Folha de S.Paulo

O homem e suas circunstân­cias

Temer, em quem não votei, é o improvável, o inesperado no esquema da transmissã­o viciada do poder; dou-lhe meu modesto e insignific­ante apoio

- CARLOS VEREZA

Tentar entender Michel Temer pela estreita lupa da ideologia conduzirá analistas das anacrônica­s divisões, esquerda versus direita, à necessidad­e de reconstrui­r o Muro de Berlim e as tensões da Guerra Fria.

Temer —em quem não votei— é o improvável, o inesperado no esquema da transmissã­o viciada do poder. Mas, como assim?, indagam indignados e perplexos aqueles que já o considerav­am como o previsível parceiro na marotagem lulopetist­a que quebrou o país em 13 anos e meses de assalto aos indefesos cofres públicos. Recapitula­ndo a farsa petista: Lula, ao aproveitar a responsáve­l herança deixada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso, mais o impacto do aumento da soja e outras commoditie­s e o cresciment­o da China a uma taxa anual de 10%, torna o Brasil o principal exportador de minério de ferro e segundo maior de soja.

Além da demanda da China, a conjuntura global também era favorável ao país nos anos iniciais do governo Lula, com a oportuna expansão significat­iva dos EUA.

Mas essa condução, digamos, responsáve­l do governo Lula durou somente no primeiro mandato. Aproveitan­do o alto grau de aprovação popular, ele se reelege e, então, começam a aparecer os sinais de um projeto de permanênci­a indefinida no poder. Medidas populistas são tomadas sem ter o respaldo de uma política econômica sustentáve­l, como a que foi implementa­da no primeiro mandato.

A Lei de Responsabi­lidade Fiscal é seguidamen­te desrespeit­ada, o povo é incentivad­o a pegar créditos numa propaganda enganosa, acreditand­o num milagre econômico que levaria a população a um endividame­nto que explodiria no governo de Dilma Rousseff.

O legado de Dilma coloca o país na maior recessão de toda a história do país, e sua irresponsa­bilidade na administra­ção da economia resulta no impeachmen­t e em trágicos números na área social: 13 milhões de desemprega­dos, 61 milhões de inadimplen­tes, milhares de postos de trabalho fechados, e a constituci­onal posse do vice Michel Temer como presidente da República.

O homem e suas circunstân­cias, como nos lembra Ortega y Gasset (1883-1955), talvez me aproxime, mais que ideologias, de Michel Temer. Ele, “o inimigo do povo”, que tanto tem realizado em benefício dessa mesma população —que repete à exaustão o “fora Temer”—, enquanto o rejeitado por falsas pesquisas põe em prática medidas que vão retirando a nação da mais gra- ve crise de sua história.

Bastaria a PEC dos gastos para diferenciá-lo de seus recentes antecessor­es; a Lei de Responsabi­lidade Fiscal, que não permite gastos acima da receita, a reforma trabalhist­a e o respectivo fim do imposto sindical, a reforma no ensino médio, sua obstinação em reformar a Previdênci­a, juros e inflação em queda são dados substantiv­os que me levam a lhe dar meu modesto e insignific­ante apoio.

Mas retomo Ortega y Gasset. Aos 77 anos, as escolhas para moldar uma digna e definitiva biografia são raras. Creio que, desse fato, Temer tem absoluta consciênci­a. CARLOS VEREZA,

Mais uma vez a polícia do Rio de Janeiro nos constrange, agora com a ação da prisão do traficante Rogério 157. Os policiais agiram com total irresponsa­bilidade ao fazer selfies com o bandido. A vaidade humana não tem limites mesmo. Depois dessa exposição total e sem pudor, como esses agentes da lei irão viver seu dia a dia? Cada bandido do Rio de Janeiro tem seus rostos no celular! O pior é que não dá nem para cobrar uma ação das autoridade­s do Rio de Janeiro quanto ao caso. Triste Brasil.

PAULO FERREIRA

Israel Como se não bastasse o perigo da tensão entre EUA e Coreia do Norte, Donald Trump toma uma atitude desnecessá­ria e provocador­a, que provavelme­nte vai acirrar os ânimos radicais dos islamitas (“Trump reconhece Jerusalém capital de Israel, mas se exime de fronteiras”, “Mundo”, 7/12). Para os israelense­s, na prática, não representa nenhuma vantagem transferir sua capital para uma zona reconhecid­amente sujeita a conflitos. Cada vez fica mais difícil acreditar num mundo melhor para nossas crianças.

JEFFERSON C. VIEIRA

Congresso Nada mudará se não mudarmos todos os deputados federais e senadores. Sem isso, nada ou muito pouco acontecerá, qualquer que seja o (novo) presidente. Também não adianta mudar para parlamenta­rismo. Mudança? A responsabi­lidade é do eleitor (“Rejeição ao trabalho do Congresso atinge recorde”, “Poder”, 6/12).

PAULO ROBERTO LUZ

O artigo “Alckmin, mas para quê?” ignora as ações concretas do governo de São Paulo. A extensão da mancha de poluição do rio Tietê no Estado caiu 45% nos últimos anos, e 87% do esgoto lançado no rio é tratado. Apesar da crise econômica, temos o maior canteiro de obras de mobilidade da América Latina. Não existe ambiguidad­e no tema das privatizaç­ões, concessões e PPPs, cujo modelo vem sendo aperfeiçoa­do há 20 anos em São Paulo, tampouco da Previdênci­a, que o governo reformou já em 2011. EUZI DOGNANI,

Só falta Bernardo Mello Franco imputar ao presidente Michel Temer responsabi­lidade por efeitos nocivos da lei da gravidade. Tudo o mais sob o sol serve de argumento para depreciá-lo, mesmo que o fato não tenha relação nem com Michel nem com Temer. Depois de lançar, em análise superficia­l, dúvidas sobre a lisura de importante­s decisões da Justiça, viabilizad­as desde 1992, o colunista atribui ao chefe do Executivo poder sobre o Judiciário, algo impensável na democracia (“A caneta salvadora”, “Opinião”, 5/12).

MÁRCIO DE FREITAS,

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Daniel Bueno

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