PF realiza nova operação na Federal de
DE SÃO PAULO
A Justiça Federal decretou a prisão preventiva do cientista Marcelo Rodrigues de Carvalho, ex-professor da USP, acusado de desviar cerca de R$ 930 mil do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências.
Carvalho, que também teve bens bloqueados pela Justiça, teria desviado verbas de um programa de pós-graduação que coordenava, mediante a apresentação de notas fiscais simuladas.
O caso foi revelado pela Folha em maio. Começou a ser investigado quando um grupo de professores desconfiou da informação de que não havia verba disponível para determinado projeto.
O departamento fez, então, um inventário dos produtos que teriam sido adquiridos por Carvalho e constatou uma série de impropriedades.
Muitos produtos nunca foram localizados nos laboratórios. Outros estavam em quantidades bem inferiores aos indicados nos registros.
O total de corante descrito nas notas, por exemplo, seria suficiente para colorir aproximadamente 23,5 milhões de peixes com vermelho alizarina e outros 44 mil com azul alcian.
Na lista de compras havia, inclusive, insumos que nem são utilizados pelo Departamento de Zoologia da USP.
Após a abertura da investigação administrativa, no final de 2006, o professor pediu exoneração do seu cargo na universidade e foi morar nos Estados Unidos.
A Justiça ordenou a inclusão do seu nome na lista de procurados da Interpol, que deverá emitir a notícia para todos os 188 países membros da organização internacional. Caso seja preso no exterior, o Brasil terá de formalizar pedido de extradição. APROVADAS A Folha não conseguiu localizar o professor para ouvir sua versão dos fatos.
Em carta que enviou a colegas, em 2015, o cientista disse que todos os gastos foram feitos segundo as instruções da Capes (órgão do Ministério da Educação que fomenta e regula a pós-graduação) e que nunca teve um único problema com a prestação de contas.
“Além disso, despesas usualmente foram aprovadas por pelo menos dois professores de pós-graduação”, afirmou no documento.
Disse ainda que efetivou as compras solicitadas “por orientadores e seus alunos (...) desde que sua utilização trouxesse claro benefício ao programa, à formação de nossos alunos e à facilitação
MARCELO RODRIGUES DE CARVALHO
ex-professor da USP, em carta de 2015 para justificar gastos na pós
SÉRGIO DOS SANTOS
da Bellatrix, suspeita em esquema da pesquisa futura”.
O Ministério Público Federal passou a investigar o caso em parceria com a Secretaria da Fazenda depois da conclusão da auditoria.
Um servidor da universidade (Eduardo Netto Kishimoto) e dois empresários (Marcos Simplício, da Tec Science, e Sérgio dos Santos, da Bellatrix), de acordo com a acusação, teriam auxiliado o cientista nas fraudes.
Na ação por improbidade administrativa, a procuradora da República Anamara Osório Silva descreve e-mails nos quais o professor autoriza o servidor a pagar 30% do valor da nota fiscal fria à empresa Tec Science. “Pode mandar fazer, 30% sai 1.800. [É] caro, mas é o jeito.”
Em outra mensagem, faz orientações sobre a elaboração de um atestado de compra. “Quanto à nota, pode ser álcool, vidraria, formol, que serve. Quando eles conseguem entregar essa nota?”.
E conclui: “E aí, como faço, pego o dinheiro contigo?”
A reportagem procurou o servidor em seu departamento na USP, mas foi informada que ele está em férias. Kishimoto não atendeu às ligações feitas para o seu celular.
Marcos Simplício, da Tec Science, disse à reportagem que tem todo interesse em esclarecer o assunto, mas que faria sua defesa apenas depois de tomar conhecimento oficial das acusações que lhe são imputadas.
Sérgio dos Santos, da empresa Bellatrix, afirmou que as compras foram todas regulares e que nunca emitiu nota fria para a universidade. “Tudo que está descrito nas notas foi exatamente entregue à universidade”, disse.
“Mas não tenho como saber o que foi feito da mercadoria. Se o professor extraviou, perdeu ou vendeu, não tenho como saber.” FOLHA,
A Polícia Federal desencadeou nesta quinta (7) operação que apura suposta “aplicação irregular de verbas públicas federais destinadas a projetos de pesquisa desenvolvidas por fundações de apoio da UFSC”, a Universidade Federal de Santa Catarina.
A investigação não tem relação com a Operação Ouvidos Moucos. Deflagrada em setembro, esta ação levou o então reitor da UFSC, Luiz Cancellier, para a prisão por um dia. Após solto, ele cometeu suicídio em um shopping no centro de Florianópolis.
As investigações dessa nova operação apontam supostas irregularidades que aconteceram desde ao menos 1996, durante as gestões de seis reitores, entre elas a de Cancellier, que havia assumido a reitoria em 2016. A Polícia Federal também informou que os contratos agora investigados somam R$ 500 milhões.
Nesta quinta, policiais federais, servidores do TCU e da CGU cumpriram 14 mandados de busca e apreensão e seis mandados de condução coercitiva em Florianópolis e Balneário Camboriú (SC). As ordens judiciais foram expedidas pela 1ª Vara Federal.
“Os fatos relacionados nesta operação se davam em projetos muito antigos que apresentavam uma série de irregularidades. Direcionamos as investigações para os coordenadores destes projetos e percebemos que eles continuavam a atuar da mesma forma irregular”, disse o delegado
“foram aprovadas por pelo menos dois professores de pós-graduação Tudo que está nas notas foi entregue. Se o professor extraviou, perdeu ou vendeu, não tenho como saber
E RUBENS VALENTE)