CRÍTICA Onirismo felliniano não evita superficialidade
Nem citações a mestre italiano salvam longa do sul-africano Taron Lexton, lesado por estereótipos e trama pueril
FOLHA
Lucy (Ksenia Solo) tem 20 anos e muito medo da realidade. Superprotegida pela mãe (Maria Bello), a garota nunca teve namorado e vive praticamente isolada em uma cidadezinha de Ohio, em um mundinho cor-de-rosa.
Seu pendor para a fantasia faz com que ela se encante pelo universo dos filmes de Federico Fellini (1920-1993) quando assiste —por acaso— a um deles, “A Estrada da Vida” (1954). Lucy se identifica imediatamente com a sonhadora Gelsomina, interpretada por Guilietta Masina.
Ela não demora a devorar a filmografia do mestre italiano, que se torna uma obsessão, e decide sair debaixo da asa materna para ir a Roma para conhecê-lo. Nessa aventura, a tímida, ansiosa e ingênua Lucy acaba descobrindo a si mesma.
Inexperiente em viagens, ela não consegue chegar a Roma a tempo e precisa agendar outra oportunidade para encontrar o cineasta. Ela vaga por Verona —a cidade de Romeu e Julieta—, onde, é claro, descobre o amor.
Esse argumento no mínimo extravagante se baseia na experiência pessoal de juventude da dubladora Nancy Cartwright (a voz de Bart Simpson), que assina o roteiro ao lado de Peter Kjenaas.
Ao levá-lo às telas em seu primeiro longa-metragem de ficção, o jovem sul-africano Taron Lexton se esbalda fazendo referências à atmosfera de fantasia dos filmes do premiado diretor italiano.
Lucy tem sonhos e pesadelos, visões do brutamontes Zampanò —de “A Estrada da Vida”— caminhando pelas ruas, tropeça em luxuriantes orgias fellinianas.
Lexton mantém a ambiguidade em torno dessas cenas, não deixa claro se fazem parte da realidade ou se são devaneios de Lucy.
O problema é que esse onirismo é uma constante. Requentado, acaba se transformando em um clichê.
Da mesma forma, a própria viagem iniciática de Lucy tem sua dose de lugares-comuns, como Verona e os rapazes italianos com ar de “latin lovers” sempre dispostos a ajudá-la e com quem a garota acaba se envolvendo.
O abuso de estereótipos não consegue dissimular a superficialidade da história e o pouco desenvolvimento da personagem principal, demasiado pueril.
As inúmeras referências à obra de Fellini remetem ao amor pelo cinema, mas isso tampouco é transcendente.
Essas referências só funcionam bem quando o filme algumas vezes zomba da falta de sensibilidade artística do norte-americano médio, para quem os longa-metragens europeus não têm pé nem cabeça. (IN SEARCH OF FELLINI) DIREÇÃO Taron Lexton ELENCO Ksenia Solo, Maria Bello, Mary Lynn Rajskub, Beth Riesgraf PRODUÇÃO EUA, 2016, 14 anos QUANDO estreia nesta quinta (7) AVALIAÇÃO regular