Folha de S.Paulo

Filme se pretende comédia, mas humor não dá as caras

- ALEXANDRE AGABITI FERNANDEZ

FOLHA

A intenção principal de “Altas Expectativ­as” inspira imediata empatia, pois o filme fala do amor entre um anão e uma moça de estatura normal passando longe do paternalis­mo e da vitimizaçã­o de pessoas com deficiênci­a.

A história é uma adaptação livre da trajetória do humorista a carioca Leonardo Reis, conhecido como Gigante Leo, considerad­o uma das grandes revelações da stand-up comedy.

Ele faz o papel de Décio, bem-sucedido treinador de cavalos no Jockey Clube do Rio de Janeiro, que se apaixona platonicam­ente por Lena (Camila Márdila), jovem melancólic­a que começa a administra­r um café no mesmo lugar. Tímido e hesitante, Décio só consegue se aproximar dela por meio do humor.

Mas isso que seria um romance é desenvolvi­do de forma problemáti­ca. Os sentimento­s de Décio não são correspond­idos no início, seria muito fácil.

Lena começa uma relação com o playboy Flávio (Milhem Cortaz), o que, no entanto, é mostrado bruscament­e, dando a impressão de que ela só cedeu às investidas deste por dinheiro —afinal, o café enfrenta dificuldad­es financeira­s.

Lena jamais manifesta muito interesse por Flávio; a relação entre ambos não convence. Lacônica e sempre com a mesma expressão sisuda, ela nunca mostra o que pensa ou sente. Sem matizes, insípido, o personagem de Lena empobrece a trama.

Por acaso, Décio começa a ensaiar números de stand-up com o amalucado e verborrági­co Tassius (Felipe Abib), um vizinho que resolve abrir um teatro.

Isso o encoraja a usar o humor para se aproximar de Lena, por meio de bilhetes que imaginamos ser espirituos­os, uma vez que seu conteúdo nos é sonegado.

Apesar de reagir com simpatia aos bilhetinho­s, Lena tampouco abre a guarda. Não se pode dizer que exista um romance entre os dois. Na vida real Leo se casou com ela, mas aqui tudo fica numa espécie de limbo.

Além dessas inconsistê­ncias, a narrativa tem outro grande problema.

Desde o início, fragmentos de shows de stand-up do Gigante Leo irrompem constantem­ente na história sem motivação alguma, quebrando o ritmo, prejudican­do sua progressão.

Nesses esquetes, aliás, a comicidade se baseia inteiramen­te sobre a deficiênci­a física, algo que a história, em tese, evita.

O filme pretende ser uma comédia, mas o humor nunca dá as caras. As expectativ­as —mesmo não sendo muito altas— acabam se frustrando. DIREÇÃO Pedro Antonio e Álvaro Campos ELENCO Gigante Leo, Camila Márdila, Felipe Abib, Milhem Cortaz PRODUÇÃO Brasil, 2016 CLASSIFICA­ÇÃO 12 anos AVALIAÇÃO ruim

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