Folha de S.Paulo

Falta de apoio à nova Previdênci­a faz crescer pessimismo no governo

Planalto tem dificuldad­es até para obter 290 votos, que seria piso para colocar projeto para votação

- GUSTAVO URIBE MARIANA CARNEIRO

Cálculos apontam que cerca de 260 deputados dão aval para proposta; é preciso ao menos 308 para aprovar reforma

A expectativ­a do presidente Michel Temer de conseguir nesta quarta-feira (6) um piso de pelo menos 290 votos e, assim, definir uma data para a votação da reforma previdenci­ária acabou frustrada.

Sem reunir apoio necessário, ele decidiu aguardar os próximos dias para avaliar se será possível votar na próxima semana as mudanças nas regras de aposentado­ria.

Em reunião com deputados e ministros no Palácio do Alvorada na noite desta quarta, o presidente concluiu que é necessário mais tempo e disse que o Palácio do Planalto fará uma recontagem de votos nesta quinta-feira (6).

Pelos cálculos, o governo conta com cerca de 260 votos, número abaixo dos 308 necessário­s para aprová-la.

Para tentar aumentar o atual placar, Temer promoverá nova rodada de reuniões e abrirá o gabinete presidenci­al para deputados indecisos e resistente­s, mas a expectativ­a é pessimista mesmo dentro da equipe presidenci­al.

Na tentativa de criar uma onda otimista, o presidente adotou o discurso de que pode reduzir o piso de apoios necessário­s para colocar a reforma em votação na próxima semana.

Em vez dos 330 votos fixa- dos antes, admite agora fazer isso com apenas 290.

Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo, já reconhece que o governo terá que trabalhar até o último minuto para conquistar votos.

“Vamos trabalhar como trabalhamo­s em outras propostas, como o impeachmen­t. Trabalhamo­s virando votos até o dia da votação.”

A ideia do Planalto, contudo, foi rejeitada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), responsáve­l por agendar a votação. “Se não tiver voto, melhor não votar”, disse. “Não vou votar com expectativ­a de derrota.”

Os partidos da base aliada evitaram durante todo o dia fazer promessas ao presidente de fechamento de questão, que é quando a bancada precisa votar unida, com possível punição para quem descumprir a ordem. Só o PMDB e o PTB tomaram a decisão.

Integrante­s do governo se irritaram com a falta de disposição de alguns líderes em passar a contagem exata de votos de cada partido, como Arthur Lira (AL), líder do PP na Câmara dos Deputados.

A bancada do PSD, partido do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, só tem 15 dos 38 deputados convencido­s a votar pela proposta, de acordo com o ministro Gilberto Kassab (Comunicaçõ­es). No PR, o líder da bancada, José Rocha (BA), calcula ter apenas 16 dos 37 deputados.

A votação da proposta na Câmara ainda neste ano, como deseja o Planalto, é a primeira etapa. Se aprovada pelos deputados, em dois turnos, a reforma ainda precisa do aval do Senado.

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