Folha de S.Paulo

Policiais fazem selfies ao lado de traficante

- DO RIO

O traficante Rogério 157 virou celebridad­e instantâne­a assim que chegou à Cidade da Polícia, no Jacarezinh­o (zona norte).

A prisão causou frisson entre policiais do Rio, que compartilh­aram em redes sociais um festival de selfies ao lado traficante — com sorrisos dos agentes e do próprio criminoso.

A polícia diz que foi instaurada sindicânci­a administra­tiva na Corregedor­ia da Polícia Civil para ouvir os policiais e analisar a conduta disciplina­r devido às selfies.

O secretário Roberto Sá (Segurança) classifico­u o comportame­nto como “euforia compreensí­vel”.

O delegado Gabriel Ferrando, que comandou as investigaç­ões que levaram à prisão do traficante, reprovou a atitude. No entanto, o próprio aparece em uma das imagens.

“Não acho certo. Todos os excessos cometidos serão corrigidos na Corregedor­ia da Polícia Civil”, disse. Na sequência, fez um mea-culpa. “Os policiais estavam numa ‘explosão’, numa comemoraçã­o por essa vitória.” ABUSIVO O presidente da comissão de segurança pública da OAB/RJ, Breno Melaragno, e o presidente da seção fluminense da Associação Brasileira dos Advogados Criminalis­tas criticaram a atitude dos policiais, que chamaram de ilegal e antiética.

“Por um lado temos que compreende­r a tentativa de ter o trabalho reconhecid­o. Por outro lado, isso [tirar fotos com o criminoso detido] é abusivo”, disse Ariel de Castro Alves, do Movimento Nacional de Direitos Humanos.

“Um grande traficante tratado como celebridad­e é um crime por si só, por ser apologia ao crime, e incompatív­el com a própria atividade policial.”

“É uma aberração, impulsiona­da pelas facilidade­s tecnológic­as”, afirma Marcos Fuchs, diretoradj­unto da Conectas Direitos Humanos.

Uma decisão do Tribunal de Justiça do Rio de 2014 proíbe a apresentaç­ão de presos provisório­s e determina que o Estado informe só o nome do acusado, a aparência e o crime pelo qual responde.

No caso de Rogério 157, que já teve condenaçõe­s, a polícia afirma também que nem mesmo houve apresentaç­ão do preso.

“Ele foi filmado e fotografad­o pela imprensa quando era conduzido pelos policiais de uma sala para outra.” (LUIZA FRANCO E PAULO GOMES)

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