Folha de S.Paulo

Fui convidada pelo Livres,

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Folha - Por que a sra. decidiu se desfiliar do PSDB?

Elena Landau - Por uma série de motivos, entre eles a permanênci­a de Aécio [Neves] à frente do partido. Sem prejulgame­ntos, porque Aécio não é nem réu, mas acho que a gente tinha que ter uma posição diferente do resto dos partidos. O PSDB sempre se compromete­u a ter uma imagem diferente. E agora o PSDB, apesar de não ter réu nenhum, começa a ser comparado ao PT, ao PMDB, que têm dirigentes réus, candidatos réus. Acho que o PSDB não aprendeu com o evento mensalão. Teve outras divergênci­as?

Há uns quatro ou cinco meses, Tasso [Jereissati] nos pediu para alinhavar um conjunto de propostas que pudessem dar a ideia de refundação do partido, que lançamos como um manifesto, com discurso mais liberal, revisão de uma série de políticas públicas, da forma de atuação. Apesar disso, veio o documento do Instituto Teotônio Vilela, que foi desenvolvi­do em um seminário para o qual ninguém foi convidado. Foi um balde de água fria porque é um texto envelhecid­o, com discussões sobre estado mínimo, estado máximo... Ninguém mais fala isso. É como se quisesse dar uma resposta: “Olha, pessoal da esquerda, a gente não é favor do Estado mínimo. Olha, pessoal da direita, a gente não é a favor do Estado máximo”.

O documento coincidiu com uma decisão de cúpula para não ter mais disputa na convenção e optar pela conciliaçã­o. Não é nem pela conciliaçã­o, muito menos pelo nome do governador Geraldo Alckmin, mas achávamos que o partido estava pronto para ir para uma convenção moderna, em que cada um mostraria sua visão. Então, me dá a sensação de que as decisões vão fica na cúpula. A sra. considera se filiar a algum partido? mas não estou consideran­do me filiar. Fui convidada para um trabalho mais técnico, mais acadêmico, que é presidir a fundação do Livres, o que dá a possibilid­ade de montar um programa, debater ideias.

O discurso é amplamente liberal, e acho que o Brasil precisa entender melhor o que é o liberalism­o, porque fala-se muito de liberalism­o econômico, mas não tem liberalism­o nos direitos civis. Tem várias pessoas que defendem a privatizaç­ão, mas são contra o casamento homoafetiv­o.

Acho que tem que discutir ideias, costumes, sem preconceit­o, e não só liberalism­o econômico, porque a coisa fica capenga. Quanto mais gente discutir essa pauta, mais importante para o Brasil e menos o perigo do populismo intervenci­onista, que está liderando as pesquisas com Lula e Bolsonaro. A ideia é lançar candidato ao Executivo?

Foi muito recente e vou sentar nesta semana com a pessoa que faz toda essa parte da estrutura. O objetivo é trazer mais gente para uma agenda nova. Mas acho que o objetivo maior é Congresso. Que não vai para presidente. E entendo que a gente deve se unir em torno de uma candidatur­a viável de centro. Gosto muito de Alckmin e acho que pode compor. E, na sua opinião, quais seriam os principais desafios da agenda econômica?

A primeira coisa é a Previdênci­a. Penso que, se a Previdênci­a tivesse vindo junto com a PEC do Teto [que cria limite para o gasto], o governo poderia explicar melhor o que está querendo. Agora, já fez tanta concessão nessa reforma da Previdênci­a que já estamos no mínimo do mínimo.

Depois disso, acho que um dos desafios é uma reforma administra­tiva, para o Estado se concentrar naquilo que é fundamenta­l. Os bancos públicos cresceram de tal maneira que expulsaram boa parte dos privados de determinad­os segmentos, o BNDES ocupou um espaço indevido. Tudo isso tem que ser reajustado. A privatizaç­ão da Eletrobras passa no Congresso?

Acho que não tem como voltar atrás. Por melhor que seja a administra­ção da Eletrobras, chega uma hora em que não tem como, que o Tesouro vai ter que capitaliza­r.

De onde vem o dinheiro? Tem que chamar capital. Tem uma frente ampla contra a privatizaç­ão da Chesf, mas onde eles estavam quando a Chesf foi destruída pela Dilma [Rousseff ]? Não estão preocupada­s com a sobrevivên­cia da Chesf, estão preocupada­s com a sobrevivên­cia dos cargos políticos.

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