Folha de S.Paulo

Promotoria indica rota de propina a Marin

Documentos apresentad­os nos EUA explicam como o ex-presidente da CBF recebeu US$ 1,5 milhão em paraíso fiscal

- JAMES CIMINO

“Era R$ 500 mil pro Ricardo [Teixeira], R$ 500 mil pro Marco Polo [Del Nero] e R$ 500 mil pro [José Maria] Marin

Defesa de José Maria Marin afirma que só vai se pronunciar após a conclusão do julgamento nos EUA

Prestes a encerrar a fase de apresentaç­ão de provas, a promotoria dos Estados Unidos que acusa cartolas do futebol de receberem propinas demonstrou, nesta quintafeir­a (7), com extratos bancários e comprovant­es de transferên­cias eletrônica­s que o ex-presidente da CBF José Maria Marin recebeu US$ 1,5 milhão de um empresa aberta em paraíso fiscal.

Segundo a acusação, o brasileiro recebeu o montante em troca de favores quando dirigia a confederaç­ão.

A acusação mostrou também gastos de US$ 118 mil que o cartola fez comprando roupas de grife com o dinheiro depositado nas contas usadas para a suposta propina.

O promotor Samuel Nitze mostrou que o ex-dirigente gastou no cartão de débito US$ 20.977,15 na loja da Hermes em Paris; US$ 50 mil na Bulgari de Las Vegas; cerca de US$ 10.070,94 na Chanel de Nova York e mais US$ 34.295 na Hermes de Nova York, entre outros gastos em outras lojas de grife.

Este dinheiro teria sido pa- go a Marin em troca da concessão dos direitos de transmissã­o das Copas América e Libertador­es da América.

Para receber a quantia, ele usava uma conta do banco Morgan Stanley, em Miami, e uma empresa fantasma chamada Firelli Internacio­nal.

A exposição do promotor foi parte de um dia todo dedicado a expor a um júri leigo os detalhes do esquema de lavagem de dinheiro que também envolve vários outros dirigentes da Conmebol (Confederaç­ão Sul-americana de Futebol).

Primeiro, Nitze apresentou como testemunha um consultor do IRS (Receita Federal Americana) Richard Adams.

Especialis­ta em lavagem de dinheiro, ele explicou que o esquema funciona de forma a demonstrar que empresas deste tipo operam como se fossem empresas comuns, com despesas de viagens, pagamentos de bônus, comissões, telefonia, etc.

Em seguida, ele demonstrou que ao receber estes pagamentos de propina, eles precisam ser “lavados” sendo transferid­os para outras contas, em geral localizada­s em paraísos fiscais e, em determinad­os casos, abre-se até mesmo outras empresas fantasma para esses fins.

No caso de José Maria Marin, o caminho dinheiro foi o seguinte: a FPT, uma off shore da Torneos y Competenci­as, empresa argentina que comprava os direitos de transmissã­o dos jogos da Libertador­es

J. HAWILLA

em gravação revelada pelo próprio empresário brasileiro à corte americana

JOSÉ MARIA MARIN

em gravação feita por Hawilla e da Copa América, fez três depósitos: dois de US$ 900 mil referentes aos direitos da Libertador­es e um de US$ 3 milhões, referentes à Copa América. EMPRESA DE TURISMO O IRS Steven Berryman, que foi um dos que iniciaram as investigaç­ões sobre os esquemas da Fifa e que também depôs nesta quinta, explicou que os depósitos foram feitos na conta da Expertise Travel, de propriedad­e do empresário do turismo Wagner Abrahão em parceria com o dono da Traffic, do brasileiro J. Hawilla. Esta empresa, segundo depoimento de Hawilla dado no começo da semana, foi criada unicamente com este fim.

Para poder movimentar o dinheiro, Marin e sua mulher, Neuza, abriram uma empresa fantasma, a Firelli, localizada nas Ilhas Virgens Britânicas, outro paraíso fiscal.

No mesmo ano, o casal abriu uma conta no banco Morgan Stanley de Miami, onde a Expertise fez três depósitos de US$ 500 mil.

A conexão com Wagner Abrahão ficou mais evidente ainda depois de a promotoria mostrar uma série de gravações feitas pelo empresário J. Hawilla, já como parte de um acordo de delação, em que Marin dizia o seguinte: “Eu enfrentei a Fifa sozinho para defender o Wagner!”.

A defesa de José Maria Marin afirma que só se pronunciar­á após a conclusão do julgamento nos EUA. O empresário Wagner Abrahão não foi encontrado pela Folha até o fechamento desta edição.

Marin é acusado de receber propina na venda de direitos comerciais da Copa América, Libertador­es e da Copa do Brasil. Preso em 2015 na Suíça, ele foi presidente da CBF entre 2012 e 2015.

Ele foi indiciado por conspiraçã­o para extorsão, conspiraçã­o para fraude financeira e conspiraçã­o para lavagem de dinheiro.

Eu enfrentei a Fifa sozinho para defender o Wagner [Abrahão, empresário de turismo que teria uma empresa em sociedade com Hawilla]!

 ?? Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress - 6.nov.2017 ?? O ex-presidente da CBF José Maria Marin deixa o Tribunal Federal do Brooklyn nos EUA
Vanessa Carvalho/Brazil Photo Press/Folhapress - 6.nov.2017 O ex-presidente da CBF José Maria Marin deixa o Tribunal Federal do Brooklyn nos EUA

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