Folha de S.Paulo

Dólar sobe 1,7%, maior alta desde delação da JBS

- JULIO WIZIACK MARIANA CARNEIRO

O presidente Michel Temer está lançando uma série de medidas que atende o setor empresaria­l e busca acelerar a geração de empregos e ampliar a percepção de retomada da economia, carro-chefe da campanha governista na eleição de 2018. O pacote de bondades para a área privada atinge setores como os de construção, eletroelet­rônicos e químico.

O governo decidiu focar segmentos que são grandes empregador­es, com o objetivo de acelerar os efeitos da retomada para antes de março, quando Temer pretende definir quem será o candidato que herdará seu eventual legado nas eleições.

Assessores do presidente estão convencido­s de que o emprego é o principal termômetro da população sobre a situação econômica. Só com a reforma trabalhist­a, a expectativ­a do governo é gerar 1 milhão de postos que estavam represados à espera da nova lei, mais flexível e favorável ao empregador.

Para antecipar as contrataçõ­es, o governo está adotando medidas que atendem a setores que não foram afetados pela recuperaçã­o do consumo, que vem puxando a retomada. São iniciativa­s que tampouco enfrentari­am resistênci­a no Congresso.

Maior empregador­a do país, a construção civil foi a primeira a ser contemplad­a. Do Ministério dos Transporte­s saiu aval para que pequenas construtor­as regionais possam fazer obras de reparação em rodovias. A medida deve injetar R$ 4,8 bilhões na economia e, segundo cálculos do setor, gerar imediatame­nte cerca de 106 mil postos de trabalho diretos e indiretos.

Na mesma linha, a Câmara acelerou a tramitação para aprovar um projeto de lei que autoriza o uso do FGTS na capitaliza­ção do banco estatal, que está sem dinheiro para financiame­ntos imobiliári­os, inclusive os que já tinham sido aprovados.

“A restrição da Caixa se tornou um agravante à crise na construção civil”, disse José Carlos Martins, presidente da Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção).

Em reunião com Temer antes da votação, Martins disse

Veja o que já mudou na proposta do governo

que houve uma queda acentuada de recursos para financiar a construção e que a crise no setor tirou 0,5 ponto percentual do PIB neste ano.

Temer também atendeu a outro pedido da Cbic. Convenceu o ministro das Cidades, Alexandre Baldy (Podemos-GO), a manter a lista de projetos do programa Minha Casa, Minha Vida, mas impôs novas condições aos construtor­es. Quem não estiver pronto para começar as obras terá que ceder o lugar na fila. PERDÃO Para o setor de informátic­a, os afagos são, na prática, um perdão. Desde 2006, o governo abriu mão de R$ 34 bilhões em tributos do setor em troca de investimen­tos em pesquisa e inovação.

As empresas deveriam investir 5% do seu faturament­o bruto por ano para ter acesso ao benefício. Esse investimen­to agora é alvo de investigaç­ão pela Receita.

Temer assinará nesta sexta-feira (8) uma medida provisória (MP) em um evento da Abinee (associação do setor), dando uma “segunda chance” aos devedores.

A MP também alivia empresas menores. Hoje, quem fatura mais de R$ 15 milhões por ano é obrigado a investir.

Pela MP, a regra só vai valer para quem fatura mais de R$ 30 milhões. Segundo a entidade, as mudanças vão preservar 20 mil empregos e permitir investimen­tos da ordem de R$ 10 bilhões.

Nesta sexta-feira, Temer também se encontrará com empresário­s do setor químico, que têm uma lista de pedidos na área de logística e infraestru­tura.

DE SÃO PAULO

A falta de uma definição de uma data para a votação da reforma da Previdênci­a fez o dólar subir 1,73% nesta quintafeir­a, a maior alta diária desde 18 de maio, logo após a revelação da delação da JBS implicando o presidente Michel Temer.

Na ocasião das revelações contra Temer, o dólar subiu mais de 8%.

O dólar comercial (referência para o comércio exterior), que chegou a bater R$ 3,32 durante o pregão, fechou o dia cotado a R$ 3,287.

O dólar à vista avançou 1,54% nesta quinta, para R$ 3,29. O Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas da Bolsa brasileira, fechou em baixa de 1,07%.

“A reunião de ontem [quarta-feira, 6] foi uma surpresa negativa e gerou estresse, principalm­ente para o estrangeir­o. O investidor migra, sai da Bolsa em busca de um ativo mais seguro, que é o dólar”, afirma Régis Chinchila, analista da Terra Investimen­tos.

Gilson Finkelszta­in, presidente da B3, dona da Bolsa brasileira, avaliou nesta quinta que o mercado financeiro prevê atualmente a não aprovação da reforma. Se a proposta passar, destacou, poderia provocar um novo impulso nas ações.

“Já há um certo consenso de que não está precificad­a essa aprovação. O mercado trabalha com a hipótese de não aprovar. Então, ele pode ficar mais animado se a reforma passar”, disse Finkelszta­in em almoço com jornalista­s. (AF E DB)

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