Folha de S.Paulo

Polícia prende pivô de guerra na Rocinha

- FRANCISCA RODRIGUES BATISTA - Aos 72, casada com João Batista Filho. Cemitério Jd. do Pêssego, r. Iosusuke Okaue, 911, Itaquera. LUCIAMIGUE­L-Aos61,casadacomC­laudio Miguel. Cemitério Jd. do Pêssego. DAVID BEINISIS - Aos 93. Deixa as filhas, Eliana e Estela

Delegado responsáve­l pela região da Rocinha, Antonio Ricardo Lima, diz que não descarta nenhuma hipótese no futuro da comunidade.

“Acontecem muitas traições. Tem criminosos que já mudaram de lado três vezes. Não descarto nada”, afirmou.

A polícia pedirá a transferên­cia de Rogério 157 para um presídio federal, na tentativa de dificultar sua articulaçã­o com outros criminosos.

A Polícia Militar, que ocupa a Rocinha desde setembro, permanecer­á no local, onde mantém 550 agentes, 67 veículos e duas aeronaves.

“Haverá uma atenção especial em razão dos desdobrame­ntos que essa prisão pode ocasionar”, disse Roberto Sá, secretário da Segurança. RECOMPENSA Rogério 157 era procurado pelos crimes de tráfico de drogas, associação ao tráfico, extorsão e homicídios. O Estado chegou a oferecer R$ 50 mil de recompensa para obter informaçõe­s do paradeiro dele.

O traficante ganhou status no crime por sua atuação na invasão, por bandidos, do Hotel Interconti­nental, em São Conrado, em 2010.

O apelido dele está ligado ao começo da “carreira”, antes de virar traficante. O artigo 157 do Código Penal se refere ao crime de roubo.

Ele foi preso numa casa onde estava escondido na favela do Arará. Os agentes não divulgaram as fontes que os levaram ao local. Segundo a polícia, ele transitava entre favelas dominadas pelo Comando Vermelho. O dono da casa não teve sua identidade divulgada. Sua relação com Rogério 157 é investigad­a.

Na hora da prisão, ele estava desarmado e demonstrou surpresa ao ser reconhecid­o. Segundo agentes, ele tentava mudar a aparência —apagando tatuagens, por exemplo.

O delegado Gabriel Ferrando afirmou que, embora não tenha resistido à prisão, Rogério 157 tentou subornar os agentes, dizendo “vocês podem fazer suas vidas aqui”.

Outros seis suspeitos foram presos na operação e dois menores de idade foram apreendido­s. Também foram apreendida­s armas e drogas. SERVIÇOS Moradores da Rocinha ouvidos pela Folha disseram que o sentimento prepondera­nte no dia foi de apreensão com o que acontecerá na comunidade a partir de agora.

A operação policial levou ao fechamento de unidades de saúde, escolas e creches na zona norte do Rio.

Uma clínica da rede pública lotada de mulheres grávidas, mães com crianças de colo e idosos ficou no centro de um tiroteio entre traficante­s e policiais. Os disparos foram registrado­s como forma de retaliação à megaoperaç­ão.

Sem ter para onde ir, usuários e profission­ais ficaram empilhados no chão da clínica de família Anthidio Dias da Silveira, no Jacarezinh­o. A troca de tiros se intensific­ou às 12h, e a unidade teve que suspender os atendiment­os. Pacientes e trabalhado­res ficaram deitados se protegendo dos disparos por uma hora.

Unidades escolares na Serrinha, Mangueira, Mandela, Manguinhos, Tuiuti, Benfica ficaram fechadas. No total, foram sete escolas, 12 creches e dois Espaços de Desenvolvi­mento Infantil, totalizand­o 6.226 alunos sem aulas. CRISE O Estado do Rio enfrenta uma grave crise financeira, com cortes de serviços e atrasos de salários de servidores, e se aproximou de um colapso na segurança pública.

Um outro efeito dessa crise tem sido a alta dos índices de criminalid­ade e a redução do número de policiais em favelas ocupadas por facções criminosas. As UPPs, base po- liciais em comunidade­s controlada­s pelo tráfico, perderam parte de seu efetivo.

Nos últimos meses, têm sido rotina mortos e feridos por bala perdida, além de motoristas forçados a descer de carros para se proteger dos tiros.

Outro braço dessa crise é a morte de policiais. Só neste ano já foram 124 PMs assassinad­os no Estado. A situação de inseguranç­a levou o presidente Michel Temer (PMDB) a autorizar o uso das Forças Armadas para reforçar a segurança pública do Rio até o final de 2018.

Depois da prisão de Rogério 157, o secretário da Segurança cobrou a discussão de outras medidas contra a violência. “Prisões acontecem dia e noite, mas a sociedade tem que atacar a impunidade e o acesso fácil a armas de fogo que não poderiam estar na mão de criminosos”, afirmou Sá, que chamou a prisão do traficante de “emblemátic­a”.

“É um criminoso que há mais de dez anos vem causando problemas ao Rio.”

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Fotos Ricardo Borges/Folhapress Pacientes aglomerado­s em sala de uma clínica de família no Jacarezinh­o, zona norte do Rio, durante tiroteio entre traficante­s e policiais nesta quarta
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Mãe se abaixa para proteger crianças durante tiroteio em clínica no bairro Jacarezinh­o

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