Folha de S.Paulo

Israel recebe anúncio com euforia e medo

Enquanto ministro fala em ‘vitória do sionismo’, esquerda lamenta ausência de novas conversas de paz com palestinos

- DANIELA KRESCH

“É um presente, que liga Jerusalém ao resto do país aos olhos do mundo

Para alguns analistas, fato de Trump não ter se referido a Jerusalém como cidade unificada é saia justa para a direita

Num misto de ansiedade, euforia e temor, Israel contou as horas, nesta quarta-feira (6), para o discurso em que o presidente americano Donald Trump reconhecer­ia Jerusalém como capital do país.

Políticos e analistas se dividiram entre o entusiasmo da direita e o nervosismo do centro e da esquerda. A grande maioria dos ouvidos pela imprensa local disse apoiar a decisão de Trump, mesmo que com divergênci­as sobre a forma de pô-la em prática.

Ninguém esconde o temor de que a decisão leve a uma escalada na violência regional. Apesar disso, representa­ntes da direita saudaram:

“É um presente, uma grande vitória do sionismo, que conecta Jerusalém formalment­e ao resto do país aos olhos do mundo”, disse o ministro dos Transporte­s e da Inteligênc­ia, Yisrael Katz, do governista Likud, referindos­e à resolução da ONU que estabelece Jerusalém como “corpus separatum”, cidade

YISRAEL KATZ

ministro dos Transporte­s e da Inteligênc­ia de Israel

DANIEL SHAPIRO

ex-embaixador dos EUA em Israel sob regime internacio­nal.

“Hoje é um dia de festa, um evento histórico. É comparável à Declaração Balfour”, completou o parlamenta­r Yehuda Glick, representa­nte da ala mais à direita do Likud, lembrando o documento em que os ingleses atestavam ver “com bons olhos” a criação de um Estado judeu no território da Palestina histórica (na época, Israel, território­s palestinos e Jordânia).

Durante todo o dia, rádios, TVs e sites da internet tentaram prever o que Trump diria. Analistas e especialis­tas israelense­s, palestinos e estrangeir­os foram entrevista­dos, bem como políticos, ativistas e líderes de ONGs.

O pronunciam­ento de Trump foi analisado com lupa na mídia. Para alguns, a direita engoliu alguns sapos, como o fato de que Trump não se referiu a Jerusalém como cidade unificada —entendimen­to corrente em Israel desde a tomada da cidade, na Guerra dos Seis Dias (1967).

Por meio dessa omissão, Trump teria, na prática, posto Jerusalém na mesa de negociaçõe­s com os palestinos para uma possível divisão entre lados ocidental e oriental.

A esquerda, por outro lado, tinha esperança de que a decisão de Trump fosse acompanhad­a de uma nova e clara iniciativa de paz.

“Fiquei emocionada com o discurso. Mas ficou faltando esclarecer se ele vai colocar a mão na massa para criar dois Estados”, disse a ex-chanceler Tzipi Livni, do Campo Sionista (centro-esquerda).

O mesmo acredita o ex-embaixador dos Estados Unidos, Daniel Shapiro, para quem Trump se atrapalhou ao fazer a declaração sem consulta prévia a dirigentes árabes.

“Trata-se de uma oportunida­de perdida. Reconhecer a capital sem transferir a embaixada imediatame­nte ou anunciar novas negociaçõe­s de paz não leva ao gol final de alcançar dois Estados. O resultado é uma medida apenas retórica. Ele criou uma tempestade em copo d’água.”

Reconhecer a capital sem anunciar negociaçõe­s de paz não leva ao gol final de alcançar dois Estados, é medida apenas retórica

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil