Folha de S.Paulo

A anistia corintiana

- J UCA KFOURI COLUNAS DA SEMANA segunda: Juca Kfouri ePV C ,qu arta: Tostão ,qu inta: Juca Kfouri, sábado: Mariliz Pereira Jorge, domingo: Juca Kfouri ,PV C eT ostão

O CORINTHIAN­S segue as pegadas do Vasco. Se a já famosa urna 7 cruzmaltin­a tinha 475 votos sub judice, a corintiana pode ter quase 800.

Não se trata de recuperar sócios inadimplen­tes, o que seria de boa política, mas, sim, às vésperas do processo eleitoral no clube, torná-los eleitores de quem pagar o que devem.

Do alto de sua postura sempre ética e transparen­te, o filósofo, que adora Eurico Miranda, e candidato à presidênci­a, Andrés Sanchez, sentenciou: “É assim no Corinthian­s há 107 anos”.

Nada mais apropriado para o deputado petista, cujo partido também minimiza mensalões e petrolões ao dizer que todos os partidos sempre agiram assim no Brasil.

Como se os erros anteriores justificas­sem os presentes.

Sanchez aposta na morosidade da Justiça para voltar à presidênci­a, como se beneficia do foro privilegia­do para escapar da dureza da lei em ações contra ele que dormem no STF, uma delas referente à Operação Lava Jato.

E o expediente da escandalos­a anistia, em regra sinônimo de generosida­de, mas, no caso, de imoralidad­e, tem a participaç­ão, a anuência, ou o silêncio cúmplice, de algumas chapas oposicioni­stas.

Tite, em passado recente, Fábio Carille, atualmente, e os jogadores corintiano­s são verdadeiro­s mágicos. Conseguem ser campeões apesar de seus comandante­s. SURPRESA ZERO Corria o ano de 1994 e a revista “Placar”, que eu dirigia, havia feito, quatro anos antes, longa reportagem denunciand­o uma série de irregulari­dades na Federação Paulista de Futebol, presidida por Eduardo José Farah, já falecido.

Eram seus vices-presidente­s o atual chefão da CBF (Confederaç­ão Brasileira de Futebol), Marco Polo Del Nero, e o atual presidente da própria Federação Paulista de Futebol, Reinaldo Carneiro Bastos.

Por causa da reportagem de “Placar”, assinada pela jornalista Kátia Perin, o Procurador da República, Mário Luiz Bonsaglia, convidou-me a depor sobre os bastidores do futebol nacional, objetivo de uma investigaç­ão em curso na Justiça Federal.

O depoimento aconteceu no dia 2 de maio de 1994. Então, veja bem, 21 anos atrás, Bonsaglia ouviu sobre J.Hawilla e sua Traffic e registrou em depoimento que mantenho guardado “que a Traffic é um dos grandes agentes corruptore­s no futebol brasileiro, atualmente comprando os direitos de transmissã­o por preços mais baratos (mediante o pagamento de comissões a dirigentes de clubes e federações), escapando de licitações nos casos de estádios pertencent­es ao Estado ou a municípios...” e por aí afora.

Seis anos depois, Hawilla foi interrogad­o na CPI da CBF e saiu ileso.

Agora, diante da Justiça americana, com saúde abalada, chora por ter sido traído pela máfia que comandou e a trai, na triste situação de delator.

Se vai contar tudo, além dos que já incriminou como Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, além do parceiro Kléber Leite, os próximos dias dirão.

Porque ele tem informaçõe­s capazes de abalar as estruturas do país. E há quem queira nos fazer acreditar que está surpreso com sua delação premiada, que já lhe custou US$ 151 milhões em multas.

Só não via, quem não queria ou quem não queria ver.

Ou era simplesmen­te cúmplice.

O que, em regra, é sinônimo de generosida­de, no Alvinegro é escandalos­a imoralidad­e, compra de voto

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil