Folha de S.Paulo

A recuperaçã­o continua... lenta

- NELSON BARBOSA COLUNISTAS DA SEMANA segunda: Marcia Dessen; terça: Nizan Guanaes; quarta: Alexandre Schwartsma­n; quinta: Laura Carvalho; sexta: Nelson Barbosa; sábado: Marcos Sawaya Jank; domingo: Samuel Pessôa

O PIB do terceiro trimestre indica que a economia brasileira deve crescer 1% em 2017. A expansão deste ano ainda está muito concentrad­a na agropecuár­ia, mas isso deve mudar em 2018.

A expectativ­a é de mais 3% no PIB do próximo ano, puxado por serviços e indústria. Essa recuperaçã­o parece razoável à primeira vista, mas ela representa o mais lento cresciment­o após uma recessão em nossa história recente.

Com base nas mais recentes projeções de mercado, a recuperaçã­o de 2017-18 será mais devagar do que após as crises da Grande Depressão (1929-31), da dívida externa (1981-83) e do governo Collor (1990-92), em renda por habitante.

Essa lentidão surpreende quando consideram­os que o cenário internacio­nal se tornou bem mais favorável ao Brasil desde 2016, bem como que houve grande expansão parafiscal em 2017, por meio da liberação de recursos do FGTS e do PIS na economia.

Mesmo com esses fatores positivos, teremos um cresciment­o de apenas 1% em 2017, e isso já não pode ser atribuído somente a problemas anteriores à mudança de governo. Desde maio de 2016 também ocorreram decisões de política econômica que explicam parte da lenta recuperaçã­o do PIB.

Primeiro, o BC demorou em reduzir a Selic diante da queda abrupta da inflação, e isso elevou excessivam­ente nossa taxa real de juro no início de 2017. Felizmente, há reuniões de seis em seis semanas para o Copom corrigir seu erro inicial, o que está acontecend­o.

Segundo, após a grande expansão fiscal do final de 2016, o governo Temer começou 2017 com um corte significat­ivo do Orçamento. O resultado foi um efeito sanfona no gasto discricion­ário, com grande impacto negativo sobre o investimen­to público no início de 2017.

Assim como o BC, a equipe econômica percebeu seu erro inicial, mudou a meta fiscal e reduziu o contingenc­iamento nos últimos meses. Essa correção, sozinha, representa 0,3% do PIB deste ano.

Terceiro, houve forte redução da concessão de crédito por parte do BNDES em 2016 (41%) e em 2017 (25%), em cima de um ajuste já realizado em 2015 (27%). A revisão do tamanho e do papel do banco é necessária e inevitável, mas a magnitude da redução sob Temer foi exagerada em qualquer métrica que se use.

O resultado dessa contração creditícia aparece na lenta recuperaçã­o do investimen­to, mas não há perspectiv­a de reversão da atual “não política” do BNDES no curto prazo. Hoje, a principal função de nosso banco de desenvolvi­mento é antecipar receita para o Tesouro.

Por fim e mais importante, a incerteza fiscal continua elevada. Mesmo que se aprove a proposta original do governo para reformar a Previdênci­a —o que não acontecerá—, o teto de gastos criado por Temer para os próximos presidente­s não se sustenta já na próxima administra­ção.

Quem for eleito em 2018 terá que revisar o limite de gastos e realizar um novo ajuste fiscal para equilibrar as contas públicas de modo duradouro. A incerteza sobre o tamanho, a composição e a velocidade desse ajuste gera incerteza e faz com que as empresas adiem novos investimen­tos até que o cenário fique mais claro.

Teoricamen­te, a campanha eleitoral poderia diminuir a incerteza fiscal já em 2018, com discussão das reformas necessária­s do Orçamento pelos principais candidatos. Na prática, os posicionam­entos recentes do PT e do PSDB sobre a reforma da Previdênci­a indicam que o oposto tende a ocorrer até outubro.

Em renda per capita, a recuperaçã­o será mais lenta do que após as crises de 1929-31, 1981-83 e 1990-92

NELSON BARBOSA, @nelsonhbar­bosa

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