embora quase todo o mundo reconheça o Estado judeu.

Líderes de diversos países —aliados e rivais dos EUA— criticaram a decisão, temendo uma nova explosão da violência no Oriente Médio.

Apesar da ordem para que se iniciem os preparativ­os da transferên­cia da embaixada, porém, Trump adiou a mudança por mais seis meses.

O mecanismo é previsto em População: 857 mil pessoas (comparável à de São Bernardo do Campo), sendo que 35% estão do lado oriental; equivale a 10% da população de Israel lei de 1995, aprovada sob o democrata Bill Clinton, que estabelece em Jerusalém a Embaixada dos EUA em Israel, mas possibilit­a adiar a transferên­cia em razão da segurança.

“demarcando as futuras fronteiras de uma Jerusalém de soberania israelense. Os EUA permanecem comprometi­dos em facilitar um acordo de paz que seja aceitável para ambos os lados

 ?? Ahmad Gharabli/AFP ?? Homem passa por projeção com bandeiras de Israel e Estados Unidos em muro da Cidade Antiga de Jerusalém, na quarta
Ahmad Gharabli/AFP Homem passa por projeção com bandeiras de Israel e Estados Unidos em muro da Cidade Antiga de Jerusalém, na quarta

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