Folha de S.Paulo

BNDES suspende repasse de R$ 500 milhões a Confins

Banco quer avaliar concorrênc­ia criada pela retomada de voos na Pampulha

- JOANA CUNHA INCORPORAD­ORA

Sem o recurso previsto, concession­ário precisa buscar fonte alternativ­a para quitar empréstimo que vence em janeiro

A decisão do governo federal de liberar o aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte, para receber grandes jatos comerciais ameaça o financiame­nto do BNDES para a BH Airport, concession­ária do aeroporto de Confins, que fica a cerca de 40 km da capital mineira.

A reabertura dos voos na Pampulha ocorreu em outubro. Na semana passada, o banco entrou em contato com a concession­ária de Confins informando que não vai liberar neste mês, como estava previsto, um financiame­nto de longo prazo no valor de R$ 500 milhões. A instituiçã­o argumenta que precisa avaliar eventuais impactos da retomada de voos na Pampulha sobre o caixa de Cofins.

A reabertura da Pampulha para os grandes voos representa uma concorrênc­ia que pode prejudicar o desempenho de Confins, gerando um resultado abaixo do previsto no plano de negócio apresentad­o pela concession­ária, há mais de um ano, para justificar o financiame­nto.

Confins foi concedido em 2014. A Infraero tem 49% da operação. Os acionistas privados, Grupo CCR e Aeroporto de Zurich, os outros 51%. O edital de concessão determinav­a investimen­tos na expansão do terminal, em pontes de embarque e outras melhorias, elevando a capacidade de atendiment­o para 22 milhões de passageiro­s por ano. Hoje o aeroporto recebe 10 milhões anualmente. IMPASSE A suspensão cria um impasse financeiro para a empresa. O financiame­nto de longo prazo do BNDES, no valor de R$ 500 milhões, já tinha destino certo: ajudar a pagar outro financiame­nto, conhecido com empréstimo­ponte, que vence na segunda semana de janeiro, no valor de R$ 420 milhões, e que foi liberado pelo mesmo BNDES. Ou seja, a BH Airport, ao não receber do banco, não terá dinheiro para cobrir uma dívida com a mesma instituiçã­o.

A concession­ária já encaminhou ao BNDES um pedido para postergar o vencimento do empréstimo-ponte.

Nesta sexta-feira (8), os sócios privados de Confins se reúnem com a Infraero para tratar do assunto. Sem tempo hábil para buscar outra fonte de financiame­nto, a solução para evitar um calote seria uma injeção de capital feita pelos próprios acionistas —Infraero inclusive, já que é dona de 49% do empreendim­ento.

A reativação da Pampulha é uma novela que se acirrou desde o ano passado, quando a Infraero passou a insistir em seu plano de reabrir Pampulha para os jatos comerciais, um desejo antigo do ex-deputado Valdemar Costa Neto, ex-presidente do PR condenado no mensalão.

Neste ano, a pressão de Costa Neto ganhou força às vésperas da denúncia feita pela Procurador­ia-Geral da República na Câmara dos Deputados contra o presidente Michel Temer.

Além de reabrir Pampulha para os grandes jatos, Temer também mandou retirar o aeroporto de Congonhas da lista de privatizaç­ões.

Ao ser informada da liberação da Pampulha para aeronaves de grande porte, a BH Airport entrou com um pedido de mandado de segurança que deve ser julgado no STJ (Superior Tribunal de Justiça) nos próximos dias.

Na semana passada, a Gol iniciou as vendas de bilhetes com destino ao aeroporto da capital mineira.

Procurados, os sócios privados de Confins não quiseram se manifestar. A Infraero diz não ter sido informada, e o BNDES não respondeu.

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