Falta de apoio à nova Previdência faz crescer pessimismo no governo
Planalto tem dificuldades até para obter 290 votos, que seria piso para colocar projeto para votação
Cálculos apontam que cerca de 260 deputados dão aval para proposta; é preciso ao menos 308 para aprovar reforma
A expectativa do presidente Michel Temer de conseguir nesta quarta-feira (6) um piso de pelo menos 290 votos e, assim, definir uma data para a votação da reforma previdenciária acabou frustrada.
Sem reunir apoio necessário, ele decidiu aguardar os próximos dias para avaliar se será possível votar na próxima semana as mudanças nas regras de aposentadoria.
Em reunião com deputados e ministros no Palácio do Alvorada na noite desta quarta, o presidente concluiu que é necessário mais tempo e disse que o Palácio do Planalto fará uma recontagem de votos nesta quinta-feira (6).
Pelos cálculos, o governo conta com cerca de 260 votos, número abaixo dos 308 necessários para aprová-la.
Para tentar aumentar o atual placar, Temer promoverá nova rodada de reuniões e abrirá o gabinete presidencial para deputados indecisos e resistentes, mas a expectativa é pessimista mesmo dentro da equipe presidencial.
Na tentativa de criar uma onda otimista, o presidente adotou o discurso de que pode reduzir o piso de apoios necessários para colocar a reforma em votação na próxima semana.
Em vez dos 330 votos fixa- dos antes, admite agora fazer isso com apenas 290.
Beto Mansur (PRB-SP), vice-líder do governo, já reconhece que o governo terá que trabalhar até o último minuto para conquistar votos.
“Vamos trabalhar como trabalhamos em outras propostas, como o impeachment. Trabalhamos virando votos até o dia da votação.”
A ideia do Planalto, contudo, foi rejeitada pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), responsável por agendar a votação. “Se não tiver voto, melhor não votar”, disse. “Não vou votar com expectativa de derrota.”
Os partidos da base aliada evitaram durante todo o dia fazer promessas ao presidente de fechamento de questão, que é quando a bancada precisa votar unida, com possível punição para quem descumprir a ordem. Só o PMDB e o PTB tomaram a decisão.
Integrantes do governo se irritaram com a falta de disposição de alguns líderes em passar a contagem exata de votos de cada partido, como Arthur Lira (AL), líder do PP na Câmara dos Deputados.
A bancada do PSD, partido do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, só tem 15 dos 38 deputados convencidos a votar pela proposta, de acordo com o ministro Gilberto Kassab (Comunicações). No PR, o líder da bancada, José Rocha (BA), calcula ter apenas 16 dos 37 deputados.
A votação da proposta na Câmara ainda neste ano, como deseja o Planalto, é a primeira etapa. Se aprovada pelos deputados, em dois turnos, a reforma ainda precisa do aval do Senado.