O homem e suas circunstâncias
Temer, em quem não votei, é o improvável, o inesperado no esquema da transmissão viciada do poder; dou-lhe meu modesto e insignificante apoio
Tentar entender Michel Temer pela estreita lupa da ideologia conduzirá analistas das anacrônicas divisões, esquerda versus direita, à necessidade de reconstruir o Muro de Berlim e as tensões da Guerra Fria.
Temer —em quem não votei— é o improvável, o inesperado no esquema da transmissão viciada do poder. Mas, como assim?, indagam indignados e perplexos aqueles que já o consideravam como o previsível parceiro na marotagem lulopetista que quebrou o país em 13 anos e meses de assalto aos indefesos cofres públicos. Recapitulando a farsa petista: Lula, ao aproveitar a responsável herança deixada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, mais o impacto do aumento da soja e outras commodities e o crescimento da China a uma taxa anual de 10%, torna o Brasil o principal exportador de minério de ferro e segundo maior de soja.
Além da demanda da China, a conjuntura global também era favorável ao país nos anos iniciais do governo Lula, com a oportuna expansão significativa dos EUA.
Mas essa condução, digamos, responsável do governo Lula durou somente no primeiro mandato. Aproveitando o alto grau de aprovação popular, ele se reelege e, então, começam a aparecer os sinais de um projeto de permanência indefinida no poder. Medidas populistas são tomadas sem ter o respaldo de uma política econômica sustentável, como a que foi implementada no primeiro mandato.
A Lei de Responsabilidade Fiscal é seguidamente desrespeitada, o povo é incentivado a pegar créditos numa propaganda enganosa, acreditando num milagre econômico que levaria a população a um endividamento que explodiria no governo de Dilma Rousseff.
O legado de Dilma coloca o país na maior recessão de toda a história do país, e sua irresponsabilidade na administração da economia resulta no impeachment e em trágicos números na área social: 13 milhões de desempregados, 61 milhões de inadimplentes, milhares de postos de trabalho fechados, e a constitucional posse do vice Michel Temer como presidente da República.
O homem e suas circunstâncias, como nos lembra Ortega y Gasset (1883-1955), talvez me aproxime, mais que ideologias, de Michel Temer. Ele, “o inimigo do povo”, que tanto tem realizado em benefício dessa mesma população —que repete à exaustão o “fora Temer”—, enquanto o rejeitado por falsas pesquisas põe em prática medidas que vão retirando a nação da mais gra- ve crise de sua história.
Bastaria a PEC dos gastos para diferenciá-lo de seus recentes antecessores; a Lei de Responsabilidade Fiscal, que não permite gastos acima da receita, a reforma trabalhista e o respectivo fim do imposto sindical, a reforma no ensino médio, sua obstinação em reformar a Previdência, juros e inflação em queda são dados substantivos que me levam a lhe dar meu modesto e insignificante apoio.
Mas retomo Ortega y Gasset. Aos 77 anos, as escolhas para moldar uma digna e definitiva biografia são raras. Creio que, desse fato, Temer tem absoluta consciência. CARLOS VEREZA,
Mais uma vez a polícia do Rio de Janeiro nos constrange, agora com a ação da prisão do traficante Rogério 157. Os policiais agiram com total irresponsabilidade ao fazer selfies com o bandido. A vaidade humana não tem limites mesmo. Depois dessa exposição total e sem pudor, como esses agentes da lei irão viver seu dia a dia? Cada bandido do Rio de Janeiro tem seus rostos no celular! O pior é que não dá nem para cobrar uma ação das autoridades do Rio de Janeiro quanto ao caso. Triste Brasil.
PAULO FERREIRA
Israel Como se não bastasse o perigo da tensão entre EUA e Coreia do Norte, Donald Trump toma uma atitude desnecessária e provocadora, que provavelmente vai acirrar os ânimos radicais dos islamitas (“Trump reconhece Jerusalém capital de Israel, mas se exime de fronteiras”, “Mundo”, 7/12). Para os israelenses, na prática, não representa nenhuma vantagem transferir sua capital para uma zona reconhecidamente sujeita a conflitos. Cada vez fica mais difícil acreditar num mundo melhor para nossas crianças.
JEFFERSON C. VIEIRA
Congresso Nada mudará se não mudarmos todos os deputados federais e senadores. Sem isso, nada ou muito pouco acontecerá, qualquer que seja o (novo) presidente. Também não adianta mudar para parlamentarismo. Mudança? A responsabilidade é do eleitor (“Rejeição ao trabalho do Congresso atinge recorde”, “Poder”, 6/12).
PAULO ROBERTO LUZ
O artigo “Alckmin, mas para quê?” ignora as ações concretas do governo de São Paulo. A extensão da mancha de poluição do rio Tietê no Estado caiu 45% nos últimos anos, e 87% do esgoto lançado no rio é tratado. Apesar da crise econômica, temos o maior canteiro de obras de mobilidade da América Latina. Não existe ambiguidade no tema das privatizações, concessões e PPPs, cujo modelo vem sendo aperfeiçoado há 20 anos em São Paulo, tampouco da Previdência, que o governo reformou já em 2011. EUZI DOGNANI,
Só falta Bernardo Mello Franco imputar ao presidente Michel Temer responsabilidade por efeitos nocivos da lei da gravidade. Tudo o mais sob o sol serve de argumento para depreciá-lo, mesmo que o fato não tenha relação nem com Michel nem com Temer. Depois de lançar, em análise superficial, dúvidas sobre a lisura de importantes decisões da Justiça, viabilizadas desde 1992, o colunista atribui ao chefe do Executivo poder sobre o Judiciário, algo impensável na democracia (“A caneta salvadora”, “Opinião”, 5/12).
MÁRCIO DE FREITAS,