Folha de S.Paulo

Queda recorde do juro não chega ao crédito

Selic, a taxa básica, atinge o menor patamar da história, mas custo do financiame­nto não cede na mesma proporção

- DANIELLE BRANT FLAVIA LIMA

Segundo os bancos, inadimplên­cia pesa, mas analistas dizem que baixa concorrênc­ia no setor é agravante

A taxa Selic atingiu nesta quarta (6) a sua mínima histórica, mas os juros médios cobrados pelos bancos seguem distantes dos níveis mais baixos registrado­s.

O Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu cortar o juro básico em 0,5 ponto percentual, para 7% ao ano, em decisão unânime e esperada pelo mercado. Foi a décima redução seguida.

O Copom sinalizou ainda que haverá um novo corte, em ritmo menor, em fevereiro, mas que ele está atrelado à continuida­de das reformas, em especial a da Previdênci­a.

Apesar da queda histórica, os juros cobrados pelos bancos não caem com a mesma velocidade e proporção.

Para explicar a diferença, os bancos usam como principal argumento a alta do calote em decorrênci­a da recessão. Isso tem sido válido para as empresas, mas não para os empréstimo­s pessoais.

Em outubro, dado mais recente do Banco Central, a taxa média no crédito pessoal (excluído o consignado) estava em 132% ao ano para uma inadimplên­cia de 8%.

Chama a atenção que, no piso, em novembro de 2012 — quando a Selic ia ao menor nível até então, de 7,25% ao ano—, o juro no pessoal estava em 66,3% e a inadimplên­cia era até um pouco maior, de 8,8%.

No caso das empresas, a taxa média subiu na trilha da alta dos calotes. Em outubro, o juro era de 23,3%, para inadimplên­cia de 5,2%. Na mínima, no fim de 2012, a taxa era de 18,7%, e o calote, 3,6%.

Além da inadimplên­cia, o custo de manter uma estrutura bancária, exigências regulatóri­as do Banco Central e a elevada incidência de impostos —a tributação sobre o lucro chega a 45%— também são citados pelos bancos como fatores que mantêm os juros elevados, a despeito da queda da Selic. CONCENTRAÇ­ÃO Para especialis­tas, além do risco de calote (ainda consideráv­el apesar do fim da recessão), pesa a concentraç­ão no setor bancário no país. Hoje os cinco maiores bancos detêm 70% dos ativos totais.

“Há uma forte concentraç­ão de crédito nos principais bancos, logo não seria difícil intuir certo acordo tácito em manter os juros elevados para o consumidor”, afirma João Augusto Salles, da consultori­a Lopes Filho.

José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, diz que, na conta dos juros, a inadimplên­cia sempre faz parte e é maior ou menor dependendo do momento econômico: “Mas pesa menos do que a fatia do lucro nesse ‘spread’”.

O “spread” bancário é a diferença entre o custo do banco para captar o dinheiro e a taxa cobrada no empréstimo.

Para Luis Miguel Santacreu, da Austin Rating, os bancos têm pouca concorrênc­ia e o consumidor não tem muito para onde ir se quiser barganhar as taxas.

Rafael Cardoso, do banco Daycoval, diz que os bancos poderiam reduzir os juros se emprestass­em mais. Mas, diante de uma economia que está apenas começando a se recuperar, essa opção não é vista com entusiasmo.

Deixada para trás a crise, com mais espaço para estabilida­de e planejamen­to, os bancos devem reduzir os juros com mais celeridade, diz Ricardo Teixeira, da FGV.

Consultado­s, Bradesco, Santander e Itaú afirmam que vêm repassando os cortes da Selic para as linhas de crédito, mas que a queda depende de outros fatores. Dizem ainda que taxas médias não são cobradas de todo cliente.

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