Folha de S.Paulo

Alckmin derruba verba antienchen­te em SP

Estado deixou R$ 1,4 bi no papel e usou só 38% do previsto com drenagem urbana desde que iniciou novo mandato

- ARTUR RODRIGUES Área com demolição de imóveis para início de obra antienchen­te na Vila Itaim (zona leste de SP) prometida desde 2013; região é alvo de alagamento­s

Com demora em obra prometida, bairro fica dias alagado; governo culpa crise, ausência de repasses e burocracia

O governo Geraldo Alckmin (PSDB) entrará no terceiro verão seguido com gastos muito abaixo do previsto para prevenir as enchentes no Estado de São Paulo.

Desde que iniciou seu novo mandato, em 2015, os valores despendido­s com drenagem urbana somam só 38% do orçado inicialmen­te —R$ 860 milhões, de R$ 2,25 bilhões.

Os gastos se referem à dotação orçamentár­ia voltada para “ampliar a capacidade para evitar enchentes, principalm­ente em áreas metropolit­anas”. As obras planejadas incluem construção de piscinões, sistemas de drenagem e aumento da absorção do rio Tietê (veja quadro).

Em 2017 especifica­mente, a gestão tucana só usou 43% do previsto por enquanto.

O baixo índice de execução na área também ocorre na gestão do prefeito João Doria (PSDB), afilhado político do governador, que gastou 26% do valor orçado para esse fim.

Assim como Doria, Alckmin justifica atrasos em obras devido à falta de repasses, à crise e a questões burocrátic­as.

No fim de novembro, um plano anunciado pelos governos estadual e municipal focava obras com entrega prevista para depois do verão.

A prefeitura prevê chuvas dentro da média histórica nos próximos meses: 256,5 mm em janeiro, 219,2 mm em fevereiro e 177,2 mm em março.

“botando muita fé nesta obra. Há vários anos estão prometendo e até agora não fizeram nada Todo mundo aqui tem um par de galochas

GALOCHAS Uma das obras que ainda não beneficiar­ão a população neste verão é a construção de um pôlder na Vila Itaim, no extremo leste da capital paulista, que custará R$ 98 milhões, incluindo as desapropri­ações necessária­s.

Às margens do rio Tietê, a Vila Itaim é tomada pelas águas todos os anos. O fim do alagamento, em alguns casos, demora vários dias.

O pôlder é uma estrutura hidráulica —composta por muro de contenção, reservatór­io, dutos e bombas— para evitar que o rio transborde.

Em 2013, prefeitura e governo anunciaram um convênio para realização da obra que acabaria com as enchentes na região. No entanto, as obras só serão iniciadas agora, com prazo de 16 meses ou dois verões para acabar.

Na última terça (5), o governo começou a demolir casas na área onde será feito o pôlder, que havia sido invadida.

“Não estamos botando muita fé nesta obra. Há vários anos estão prometendo e até agora não fizeram nada”, afirma a comerciant­e Marli Almeida da Silva, 56.

Há 40 anos no bairro, Marli e a vizinhança já incorporar­am as enchentes ao seu modo de vida. “Todo mundo aqui tem um par de galochas”, diz ela, que todos os anos vê a água invadir sua loja, apesar de a construção ser um metro acima do nível da rua.

Nesta quinta-feira (7), parte da casa de Marli e a rua dela, Aramaçá, alagaram de novo. “Tive que correr tirar o carro da rua”, disse ela.

MARLI ALMEIDA DA SILVA

comerciant­e do bairro Vila Itaim, na zona leste da cidade de São Paulo

A desemprega­da Jane Cristina da Silva, 42, diz que basta uma chuva mediana de 15 minutos para que a água esteja até as canelas de quem anda pela rua. Como esse problema é frequente, os vizinhos já se organizara­m para tentar minimizar os danos.

“O alagamento demora a acabar. Quando acaba, sobra a lama, que as moradoras se juntam na rua para tirar com rodo”, afirma Jane. TIETÊ Uma das principais apostas do Estado é a proposta de criação do Parque Várzeas do Tietê, um parque linear com 75 km de extensão ao longo do rio. A ideia é restabelec­er a função das várzeas para amortecime­nto de cheias.

O governo diz já ter feito canalizaçõ­es de córregos, construído um piscinão e recuperado matas ciliares ao longo do rio. No entanto, segundo levantamen­to da Folha, foram investidos R$ 223 milhões (39%) de R$ 567 milhões previstos de 2015 a 2017

Apesar do investimen­to no programa, a reportagem verificou que regiões próximas ao Tietê continuam sendo ocupadas por casas construída­s de maneira irregular, multiplica­ndo a quantidade de potenciais afetados por enchentes. 2015 2016 Por ação (total dos últimos 3 anos) Criação do parque Várzeas do Tietê Construção de piscinões Implantaçã­o de sistemas de drenagem 2017**

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Fotos Danilo Verpa/Folhapress
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Marli da Silva, 56, com seu par de galochas na Vila Itaim

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